segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

À ESPERA DOS BÁRBAROS


Constantino Cavafy



- Porque esperamos aqui reunidos na ágora?


Parece que os bárbaros chegam hoje.


- Porque razão nada se passa no Senado?

Que aguardam sentados os senadores para editar leis?


É porque os bárbaros vão chegar hoje.

Que leis poderiam fazer agora os senadores?

Os bárbaros, quando chegarem, ditarão eles as leis.


- Porque se levantou hoje tão cedo o nosso imperador,

e se sentou à porta principal da cidade,

no seu trono, com grande pompa, e ostentando a coroa?


É porque os bárbaros vão chegar hoje.

E o imperador está à espera para receber

o seu chefe. Até já preparou

um pergaminho para lhe entregar. Nele

lhe confere muitos títulos e honras.


- Porque é que os nossos dois cônsules e os pretores

saíram hoje envergando as suas togas vermelhas, bordadas;

porque levavam braceletes com tantas ametistas,

e anéis com esmeraldas cintilantes;

porque levavam hoje os seus bastões preciosos

magnificamente cinzelados de prata e ouro?


É porque os bárbaros vão chegar hoje;

e tais coisas deslumbram os bárbaros.


- E porque não vieram como é costume os nossos ilustres oradores

para discursar, para dizer o que sabem?


É porque os bárbaros vão chegar hoje;

e aborrecem-se com eloquências e discursos públicos.


- Porque se verifica, subitamente, este desassossego,

e esta confusão. (Como os rostos se tornaram sérios.)

Porque se esvaziam tão depressa as ruas e as praças,

e todos voltam para casa apreensivos?


Porque a noite caiu e os bárbaros não vieram.

E algumas pessoas que chegaram das fronteiras,

Dizem que já não há bárbaros.


E agora, que vai ser de nós sem bárbaros.

Essa gente, mesmo assim, era uma solução.


[1898-1904]


(Tradução do autor do blogue)



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