Bandeira de Jabhat al-Nusrah |
Os Estados Unidos inscreveram o mês passado na lista das organizações terroristas a Frente de Apoio ao Povo da Síria (Jabhat al-Nusrah li-Ahl al-Sham), um grupo filiado na Al-Qaeda, criado em Janeiro de 2012 e considerado o mais violento e eficaz dos movimentos que se opõem ao regime de Bashar Al-Assad.
Movimento salafista apoiado principalmente pela Arábia Saudita, este grupo insere-se na estratégia fundamentalista islâmica que consiste em levar o terror a todas as partes do mundo aonde os seus membros consigam penetrar. Vemos agora como a AQMI, a Al-Qaeda para o Maghreb Islâmico, está actuar na África Central, designadamente no Mali, e que já levou a uma intervenção, porventura tardia e mal preparada, das tropas francesas.
Sem ignorar, como já escrevemos muitas vezes neste blogue, o carácter repressivo do regime sírio, não há dúvida que a guerra civil a que hoje, infelizmente, se assiste, só se tornou possível pelo apoio financeiro e logístico e mesmo pelo envio de fortes contingentes armados por parte dos países vizinhos e pelos encorajamentos e contradições do mundo ocidental, incluindo também considerável suporte operacional..
Nos Estados Unidos, Obama ora parece apoiar os rebeldes, ora considera os salafistas como um grupo terroristas. Na Grã-Bretanha, David Cameron, e em França, François Hollande, dois homens políticos de duvidosa moral, de curtos horizontes e de limitada inteligência, tão depressa estão ferozmente contra o presidente Assad, como condenam os crimes cometidos pelas oposições, que nada ficam a dever à atrocidades praticadas pelo regime. A Turquia, de Recep Erdogan, tem estado mais calada nestas últimas semanas, fazendo o jogo que mais lhe convém, como vizinha da Síria, acolhedora de milhares de refugiados sírios e aspirante à liderança do mundo muçulmano, disputada igualmente, na prática, pelos sauditas, e agora, também, pelo novo Egipto dos Irmãos Muçulmanos de Mohamed Mursi. Em Israel, que, malgré tout, tinha na Síria um parceiro estável, aguardam-se as próximas eleições para se conhecer o destino de Netanyahu, que deverá suceder a si mesmo.
Nunca os líderes ocidentais, pelo menos nas últimas décadas, foram tão medíocres como hoje. Apesar de preocupados com a situação vivida no Velho Continente, deveriam precaver-se contra a ofensiva de um islão radical, que nada tem a ver com a religião muçulmana tradicional, e persegue objectivos (que nunca alcançará) de domínio mundial. Mas não o fazem, ou porque se agarram a agendas mesquinhas, ou porque os interesses financeiros, que ameaçam controlar o planeta, os impedem de qualquer acção.
A Tunísia parece resistir melhor às investidas dos "barbudos" islamistas, pois que, ainda hoje, teve lugar em Tunis, comemorando o segundo aniversário da partida do presidente Ben Ali, uma grandiosa manifestação pedindo a demissão do governo islâmico do partido Ennhada. Segundo uma manifestante, «a máfia dos Trabelsi (a família da mulher do ex-presidente) foi substituída pela máfia dos islamistas».
Em todo este penoso processo de "re-islamização", o comportamento do Mundo Ocidental têm-se verificado verdadeiramente desastroso. Não que se defenda o direito de ingerência, e muito menos o dever de ingerência, mas reivindicar-se-ia o dever de coerência. Porém a Europa, nomeadamente, através de uma organização chamada União Europeia, e que deveria ter uma política externa minimamente harmónica, varia as suas opções ao sabor dos acontecimentos, numa indescritível confusão de objectivos e princípios.
Eu sei que de nada vale o que aqui escrevo, mas, realmente, assim não chegaremos a parte alguma.
1 comentário:
Pois é. Depois arrependem-se. Estamos na dupla decadência do ocidente. Intervêm quando não devem e quando é preciso ficam quietos, Que estupores.
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