quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
GOYTISOLO E GENET
Juan Goytisolo (n. Barcelona em 1931) é um dos mais notáveis escritores espanhóis contemporâneos. Autor de 30 livros, traduzidos em várias línguas (incluindo a portuguesa), profundo conhecedor das literaturas hispânicas e árabes, vive desde há anos em Marrakech, depois de uma longa permanência em Paris. Crítico implacável da civilização ocidental, denunciada claramente em muitas das suas obras, recebeu o prémio Europalia, o prémio Octavio Paz, o prémio Juan Rulfo de literatura latino-americana e o Prémio Nacional das Letras Espanholas.
Em tradução do castelhano pelo seu biógrafo, Abdelatif Ben Salem (Juan Goytisolo ou les paysages d'un flâneur), foi agora publicado um conjunto de ensaios, Genet à Barcelone, onde Goytisolo recorda a sua convivência com Genet e evoca a figura e a obra do grande autor francês, que ainda permanece, em muitas mentes, como um escritor maldito.
Compõe-se o livro de quatro capítulos: "Mendiant et orgueileux, Genet à Barcelone", "Le territoire du poète", "Genet et les Palestiniens. Ambiguïté politique et radicalité poétique" e "Le poète enterré à Larache". Em anexo, sete cartas de Genet para Goytisolo.
O estudo do itinerário de Genet (e a insuperável dificuldade de estabelecer datas exactas) não dispensa, obviamente, a biografia de referência de Edmund White, nem a cronologia estabelecida por Albert Dichy (que numa das citações desta obra é referido como Vichy, gralha tipográfica). Mas o presente livro de Goytisolo contribui substancialmente para clarificar aspectos mais controversos da personalidade do autor de Un Captif Amoreux. E para (tentar) explicar as contradições (reais ou aparentes) de um Jean Genet poético, mas também pragmático, cuja intimidade ou simples convivência "social" se tornaram praticamente insuportáveis, mesmo para os amigos mais dedicados.
Nesta obra, e recorrendo à sartriana fórmula de Saint Genet, Comédien et Martyr, Juan Goytisolo procura fornecer uma nova definição da "santidade" do poeta e explicar a sua adesão aos movimentos dos Palestinianos, dos Panteras Negras e mesmo do bando Baader-Meinhof.
Oposto a todas as normas e convenções, tendo eleito como suas virtudes principais o roubo, a traição e a homossexualidade, Genet, cuja vida e obra apaixonaram o século passado, é hoje menos inteligível por uma sociedade dominada pelo dinheiro e em que certas transgressões se transformaram em modelo. Por isso, os breves ensaios agora coligidos constituem uma chave para a compreensão do sinuoso percurso daquele que muitos, franceses e estrangeiros, consideram o maior poeta de língua francesa do século XX.
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