segunda-feira, 28 de maio de 2012

GÜNTER GRASS E A EUROPA



O escritor alemão Günter Grass (Prémio Nobel da Literatura 1999) publicou no jornal Süddeutsche Zeitung um poema em que critica a Europa (leia-se, a Alemanha) pela sua política em relação à Grécia, lamentando a humilhação que está a ser infligida a este país. O poema de Grass surge após as infelizes declarações de Christine Lagarde, directora do Fundo Monetário Internacional, que afirmou serem mais dignas de compaixão as crianças da África subsahariana do que as crianças de Atenas. E é também um ataque à política de austeridade cega preconizada pela chancelerina Angela Merkel.

Este poema de Günter Grass é o segundo texto do Nobel, em menos de dois meses, a provocar profunda polémica, quer na Alemanha, quer a nível internacional. Recorde-se que anteriormente Grass tinha afirmado que é Israel e não o Irão quem, devido ao seu potencial nuclear, ameaça a paz mundial, o que lhe valeu ser considerado persona non grata pelo governo judaico.

Publicamos, abaixo, o poema integral, na tradução de Carlos Leite, que retirámos do blogue "aventar":

A Vergonha da Europa

À beira do caos porque fora da razão dos mercados,
Tu estás longe da terra que te serviu de berço.

O que buscou a Tua alma e encontrou
rejeita-lo Tu agora, vale menos do que sucata.

Nua como o devedor no pelourinho sofre aquela terra
a quem dizer que devias era para Ti tão natural como falar.

À pobreza condenada a terra da sofisticação
e do requinte que adornam os museus: espólio que está à Tua cura.

Os que com a força das armas arrasaram o país de ilhas
abençoado levavam com a farda Hölderlin na mochila.

País a custo tolerado cujos coronéis
toleraste outrora na Tua Aliança.

Terra sem direitos a quem o poder
do dogma aperta o cinto mais e mais.

Trajada de negro, Antígona desafia-te e no país inteiro
o povo cujo hóspede foste veste-se de luto.

Contudo os sósias de Creso foram em procissão entesourar
fora de portas tudo o que tem a luz do ouro.

Bebe duma vez, bebe! grita a claque dos comissários,
mas Sócrates devolve-Te, irado, a taça cheia até à borda.

Os deuses amaldiçoarão em coro quem és e o que tens
se a Tua vontade exige a venda do Olimpo.

Sem a terra cujo espírito Te concebeu, Europa,
murcharás estupidamente.

1 comentário:

Anónimo disse...

Genial!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Está lá tudo.
Marquis