sexta-feira, 7 de junho de 2013

KEMAL ATATÜRK




Mustafa Kemal Pasha, que ficou conhecido na História como Kemal Atatürk (pai dos turcos), nasceu em Salónica, em 19 de Maio de 1881, e morreu em Istanbul, no Palácio Dolmabahçe, em 10 de Novembro de 1938, às 9.05, hora a que ficaram desde então parados todos os relógios da sumptuosa mansão, uma construção esteticamente híbrida sobre o Bósforo, mandada construir por Abdülmecid I, e que pretendia evocar, de alguma forma, o Palácio de Versalhes.

Homem de vasta cultura, insigne estadista, militar de excepcionais virtudes, devem-se-lhe diversas vitórias nas guerras que travou e deve-lhe, também, a Turquia manter o seu actual território, quando após a derrota do Império Otomano no fim da Primeira Guerra Mundial, as potências vencedoras da Tríplice Entente procuraram desmembrar a maior parte do país. Recusando aceitar as disposições do Tratado de Sèvres (1922), acabou por obter o reconhecimento desejado no Tratado de Lausanne (1923), conservando a nova Turquia uma parte pequena na Europa e a totalidade da Anatólia, além de alguns acréscimos, perdido que estava definitivamente o Médio Oriente, já prévia e secretamente partilhado entre a Inglaterra e a França pelos Acordos de Sykes/Picot (1917).

Atatürk foi também um homem dotado de especial sensibilidade no que às artes e às letras respeita, cuidando com especial afecto dos seus 13 filhos adoptivos, já que do seu efémero casamento com Latife Usakizâde não houve descendência.

Não cabe, obviamente, neste post, a riquíssima biografia de Kemal Atatürk, que pode ser consultada nos livros da especialidade ou mais simplesmente no site da Wikipedia.

Deve todavia referir-se que Atatürk se esforçou por modernizar o país, introduzindo profundas reformas, desde o estabelecimento de um Estado laico (com a abolição do Califado em 1924) à introdução, ciclópica tarefa, do alfabeto latino na língua turca, em substituição dos caracteres árabes até então utilizados, como ainda hoje se verifica no Irão.

Em 29 de Outubro de 1923 foi proclamada a República da Turquia, com Atatürk como presidente, posto que ocupou até à morte. O Sultanato fora abolido em 1922 e em 13 de Outubro de 1923, dias antes da independência do novo Estado, a capital fora transferida da histórica Istanbul para a cidade de Ankara, no centro do país.

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No momento em que se registam graves confrontos na Turquia, iniciados com o protesto contra a destruição do Parque Gezi (o equivalente ao nosso Parque Eduardo VII), em Taksim, um projecto do actual primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan que levará, se for por diante, à eliminação da única zona verde do centro europeu moderno de Istanbul.

Reprimido com inusitada violência, este protesto inicialmente pacífico degenerou em graves incidentes com a polícia, de que resultaram mais de 1.000 feridos, além de alguns mortos, tendo alastrado de Istanbul a Ankara, a Izmir e mais cerca de 40 cidades. O próprio presidente da República, Abdullah Gül interveio para acalmar os ânimos, lembrando que a maioria de que o Governo dispõe na Assembleia não lhe permite ignorar a existência de posições distintas, mas Erdogan, regressado de uma visita aos países do Maghreb, reiterou a sua intenção ditatorial de manter as decisões iniciais.

Eleito como um islamista moderado, Erdogan tem-se progressivamente afirmado como um defensor da aplicação dos princípios mais restritos da lei islâmica, desde a proibição da venda de bebidas alcoólicas em muitas zonas do país à interdição de manifestações públicas de afectos. Assim, os protestos contra a destruição do Parque Gezi tornaram-se numa contestação frontal da política de islamização de Erdogan, não obstante este dispor de 50% dos lugares na Assembleia Nacional.

 As ambições de Erdogan tornam-se dia a dia mais evidentes. O primeiro-ministro pretende alterar a Constituição e criar uma república presidencialista, em que, candidato nas próximas eleições, acumularia a chefia do Estado com a chefia do Governo. Por isso, a contestação a Erdogan não é só nas ruas, ou nas redes sociais, que ele proclama inimigas da democracia, mas dentro do próprio partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), inquieto com a deriva autoritária do seu chefe.

Esperamos, e desejamos, que as pretensões de Erdogan, não passarão!

2 comentários:

Anónimo disse...

Foi Ataturk um homem de larga visão. A sua herança na Turquia não poderá ser prostituída por arrivistas de qualquer quadrante. A religião muçulmana é uma coisa. A islamização do Estado é outra. Começa a tornar-se evidente que o islão, o islão político, não é compatível com a democracia, mesmo se a democracia que temos no Ocidente enferma de males endémicos.

Pedro V F Madureira disse...

não pode vir mais a propósito este texto sobre Ataturk.
Se a Turquia é hoje o que é (mesmo ao nível territorial) a ele o deve.
Incrivel que o Sr. Erdogan (apesar das cerca de 8.000 estatuas que e monumentos a Ataturk que ainda hoje existem na Turquia) se esqueça dos seus ensinamentos e da sua extraordinária visão politica.
Esperemos contudo que o que hoje ainda resta do exército turco (e que não está na cadeia), venha a dar, a curto prazo, as devidas lições ao Sr.Erdogan...
Inch Allah !