O meu amigo João Gonçalves republicou o post colocado por Medeiros Ferreira no seu blogue "Córtex Frontal", evocando a figura ontem desaparecida do realizador Fernando Lopes, homem da maior importância no cinema português, e que por isso passo a transcrever:
«Encontrámo-nos
como dois não-lisboetas que gostavam de Lisboa e suas ilhas de
liberdade num Portugal amordaçado. Para o Fernando, o Cinema, para mim
as Associações de Estudantes, para os dois o mundo da cultura, da
inovação e do convívio entre gente de qualidade. O local de encontro foi
o VÁVÁ, esse café mágico dos anos sessenta, no cruzamento das avenidas
dos EUA e de Roma onde se teceu a modernidade, e até a post-modernidade,
entre estudantes subversivos, artistas rebeldes e publicítários
criativos. Lembro-me como se fosse hoje, e especialmente hoje, da nossa
partida do café para irmos, em grupo comandado por
essa agregadora chamada Milice Ribeiro dos Santos, à estreia do
Belarmino em 1964. Um literal murro no estômago, com savoir-faire. E,
depois, as noites da Lisboa dos cafés e dos restaurantes, desde o Monte
Carlo e Monumental, à Ribadouro e ao Gambrinus. Uma amizade tecida entre
notícias das novidades culturais e políticas, com muita emulação para
agradar ao auditório feminino da emancipação emergente. O meu exílio
interrompeu esse convívio quotidiano por seis anos, durante os quais o
Fernando se revelou aquele líder da organização do moderno cinema
português que todos reconhecem. Mas o 25 de Abril voltou a reunir-nos de
várias maneiras: estivemos juntos em alguns dos bons combates políticos
do nosso tempo, e o Fernando produziu das melhores campanhas
políticas, como as do General Ramalho Eanes. Sim, porque o Fernando
Lopes não foi só um cineasta e um director de programas de referência -
foi ele o responsável pela vinda do Sesame Street- e o que deu o selo de
qualidade ao Canal 2 do seu melhor tempo. Ele foi sobretudo um cidadão e
um homem de cultura inovador, muito à frente do seu tempo e das suas
circunstâncias.»
Com a morte de Fernando Lopes, e não é uma figura de retórica, ficámos mais pobres.
Com a morte de Fernando Lopes, e não é uma figura de retórica, ficámos mais pobres.
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