Mohammed Morsi |
Realizada nos passados dias 23 e 24 deste mês a primeira volta das eleições presidenciais egípcias, os resultados deste escrutínio são, segundo as últimas informações divulgadas pelo "Guardian" e a Al Jazira, os seguintes:
- Mohammed Morsi - 5.764.952 - 24,3 %
- Ahmed Shafiq - 5.505.327 - 23,3 %
- Hamdin Sabahi - 4.820.273 - 20, 4 %
- Abdel Moneim Abul Fotuh - 4.065.239 - 17,2 %
- Amr Mussa - 2.588.850 - 10,9 %
- Os restantes candidatos obtiveram um número de votos residual.
A segunda volta terá lugar nos dias 16 e 17 de Junho, em que estarão em confronto o candidato da Irmandade Muçulmana, Mohammed Morsi,e o candidato ex-primeiro-ministro de Mubarak, o marechal Ahmed Shafiq.
Segundo o presidente da Comissão Eleitoral, Faruq Sultan, a participação na primeira volta cifrou-se em 46 % dos eleitores.
Os resultados do escrutínio, admitindo que não se verificaram irregularidades na votação (especula-se sobre a existência de centenas de milhar de votos fraudulentos), são, no mínimo, curiosos.
O candidato da Irmandade Muçulmana, que é uma segunda escolha, já que o primitivo candidato foi recusado pela Comissão Eleitoral, por não reunir as condições previstas na lei, obteve surpreendentemente mais um milhão e meio de votos que Abdel Fotuh, ex-membro da Irmandade e que se prefigurava como o favorito dos islamistas moderados. Por outro lado, o marechal Ahmed Shafiq, que foi o último primeiro-ministro de Hosni Mubarak, quase se lhe igualou em número de votos. Quanto a Hamdin Sabahi, a esperança dos liberais e que representaria uma solução de compromisso, não conseguiu passar à segunda volta. Também surpreendente é a fraca votação em Amr Mussa, que foi, em tempos, ministro dos Negócios Estrangeiros de Mubarak e depois, durante anos, secretário-geral da Liga Árabe.
Estão, pois, os egípcios, perante um cruel dilema: ou votam em Morsi, e terão um membro da Irmandade na presidência da República (note-se que os Irmãos já dominam a Assembleia Nacional) o que poderá conduzir a um governo islâmico com tendência a evoluir para uma ditadura religiosa; ou votam em Shafiq, com tudo o que isso significa de retorno ao anterior regime e terão um governo com tendência a evoluir para uma ditadura tipo Mubarak. Quanto à distribuição dos votos dos candidatos que não passaram à segunda volta, as intenções terão não só a ver com as indicações de voto destes aos eleitores, como à própria disposição dos eleitores. Se os votos de Fotuh passassem em bloco para Morsi, este obteria cerca de dez milhões, o que ultrapassaria Shafiq, que não poderá contar certamente com a globalidade dos votantes em Sabahi nem mesmo com todos os votos recebidos por Mussa. Teríamos, assim, Morsi como presidente, à segunda volta, um cenário possível.
Acontece, todavia, que muitos egípcios, sobretudo nas principais cidades, estão francamente desiludidos com o caminho da Revolução. A situação económica é crítica, o turismo, uma das principais fontes de recita, caiu a pique, a segurança pública tornou-se uma prioridade perante a onda de crimes que avassala o país. Depois, todos os não-muçulmanos (coptas à cabeça) receiam, com razão, a instalação de um poder islâmico. Estamos a falar de cerca de 15% da população.
Os egípcios (especialmente a juventude das cidades) que dinamizou a Revolução, pretendia um governo mais ou menos laico. Mas, nas eleições legislativas, os Irmãos e os salafistas tiveram 70 % dos votos. Os revolucionários manifestaram uma ingénua ignorância quanto ao Egipto profundo. É agora uma ironia do destino terem de escolher entre um islamista e um ex-ministro do anterior regime.
Para lá, contudo, dos resultados eleitorais, existe ainda uma condicionante: as Forças Armadas, que detêm uma parcela significativa do poder económico do país. Não tendo o Egipto, ainda, uma nova Constituição, sempre as Forças Armadas poderão regular os poderes do novo presidente. E, em caso extremo, estou certo de que não hesitarão em intervir, para garantir aquilo que consideram as linhas vermelhas que não poderão ser ultrapassadas: ligação ao Ocidente, acordos com Israel, manutenção do poder económico da esfera militar.
É da história que, em matéria de revoluções, sabe-se como começam mas nunca se sabe como acabam.
Aguardemos, por isso, com expectativa, os resultados do próximo escrutínio e os acontecimentos ulteriores.
1 comentário:
Vamos então aguardar pelo dia 17
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