quinta-feira, 20 de junho de 2013

A ANTIGA CAPARICA EM VERSÃO GAULESA




L'inconnu du lac, filme escrito e realizado por Alain Guiraudie, foi apresentado em 17 de Maio de 2013, no Festival de Cannes, e obteve a "Queer Palm" e o prémio de mise em scène para o realizador.

Tudo se passa entre homens, numa praia, rodeada de arbustos, que evoca perfeitamente os locais de engate em tempos idos, na Costa da Caparica, que foi, durante décadas, um símbolo internacional no género.

Tendo-se estreado a semana passada nos cinemas franceses, ainda não tive ocasião de vê-lo, nem está até o momento, disponível em dvd.


Para os leitores mais curiosos e interessados, passo a transcrever a notícia abrangente da Wikipedia, que o tempo me não permite de traduzir:

Durant l'été, au bord d'un magnifique lac ceinturé de collines et de forêts et loin, à ce qu'il semble, de toute habitation, se font bronzer des naturistes en majorité homosexuels masculins. Les sous-bois abritent des rencontres sexuelles furtives, dans un climat de promiscuité dénué de romantisme. Chaque jour, Franck pose sa serviette sur la plage de cailloux blancs. Là, il fait la connaissance d'Henri (que sa femme vient de quitter) et de Michel, plutôt bel homme qui lui plaît au premier regard. Mais Michel est un assassin et Franck le constate très vite puisqu'il le voit, un soir, depuis le sous-bois qui domine le lac, noyer son partenaire du moment. Bouleversé et effrayé mais toujours complètement sous le charme du meurtrier, Franck garde pour lui ce qu'il a vu, se rendant complice de celui qu'il désire. Il cède bientôt à ses avances et en devient passionnément épris, tout en devant cacher sa peur, afin que son amant ne devine pas qu'il sait.

Le noyé est découvert et identifié deux jours plus tard. Sa mort jugée suspecte amène sur les lieux un inspecteur de police qui, très vite, interroge le couple Franck-Michel ; les familiers du lieu trouvent généralement Michel bizarre et l'inspecteur doit le savoir ; mais Franck continue de protéger Michel en affirmant n'avoir rien remarqué d'anormal le soir de la noyade…

Tandis que l'inspecteur poursuit son enquête, et que la relation amoureuse, que Franck s'obstine à maintenir avec son amant psychopathe, piétine puisque ce dernier la limite catégoriquement aux après-midi passés au bord du lac, Henri, avec qui Franck a noué une amitié jusque là purement platonique, et qui a une compréhension au moins intuitive de tout ce qui s'est passé les jours précédents, le met nettement en garde contre Michel (« À ta place, j'aurais peur ! »). Franck, certainement, a peur mais son amant psychopathe arrivant sur ces entrefaites, il quitte Henri pour Michel et s'installe avec lui sur la plage un peu plus loin.


Profitant de ce que Franck est parti nager assez loin dans le lac, Henri va trouver Michel et lui dit sa conviction que la récente noyade n'est pas accidentelle, que l'inspecteur est lui aussi convaincu du meurtre et de connaître le meurtrier et que la nasse se referme lentement mais sûrement autour du criminel. Il regarde Michel d'un air entendu et goguenard, puis se lève et déclare qu'il va faire un tour dans les sous-bois. Y pénétrant, il jette un regard en arrière…

Franck qui est toujours à nager dans le lac, se retourne soudain vers la rive : Michel a disparu. Et Henri aussi : la plage est déserte. Saisi d'un mauvais pressentiment, Franck se précipite…

Dans le sous-bois, au pied d'un bosquet buissonneux, il trouve Henri mourant et tout baigné de sang : Michel l'a égorgé. Franck enlève son tee-shirt et essaie de stopper l'hémorragie mais Henri lui fait comprendre que c'est fini et qu'il l'a « bien cherché ». Henri mort, Franck, terrifié, s'enfuit en courant et se dissimule dans le bois. Le meurtrier le poursuit et tombe à l'improviste sur l'inspecteur : il l'abat d'un coup de couteau dans le ventre.

La nuit est venue. Franck, tapi derrière un buisson, voit le tueur en série passer et repasser à quelques mètres de sa cache, alors qu'il continue à le chercher activement en lui criant de se montrer, qu'il a besoin de lui, de son amour, qu'il veut passer la nuit avec lui, etc. Enfin, l'autre s'éloigne et va chercher plus loin : le danger semble passé. Alors, incompréhensiblement (pour quelqu'un qui n'est pas dans son délire), Franck se redresse et signale sa présence à son amant meurtrier en l'appelant par son prénom. Et il attend dans le noir, la peur au ventre et le cœur battant : c'est le plan final.


Merecedor dos maiores encómios e também de algumas críticas, cabe ao espectador formar a sua opinião depois de ver o filme.

Acresce, por dever de justiça, salientar que a Costa da Caparica não era commumente objecto de tão sanguinárias cenas. Tudo decorria por entre os brandos costumes portugueses. E ainda não tínhamos alcançado a globalização dos comportamentos sexuais, tão exaltados por uns e tão denegridos por outros.

1 comentário:

Zephyrus disse...

No tempo em que não havia internet e tanta oferta em termos de estabelecimentos nocturnos, praias, parques, matas ou urinóis eram o local onde os homossexuais e os bissexuais matavam a solidão.

No Algarve também existem «Caparicas», a praia de Cacela Velha, a oeste da Manta Rota, ou a Praia do Submarino, perto de Portimão, entre outras. As dunas e o matagal entre a Manta Rota e Cacela Velha funcionam como ponto de encontro para andaluzes, algarvios e turistas nacionais e do Norte da Europa. Contudo, as gerações lusitanos mais novas, com menos de 30/35 anos, nutrem algum preconceito por estes locais. No Algarve, na praia de Cacela Velha, são andaluzes ou ingleses, homo ou bissexuais, na casa dos 20, que ocupam o areal e convivem com os amigos. Neste tipo de pontos de encontro, o português prefere caminhar de passagem, como que perdido, fingindo que não sabe o que se passa à sua volta. Curiosamente são os portugueses mais velhos (acima dos 35/40) os mais desinibidos.

No Norte e Centro tambémm houve praias do género. Creio que algumas ainda mantém «actividade».

Com o aparecimento da internet, as novas gerações habituaram-se a procurar amigos ou parceiros sexuais em salas de chat e sites de perfis. Em frente a um ecrã satisfazem fantasias e tudo acaba por não passar de uma conversa de internet. No passado, a sexualidade era vivida de uma forma mais humana. E portanto, mais saudável.

Resta acrescentar que num passado recente houve a vivência da sexualidade entre homens nos quartéis e na guerra colonial. O meu professor de condução, um senhor com perto de 70 anos, ex-sindicalista, culto e moderno, contou-me que quando esteve na tropa tomou conhecimento de dois relacionamentos homossexuais entre tropas, que duraram enquanto permaneceram no quartel. Relata que havia tolerância para estas situações, desde que houvesse discrição. Num desses relacionamentos estava envolvido o seu melhor amigo, que acabaria por casar, mantendo contudo o contacto com o amante.

Acrescento ainda que em Coimbra, durante décadas, a estrada de Bencanta, junto ao rio Mondego, funcionou como local de «cruising». Um frequentador relatou-me que nos anos mais movimentados do local, ao Sábado pela noite, havia dezenas de carros a passear pela escura estrada. Esse frequentador contou-me ainda que ao longo de anos conheceu por lá médicos do HUC, professores da Universidade, padres italianos de passagem por Fátima, homens casados de todas as idades, prostitutos, estudantes. Mas o que mais me impressionou foram estas palavras: «nós não vamos lá para engatar; vamos para conversar, conviver; por vezes conheço alguém e podemos estar horas só a conversar dentro dos carros».

Uma sociedade que ainda reprime a vivência livre entre adultos da sexualidade inata só gera solidão, logo sofrimento.

Saudações cordiais.