quarta-feira, 6 de novembro de 2013

E SE HITLER VOLTASSE?




Aquando da publicação na Alemanha de Er Ist Wieder Da, do jornalista Timur Vermes, fiz referência neste blogue ao sucesso de vendas que o livro registava. Um ano depois, ele está traduzido em 35 línguas, incluindo a portuguesa, cuja edição acaba de ser dada à estampa, com o título Ele está de volta.

Escrita num registo humorístico (de humor negro), a obra de Vermes provoca-nos por vezes hilariantes gargalhadas, mas para lá da sátira à sociedade contemporânea (e inerentes alienações), o autor regista as suas profundas preocupações quanto ao êxito que o "renascido" Hitler teria na Alemanha actual, que parece encontrar-se de braços abertos à espera de acolher um novo Führer.

Revelando-se inesperadamente um best-seller, o livro já vendeu na Alemanha mais de um milhão de exemplares. E compreende-se. Por um lado, os saudosos do III Reich encontram nele a esperança de que surja alguém que possa tomar conta dos destinos da Alemanha (e da Europa) nesta época de desânimo e desorientação que se vive no Velho Continente (e no mundo). Os convictos opositores do regime nazi vêem nele a confirmação de que existe o perigo da história se repetir, não necessariamente como farsa, atendendo à desilusão provocada pelo comportamento das actuais democracias neo-liberais. Todos, afinal, sentem que paira uma ameaça difusa sobre o futuro, sobre a liberdade, sobre os povos.

A ascensão de partidos de extrema-direita por toda a Europa revela um clima de mal-estar que só se compreende pela ineficácia e corrupção dos regimes democráticos. O dinheiro tomou conta da vida pública e o fosso entre classes e entre gerações alarga-se de dia para dia. A crise dos regimes democráticos tornou-se endémica e é alimentada por todos aqueles que, dentro e fora do sistema, contribuem com o seu esforço para desacreditar a democracia ao mesmo tempo que fingem servi-la.

A União Europeia, que constituiu para muita gente uma esperança e um meio de evitar guerras na Europa, é hoje olhada com a maior desconfiança. A fractura entre países do norte e países do sul é a própria negação do ideal comunitário que presidiu à sua criação.

Por isso, este livro de Timur Vermes merece ser lido com atenção, nas linhas e nas entrelinhas, e meditado. É um aviso à navegação. Se não se tomarem hoje medidas eficazes para enfrentar a malaise existente, amanhã será tarde.

2 comentários:

Anónimo disse...

mal estar ? ora essa, mal estar dá-me esta democracia !mas afinal quem nos governa ? não é a tal de democracia ?

Anónimo disse...

Um livro de leitura imprescindível!!!