segunda-feira, 24 de junho de 2013

RICHARD FRANCIS BURTON




Num livro recente, o escrito búlgaro Ilija Trojanow (n. 1965) descreve, entre a realidade e a ficção, a vida de Sir Richard Francis Burton (1821-1890), geógrafo, explorador, tradutor, escritor, soldado, orientalista, espião, diplomata, linguista, etnologista e senhor de muitas outras qualificações que dele fizeram, mais do que tudo, um dos grandes aventureiros ingleses do século XIX.

A obra de Trojanow percorre a estada de Burton no antigo Império britânico das Índias, a sua passagem pela Arábia, onde se atreveu a ir a Meca (aliás ter-se-á convertido ao islão), a sua passagem pela África Oriental, nomeadamente Zanzibar e depois às alturas dos lagos Tanganica e Niassa e, por fim, a sua nomeação como cônsul em Fernando Pó, Santos, Damasco e Trieste, onde viria a morrer.  

Como escreve Trojanow, este "conto" segue, por vezes, quase ao pormenor, a sua biografia, e mesmo os textos publicados por Burton, mas o essencial do romance é fruto da imaginação do autor, tanto quanto nos informa no início do livro.

Para conhecimento da extensa biografia de Burton, nada como consultar o artigo que a Wikipedia lhe dedica, até porque a obra de Trojanow, uma narrativa não linear, e por vezes complexa, se perde em pormenores apenas interessantes para especialistas, traduzindo-se em mais de 500 páginas, algumas de inegável interesse para o estudo da personagem, da época, dos costumes de regiões ainda consideradas exóticas, numa época em que a Grã-Bretanha aspirava ao domínio do mundo.

Não deve omitir-se um aspecto que torna, de alguma forma, a leitura incómoda: é o livro acompanhado, no fim, de um Glossário, certamente indispensável para os menos familiarizados com expressões das regiões exploradas por Burton, mas que implica uma revisitação sistemática das últimas páginas. Suponho que as mesmas indicações, em nota de rodapé, facilitariam a leitura.


Deve-se a Burton, que falaria 29 línguas, europeias, asiáticas e africanas, a tradução não expurgada de As Mil e Uma Noites, a partir da primeira versão, francesa, de Antoine Galland, e a publicação, em inglês, do Kama Sutra. O livro de Trojanow omite um dos aspectos essenciais da vida e dos escritos de Burton;: o seu interesse pelo sexo e a sexualidade. É dado como adquirido, e é o único aspecto referido no livro, as visitas do oficial Burton aos inúmeros bordéis de rapazes (coisa naturalíssima para a época) existentes na Índia, com o pretexto de verificar se os mesmos eram assiduamente frequentados pelos soldados de Sua Majestade Britânica. O volume 10 da sua edição de As Mil e Uma Noites, intitulado Terminal Essay, consagra um ensaio intitulado "Pederasty", onde Burton sustenta que a homossexualidade masculina era largamente praticada na Índia, na Arábia e em África.

Todavia, o aspecto científico da sua obra, reconhecido pela Royal Geographical Society, permitiu-lhe não só escapar aos rigores da implacável censura "moral" vitoriana como ser mesmo nobilitado pela rainha.

Celibatário por natureza, Burton acabou por efectuar um casamento de conveniência, mas viveu quase sempre longe da esposa, não tendo deixado descendência.

Para os interessados propriamente na vida de Sir Richard, existem várias biografias, entre as quais as de Edward Rice e de Byron Farwell.

1 comentário:

Zephyrus disse...

Por falta de tempo nunca tive oportunidade de me dedicar à sua obra, coisa que tenciono fazer assim que haja disponibilidade. Preciso de o fazer até por motivos profissionais.

Recordo apenas um artigo que li há uns anos, sobre os estudos que Burton dedicou à homossexualidade. O grande autor terá tentado identificar as regiões do mundo onde a prática seria comum e faria até parte da cultura desses povos. Concluiu que entre essas regiões estava todo o Sul da Europa, mas também o Novo Mundo, o Norte de África, Índia e Médio Oriente, etc.
Posteriormente, no século XX, estudos antropológicos levados a cabo em diversos tribos corroboraram a ampla distribuição deste comportamento.

Fica a sensação que a discriminação e a condenação poderá vir da introdução das três grandes religiões do Livro e da acção de sectores mais fundamentalistas destas religiões.

Contudo o tema é mais profundo e o estudo das lendas maçónicas e a interpretação esotérica da Bíblia de acordo com a tradição maçónica e de acordo com a cabala judaica, sem esquecer os Mistéros gregos, tudo isto, dizia eu, tem as respostas. Como se sabe, há o caso dos Templários, o que demonstra a dualidade das religiões, seitas e escolas mistéricas perante este comportamento humano.