quinta-feira, 21 de março de 2013
SEM TECTO, ENTRE RUÍNAS
A situação que se vive, há cerca de três anos, na Síria, é verdadeiramente insuportável. Uma contestação ao regime do presidente Bashar Al-Assad, na sequência da chamada "Primavera Árabe", e que foi reprimida com uma violência despropositada, desencadeou um conflito de proporções inimagináveis.
É um facto, perfeitamente constatável, que nunca a oposição síria (que naturalmente existia) pudesse provocar a guerra civil em curso, sem o recurso a aliados exteriores. Ou então, contradição suprema, o regime de Assad havia permitido a todos os sírios armazenarem em casa armas e munições bastantes para levar a cabo esta sangrenta confrontação. O que não se coadunaria com o proclamado carácter ditatorial do regime.
Ninguém ignora que os opositores do presidente sírio beneficiaram e continuam a beneficiar do apoio estrangeiro, seja da Arábia Saudita, do Qatar, da Turquia, dos djihadistas internacionais e do Ocidente (Estados Unidos e União Europeia, em particular da França e do Reino Unido). Assim como um analista norte-americano, cujo nome não me ocorre, proclamou que o caminho para Jerusalém ( para resolução do conflito israelo-palestiniano) passava por Baghdad (só poderia ter sido um gracejo de mau gosto), também agora se afigura que o caminho para o Irão passa pela Síria.
Muita gente há que já se pergunta se a Primavera Árabe não foi criada pelos interesses de algumas potências com a finalidade de desestabilizar todo o Mundo Árabe. É certo que caíram algumas nefastas ditaduras, que, no entanto, estão sendo substituídas por outras ainda piores. Será que o jovem tunisino Mohamed Bouazizi se imolou mesmo pelo fogo ou alguém lhe ateou o incêndio que desencadearia o derrube de Ben Ali? Porém, outras ditaduras, como as da Península Arábica, permanecem incólumes.
A resistência do regime sírio tem espantado os seus opositores. Ninguém pensou, no início desta tragédia, que Bashar Al-Assad aguentasse tanto tempo, mas insondáveis são os desígnios da Providência. E contavam, certamente, com uma intervenção estrangeira, como na Líbia, com um pseudo-filósofo tipo Bernard Henri-Lévy (um Lévy d'Arabie, como lhe chamou aqui o seu compatriota Pierre Assouline) a servir de arauto. A oposição da Rússia e da China não permitiu essa aventura, e ainda bem, tendo em conta o estado em que se encontra hoje a Líbia. Todavia, Bernard Henri-Lévy ainda não foi julgado nem condenado, passeando-se entre Paris e Marraquexe.
A guerra civil na Síria provocou até agora 4 (quatro) milhões de deslocados e mais de 70.000 mortos, fora os feridos, os deficientes, os que enlouqueceram, as famílias desfeitas, o país destruído. Estamos perante uma situação absolutamente chocante. Depois do Iraque, a Síria, com a Líbia de permeio. Quantos mortos serão ainda necessários para pôr termo à loucura do Ocidente e seus aliados?
Para lá da tragédia humana, há a devastação de um país, um dos mais belos e antigos países do Médio Oriente. O que restará das cidades e monumenrtos e vestígios arqueológicos da Síria, no fim de um conflito que agora, sim, só agora, já opõe sírios contra sírios, para lá dos combatentes estrangeiros. Porque os familiares dos que pereceram sob as balas, inevitáveis, do regime, se voltam contra ele, compreensivelmente.
A maioria dos políticos, ao longo dos séculos, tem sido constituída por seres abomináveis, desprovidos de quaisquer sentimentos humanos. Por isso se diz que não se faz política com bons sentimentos. Creio, porém, que os políticos do nosso tempo exageram na sua insensibilidade, na procura de louros e riquezas que não levarão para o túmulo, pois sendo todos nós mortais, eles morrerão inexoravelmente. Alguns ainda terão pessoas para lhes depor algumas flores sobre os caixões; outros, só pessoas que irão escarrar sobre os seus túmulos.
Soubemos hoje que o sheikh Muhammad Al-Buti, imam da Mesquita dos Omíadas, em Damasco, morreu numa explosão provocada por um bombista suicida, que provocou mais 42 mortos e 84 feridos. O atentado teve lugar dentro da mesquita de Al-Mezzeh, no centro da cidade.
O pacífico povo sírio, que tão bem conheci, e que sempre aspirou à paz e a uma vida normal, está hoje enlouquecido. Os poderes exteriores que provocaram esta hecatombe assistem, insensíveis, à acção dos demónios que soltaram da sua caixa infernal.
QUE A MALDIÇÃO DE ALLAH (para os que são crentes) FULMINE TODOS OS RÉPROBOS.
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6 comentários:
Há outras realidades para além daquilo que os nossos olhos vêem, como escreveu Shakespeare, por outras palavras, ou como tentou demonstrar Platão na sua Alegoria da Caverna ou na sua cosmologia, ou ainda Ptolomeu.
E tudo começou no dia 11 de Setembro, caros. 11 de Setembro abriu a caixa onde Salomão aprisionou os demónios e os seus exércitos.
Quando o mal é expostos, dizem, as leis da justiça no Cosmos são burladas.
E dizem ainda, é tudo por um mundo melhor. A F.U.
Saudações.
Partilho:
http://www.youtube.com/watch?v=gdKF_-6jyEM
Este autor fala do Médio Oriente... com uma visão distinta daquela a que estamos habituados.
Para Zephyrus:
Obrigado pela partilha.
Quem quer destruir Chipre?
«A técnica romena da equipa da troika tem sido muito criticada pela sua tática de "de meia em meia hora" surgir com exigências novas, dificultando as negociações. O Fundo Monetário Internacional tem insistido numa reestruturação mais drástica do sector bancário cipriota, alegando ser artificialmente muito elevado, e num confisco mais pesado sobretudo nos depositantes que usam a ilha como plataforma financeira. O Eurogrupo desenvolveu a linha de que os depósitos dos "grandes depositantes" são como "investimentos" e uma campanha sobre a "lavagem de dinheiro sujo" de capitais russos em Chipre tem sido desenvolvida, referindo inclusive que Chipre é o terceiro investidor na Rússia.
Como salienta Petia Tanova, o sector bancário do Luxemburgo é 20 vezes superior ao seu PIB e o grão-ducado é o primeiro investidor na Rússia. A avaliação dos capitais russos nos bancos cipriotas é muito díspar, com o governador do banco central cipriota a falar em 4,9 mil milhões de euros e outros analistas a apontarem para 10,2 mil milhões, incluindo além dos depósitos e de capitais das empresas no offshore (offshore international business companies - IBC). O total de depósitos nos bancos cipriotas era de cerca de 70 mil milhões de euros em janeiro deste ano, antes da última vaga de fuga de capitais, desde que se começou a temer um bail in (resgate em que todo o tipo de credores dos bancos são obrigados a participar).
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/chipre-fmi-dificulta-fecho-das-negociacoes-de-um-acordo=f795842#ixzz2OQVHRCVH»
Só Luxemburgo? E Liechenstein? E até a Suíça? Há uns meses também apareceu por cá uma «técnica» a dizer que para as nossas dimensões tínhamos excesso de ouro no Banco de Portugal...
Não duvido que Dominique Strauss-Khan foi removido do FMI por interesses obscuros.
Mas fica a dúvida. A quem interessa a destruição das economias do Sul? Aos EUA e ao Reino Unido, numa estratégia de destruiçao do euro? Ou estarão os nossos inimigos... cá dentro, na Europa Central?
Saliento que em caso de guerra na Síria e mesmo em todo o Próximo e Médio Oriente Chipre será um ponto geoestratégico fundamental. E para já, a Alemanha e o FMI apostam numa destruição imperdoável da economia cipriota. Um dia a História será implacável com esta canalha.
Tenho grandes amizades e até um amor do passado em Nicósia. São gente afável e charmosa. Não merecem isto.
PARA ZEPHYRUS:
O que se passa em Chipre seria uma vergonha, se dela restasse um módico nas relações internacionais.
A União Europeia está podre. Nada me admira que sejamos nós as próximas vítimas.
Se entretanto não aparecer alguém que ponha cobro, rapidamente, à bandalheira vigente, quando tudo se afundar não haverá salvador que nos valha; apenas repetir com Verdi, como em muitas das suas óperas: "È tardì"!
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