sexta-feira, 15 de março de 2013

A DÍVIDA E A DÚVIDA



A conferência desta manhã do ministro das Finanças tem suscitado os mais diversos comentários, nos mais variados órgãos de informação. E também nas redes sociais. Percebo o choque das declarações ministeriais, mas não penso que devam constituir motivo de grande admiração.

Mais uma vez, ocorreu o que sempre se tem verificado desde que este Governo iniciou funções. Vítor Gaspar falhou sistematicamente até hoje todas as previsões para Portugal, mesmo tendo em conta a deterioração da situação internacional. Uma circunstância que não abona a sua apregoada competência financeira. A preocupação obsessiva e exclusiva com a dívida, ignorando a progressiva destruição do tecido económico, arrastou, e continua a arrastar, Portugal para uma situação de miséria a que só escapa a magra franja dos privilegiados, e mesmo esta a estreitar-se de dia para dia. É claro que existem ainda grandes fortunas, a maior parte das quais a repousar em bem guardados paraísos, mas isso é a excepção à regra nacional.

Contudo, parece que a vulgarmente designada troika avaliou positivamente o desempenho governamental, não obstante o não cumprimento dos prazos, das metas e da maior parte dos restantes compromissos assumidos. E é esta classificação positiva da troika que se afigura preocupante.

Sem entrar em detalhes de números, de todos já sobejamente conhecidos, e sendo as perspectivas para o futuro do país as mais sombrias, conhecidas que são as consequências da adopção de medidas de austeridade que ultrapassam o admissível (a Grécia, primeiro laboratório de ensaio, é um exemplo flagrante) e tendo em conta as sucessivas e recentes afirmações do primeiro-ministro luxemburguês, Jean-Claude Juncker, que foi presidente do Eurogrupo e conhece a situação do Velho Continente melhor do que a maior parte dos actuais governantes europeus, à dívida acrescenta-se a dúvida.

Todos (ou quase todos) os países vivem e convivem com a dívida, sendo Portugal uma excepção durante o Estado Novo. A Alemanha teve uma dívida fabulosa, perdoada parcialmente no pós-guerra e cuja parte remanescente só foi paga recentemente. Nunca, nas últimas décadas, foi exigido a qualquer Estado um esforço sobre-humano (e desumano) para a satisfação dos seus compromissos externos. Sabemos que após a desregulação económico-financeira, apadrinhada por Reagan e Thatcher, o neo-liberalismo alastrou pelo mundo. Mas não chega.

No que a Portugal respeita (e outros países, possivelmente com maior peso do que Portugal na Balança da Europa, como a Espanha e a Itália, trilham caminhos mais suaves) a dúvida que emerge é mais, muito mais, preocupante. As sucessivas medidas de austeridade do Governo, que estão a devastar o país por várias gerações (Gaspar dixit) destinam-se apenas a sanear a situação financeira, ou têm como objectivo oculto a destruição de Portugal? Cada vez se ouve mais gente a interrogar-se sobre os verdadeiros desígnios de Vítor Gaspar e se ele se encontra ao serviço da Nação ou de poderes ocultos (hoje já não tão ocultos como no passado) cujo intuito é tudo arrasar para depois edificar sobre as ruínas não se sabe bem o quê?

Será que o Governo de Portugal serve os interesses de Portugal ou se encontra ao serviço de interesses estrangeiros (porventura internacionais, já que o capital não tem pátria)?

Será a "nota positiva" da troika um presente envenenado?

Esta dúvida começa a inquietar mais os Portugueses do que a própria dívida e era bom que fosse rapidamente esclarecida. Rapidamente e em força, para citar um estadista já falecido, que poderia ter imensos defeitos, mas defendeu, contra ventos e marés, os interesses de Portugal.


4 comentários:

Anónimo disse...

É, digamos, extremamente complicado "quadrar" a narrativa da suposta desregulamentação perante as próprias estatísticas federais dos EUA... Ver aqui.

Anónimo disse...

Penso já não haver qualquer resquício dúvida na mente de alguém minimamente esclarecido, que este governo e, de forma particular o seu ministro das finanças, se encontram ao serviço de interesses absolutamente estranhos aos interesses de Portugal. Aliás, é sua firme intenção, como todos os factos até ao presente o comprovam, trabalharem arduamente para a total e completa desarticulação e destruição do tecido sócio-económico do país, até nada mais restar. Estão nisso de corpo feito, em perfeito êxtase e de fé inabalável. Julgo já nada mais nos restar senão aguardar pela machadada final.
Marquis

Anónimo disse...

Algo vai mal no reino da Dinamarca...

Anónimo disse...

Dado que a mesma troika impõe medidas semelhantes para a Grécia,Irlanda e agora Chipre,aceitando os pressupostos do autor e seus discípulos,pretendem pois destruir as economias de todos esses países,senão os próprios países. Pergunta-se o que ganham os tais "interesses ocultos" com isso? Na actual economia internacional interdependente,o colapso de um,e pior de vários,parece ter consequências desastrosas para o conjunto internacional. É isso que a Troika pretende,ou simplesmente sanear as finanças de certos países em estado de pré-bancarrota,com receitas semelhantes às que o estadista citado pelo autor(e que devemos considerar em todas as suas vertentes) tomou para Portugal entre 1926 e 1930?