domingo, 2 de setembro de 2012

A GUERRA NA SÍRIA



A propósito da guerra na Síria, publica o jornal PÚBLICO um artigo da autoria de Jaswant Singh, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa da União Indiana, intitulado "O Significado da Síria", e no qual se tecem considerações pertinentes sobre o que está em jogo no conflito que se verifica naquele país.

Pelo relevante interesse da análise, transcrevemos alguns parágrafos:

«Em primeiro lugar, tentemos desenlear parte do emaranhado de ironias e contradições que estão a dificultar os esforços para acabar com a violência na Síria. Apesar de negar liberdade política aos seus cidadãos, no que diz respeito à liberdade social a Síria é bastante mais tolerante do que muitos outros países árabes, especialmente a Arábia Saudita, que lidera a investida para derrubar Assad. Governada por uma minoria de alauítas (uma seita xiita), a Síria alberga um conjunto de grupos diferentes: árabes, arménios, cristãos, curdos, drusos, ismaelitas e beduínos.»

«No seu livro intitulado A Peace to End all Peace [A Paz para Acabar com Toda a Paz, ndt], sobre a história do mundo árabe no rescaldo da Primeira Guerra Mundial, David Fromkin refere que actualmente o Médio Oriente reflecte o fracasso das potências europeias na consolidação dos sistemas políticos por elas impostos. A Grã-Bretanha e os seus aliados "arruinaram a velha ordem", destruindo o domínio turco da língua árabe no Médio Oriente. Mas depois "criaram países, nomearam governantes, delinearam fronteiras [e introduziram] um sistema de Estado" que viria a tornar-se inoperante.»

O livro referido é de importância capital para a compreensão da situação no Médio Oriente.

«Em Agosto de 1919, o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Arthur Balfour, resumiu a essência do problema com o qual se confrontam actualmente os responsáveis políticos. "A infeliz verdade", escreveu, "é que a França, a Inglaterra e os Estados Unidos estão... tão inextricavelmente confusos que nenhuma... resposta satisfatória é possível neste momento."»

Não se deve esquecer que Lord Balfour foi o responsável pela Declaração que levou à criação de Israel em território palestiniano.

«A combinação de receios étnicos e confessionais e de rivalidades, memórias históricas e cegueira deliberada entre os poderes externos parece estar predestinada a desestabilizar novamente todo o Médio Oriente. A Turquia está novamente a expandir-se, embora ainda com dificuldades; o Iraque foi invadido e abandonado; o Irão está isolado e em risco, Israel está em estado de ansiedade e beligerante e o Afeganistão e o Paquistão têm uma situação interna desequilibrada e uma política fragilizada.Na verdade, o grande arco que se estende do Cairo ao Hindu Kush ameaça tornar-se o centro da desordem global. Não é de admirar que o enviado iraniano, Saeed Jalili, tenha anunciado, após uma reunião que teve recentemente com Assad em Damasco, que "o Irão não permitirá de modo algum que o eixo de resistência, do qual a Síria é considerada um pilar fundamental, seja quebrado".»

A actuação do novo presidente do Egipto, Morsi, só poderá contribuir para a referida desordem global.

«Como afirmou sabiamente Michael Ignatiev a crise da Síria revelou que este é "o momento em que o Ocidente deveria perceber que o mundo se dividiu realmente em dois. A Rússia e a China enfrentam uma aliança fraca de democracias capitalistas lutadoras". Os interesses nacionais dos países ocidentais deixarão de determinar os impulsos morais e políticos da comunidade global actual. Na verdade, seja qual for o resultado, o tormento da Síria evidenciou um enfraquecimento maior e irreversível do papel de domínio global do Ocidente.»

O tempo se encarregará de demonstrar de que lado está a razão, mas nessa altura só poderemos dizer: "É tarde".

1 comentário:

Anónimo disse...

Tem toda a razão Jaswant Singh nas suas análises tão bem fundamentadas.
Alías, já neste blog este tema tem sido por diversas aflorado e, o autor, tem sido muito claro na análise que faz de toda esta questão, pois conhece demasiado bem estas realidades.Sempre me pareceu que toda esta questão da Síria tinha sido muito (mal) orquestrada por outras razões, que não a situação política interna. Isto está muito para além disso!
Marquis