quinta-feira, 21 de novembro de 2013
ESCRITORES E LIVROS
Foi publicada há poucas semanas a edição portuguesa (infelizmente em português acordês) do livro Alfabeti - Saggi di letteratura (2008), com o título Alfabetos, do escritor italiano Claudio Magris.
Trata-se de uma volumosa obra (mais de 400 páginas) onde o autor procede a uma viagem por entre os livros e quem os escreve.
Reproduz-se um resumo da apresentação original: « "Alfabeti" è un viaggio tra i libri e nella letteratura - uno dei mille possibili viaggi. Il percorso inizia dalle letture d'infanzia e d'adolescenza. Ci sono i libri che ci hanno formato, che ci hanno ferito e insieme hanno saputo curare la ferita. I libri che permettono di conoscere e ordinare il mondo e quelli che ne svelano il caos travolgente e distruttore, l'incanto e insieme l'orrore. I libri che fanno balenare la salvezza e quelli che si affacciano sul nulla. Soprattutto quelli che allargano i confini della letteratura e rimandano al di là di essa. "Alfabeti" parla soprattutto di libri che s'intrecciano e si scontrano con la vita e con la storia per tornare poi alla vita, plasmando gli sguardi, le idee, i sogni e le esistenze quotidiane dei loro lettori. Libri che trascendono anche la propria perfezione estetica per dire il dolore come la bellezza, l'amore come l'abiezione.».
Claudio Magris, o grande escritor natural de Trieste, cidade célebre da Mitteleuropa, criador desse magnífico fresco (apetecia-me chamar-lhe roman-fleuve) que é Danubio, aborda em Alfabetos algumas dezenas de obras e respectivos autores, sobre a(o)s quais tece considerações de natureza literária, obviamente, mas também política, social, estética, ética e mesmo de carácter pessoal.
O universo do seu livro é o mundo, mas a Europa tem um lugar especial, e muito particularmente a Europa Central, que foi o Santo Império antes de se tornar (ainda como Santo Império) o Império dos Habsburgos, abalado pelas invasões napoleónicas e que cairia definitivamente no fim da Segunda Guerra Mundial.
O livro agora editado é uma colectânea de artigos de Magris publicados nos últimos anos em vários jornais e revistas, na maior parte no Corriere della Sera. Há também um texto mais extenso, o ensaio intitulado "Praga ao quadrado", que é de particular interesse pelo relevo da cidade que foi uma das capitais do Império (Rodolfo II viveu lá) e que é uma referência da Mitteleuropa e da pluriculturalidade. Leia-se, a propósito, Praga magica, de Angelo Ripellino
As considerações sobre os escritores do Leste europeu e suas obras são-nos mais alheias, pois ainda é menor a nossa familiaridade com essas culturas, mas Alfabetos abrange um vasto horizonte temporal e convida-nos a uma reflexão sobre os protagonistas da aventura humana que consubstanciaram na literatura a sua visão do mundo.
Claudio Magris, um combatente contra as ditaduras, de qualquer sinal, não tem ilusões sobre o rumo da nossa civilização. Lembrando o "socialismo de rosto humano", proclamado pela Primavera de Praga, e recordando as cruzadas anti-comunistas que proliferaram e ainda hoje se manifestam pelo mundo, o escritor propõe um "anti-comunismo de rosto humano", perante a barbárie em que soçobra o Ocidente.
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