Transcrevemos, pelo seu interesse público, o seguinte post do blogue "Politeia":
RETALIAÇÃO NAZI
O ASSALTO AOS
DEPÓSITOS EM CHIPRE
O que se passou no último conselho do Eurogrupo, na noite de sexta e
na madrugada de sábado passados, assinala uma nova etapa na condução da
União Europeia na defesa do capital financeiro em estreita aliança com
objectivos nacionais hegemónicos, protagonizados pela Alemanha.
Até
ao presente nunca o FMI tinha usado ou imposto tal meio
nos países por ele intervencionados. Embora o Fundo desempenhe no plano
internacional o papel de ponta de lança do capital financeiro, nunca
FMI, nas múltiplas situações em que tem actuado, esteve em condições de
aplicar uma medida
semelhante por razões que bem se compreendem. No quadro de uma pura
relação
bilateral, como foram todas aquelas em que o FMI tinha intervindo até
ser
chamado pela Alemanha para a ajudar a defender o euro, seria
politicamente muito difícil
fazer a aplicação de tal meio. Todavia, num quadro profundamente
anti-democrático,
como é o da União Europeia, politicamente hegemonizado pela Alemanha com
a
participação de governos colaboracionistas, o FMI (e o capital
financeiro que
ele representa) já não teve qualquer problema em aceitar a aplicação
de uma medida tipicamente nazi.
De facto, a decisão de confiscar uma percentagem de todos os
depósitos dos bancos cipriotas é, pela sua natureza aleatória e pela completa
ausência de causalidade entre a falência do sistema financeiro cipriota e os
capitais nele depositados, um acto de retaliação tipicamente nazi.
Apanham-se os que estão por perto, que nada têm a ver com o
acto que se pretende reprimir, para prevenir, pela brutalidade e pela
arbitrariedade, a repetição de actos de natureza semelhante.
Sendo o acto em si é a todos os títulos condenável, poderia
supor-se que ele é também na sua essência estúpido e irracional por
verdadeiramente nada resolver quanto à causa do acto que pretende reprimir.
Explicando melhor, se um atentado contra um SS (Reinhard Heydrich, por exemplo)
poderia ser futuramente prevenido com um massacre de populações inocentes (Lidice,
no exemplo dado), já que a respectiva resistência nacional teria doravante de
passar a ponderar as consequências dos seus actos no povo que pretendia
libertar ou vingar, no caso de Chipre poderia à primeira vista dizer-se que
a retaliação nada resolve, por não haver uma ligação semelhante entre os
detentores do capital financeiro e os depositantes. A verdade é quem assim pensar
engana-se redondamente.
A retaliação decidida pela Alemanha na madrugada de sábado
passado é ainda mais perversa: exactamente por não haver aquele tipo de ligação
entre os depositantes e os detentores do capital financeiro é que a Alemanha espera
que os capitais que antes afluíam aos bancos cipriotas, bem como muitos dos que
estão depositados nos países periféricos intervencionados de facto ou de
direito (Portugal, Grécia, Espanha, Itália), afluam aos bancos germânicos ou aos
dos seus aliados por estas passarem a ser as únicas praças onde se podem sentir
verdadeiramente seguros.
Com o tempo os processos perversos tendem a refinar-se de modo
a que se possam alcançar exactamente os mesmos resultados que
antes se pretendiam obter pela brutalidade física. É uma questão de ir
afeiçoando os meios ao contexto do tempo em que se vive.
Dir-se-á, todavia, se assim for a Alemanha estará cavando a
prazo a decadência da sua prosperidade económica em grande parte resultante do
extraordinário excedente que há mais de uma década vem crescendo no seio da
zona euro.
Certamente. Mas a partir daqui já entramos noutro tipo de
conversa. Aparentemente assim será, embora a Alemanha possa supor que o
extraordinário crescimento dos países emergentes lhe permitirá dentro de
relativamente pouco tempo substituir os mercados europeus por aqueles. Embora
os números não apontem nesse sentido, já que qualquer pequeno país europeu rico
compra mais a Alemanha do que, por exemplo, a Índia, ela pode, por via do seu
“racional irracionalismo”, caminhar mesmo assim para o fim com o entusiasmo grandioso das
óperas de Wagner. Ninguém exprimiu esse pensamento melhor do que Hitler nas
últimas horas da sua vida.
2 comentários:
Há quem sonhe, com li algures, no Marco-prussiano como moeda, em toda a sua grandeza do séc XIX ....
Notável o texto de JMCorreia Pinto. Parabéns ao autor do blog por ter efectuado a transcrição. Estamos sempre a aprender.
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