Transcrevemos, a propósito de
Alan Turing, o
post hoje publicado por Eduardo Pitta no blogue "Da Literatura":
O PERDÃO REAL
Isabel II concedeu ontem um perdão póstumo
ao matemático Alan Turing (1912-1954), o homem que decifrou o código
nazi Enigma. Considerado o pai da informática, Turing era homossexual e
foi publicamente denunciado em Agosto de 1952 de manter relações ilícitas
com Arnold Murray, então com 19 anos. A sua casa foi devassada pela
polícia e o governo afastou-o do trabalho de criptoanálise que
desenvolvia desde 1936. Processado, internado à força num hospital
psiquiátrico, submetido a castração química, suicidou-se dias antes de
completar 42 anos, mordendo uma maçã com cianeto. (Está a ver a maçã da
Apple? Não serve de logotipo por acaso.) Ontem, o Reino Unido da Grã
Bretanha e da Irlanda do Norte emendou a mão, reabilitando a memória do
homem que, ao inventar “a Máquina” em 1940, deu um contributo decisivo
para a vitória dos Aliados sobre o III Reich.
A campanha de reabilitação de Turing começou em 2009, por iniciativa de
Gordon Brown, então primeiro-ministro de Sua Majestade, que apresentou à
Nação um pedido público de desculpas aos herdeiros do cientista:
«[...] Turing was a quite
brilliant mathematician, most famous for his work on breaking the German
Enigma codes. It is no exaggeration to say that, without his outstanding contribution, the history of World War Two could well have been very different.
He truly was one of those individuals we can point to whose unique
contribution helped to turn the tide of war. The debt of gratitude he is
owed makes it all the more horrifying, therefore, that he was treated
so inhumanely. In 1952, he was convicted of ‘gross indecency’ —
in effect, tried for being gay. His sentence — and he was faced with
the miserable choice of this or prison — was chemical castration by a
series of injections of female hormones. He took his own life just two
years later. [...] So
on behalf of the British government, and all those who live freely
thanks to Alan’s work I am very proud to say: we’re sorry, you deserved
so much better.» — 2009.
Martin Rees, astrónomo real desde 1995, defendeu esta semana na Câmara
dos Lordes que o perdão devia ser extensivo a todos os que «têm antecedentes penais pela mesma razão.»
Antes tarde que nunca.
Não compreendo que Isabel II possa conceder um perdão póstumo a Alan Turing. A Inglaterra é que deveria pedir perdão ao mundo por todos os crimes infames cometidos ao longo da sua história.
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