domingo, 31 de janeiro de 2010

O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA


Iniciaram-se hoje no Porto as comemorações do centenário da proclamação da República, que terão o seu momento culminante no dia 5 de Outubro. O evento que serviu de pretexto às celebrações de hoje foi a primeira revolta republicana contra a Monarquia, que teve lugar naquela cidade em 31 de Janeiro de 1891.

Andavam os portugueses descontentes não só contra as inúmeras peripécias ocorridas durante a vigência da Monarquia Constitucional, com lutas, pronunciamentos militares, rivalidades partidárias, caciquismo eleitoral, miséria e fome, mas sobretudo contra os esbanjamentos verificados nos reinados de D. Luís e de D. Carlos.

O descontentamento com o regime monárquico agudizou-se devido à complacência de D. Carlos de Bragança e do seu governo face ao ultimato inglês de 11 de Janeiro de 1890. De facto, nesse dia, o governo britânico do primeiro-ministro Lord Salisbury (um dos expoentes máximos do imperialismo e do colonialismo da pérfida Albion) exigiu, em nome da rainha Vitória (mulher de moral duvidosa) a retirada imediata das tropas portuguesas estacionadas entre Angola e Moçambique, a fim de promover a concretização do célebre eixo Cairo/Cabo, tão caro a Cecil Rhodes, e que viria a possibilitar à Inglaterra uma extensão contínua e ininterrupta de colónias desde o Egipto até à África do Sul.

Os portugueses não aceitaram a pronta cedência do governo às vis exigências do seu mais antigo aliado [o Tratado de Windsor, de 1386, ao longo de quase sete séculos apenas serviu aos ingleses, que utilizaram Portugal como base contra as tropas de Napoleão e que responderam negativamente a Salazar quando este pediu a utilização da base de Aden, no sul da Península Arábica (outra das incontáveis colónias inglesas) para reforçar a posição portuguesa em Goa, perante a invasão da União Indiana (pense-se o que se pensar da política ultramarina portuguesa) e que ainda recentemente utilizaram os Açores para a tomada final da decisão da invasão do Iraque]. Para além de outros episódios lamentáveis passados com o governo ou com súbditos britânicos (que não se mencionam por não ser este o lugar próprio) deve realçar-se que o ultimato do governo inglês deixava implícito o bombardeamento de Lisboa, caso não fossem dadas ordens imediatas às nossas tropas para se retirarem dos territórios de que os britânicos pretendiam espoliar-nos.

Também não é este o lugar para referir todos os crimes cometidos pela Inglaterra ao longo da sua existência, mas importa realçar que o ultimato constituiu a gota de água que viria a provocar a queda de uma Monarquia já desacreditada e moribunda, até porque os laços familiares que uniam a Casa de Bragança e a família real inglesa deixavam no ar uma suspeita de cumplicidade quanto ao desfecho deste caso. A estátua
de Camões, então o bardo nacional (Fernado Pessoa ainda não havia nascido) foi coberta de crepes e Alfredo Keil, com letra de Henrique Lopes de Mendonça, compôs "A Portuguesa", que viria a ser, e ainda é, o Hino Nacional Português. 

Depois, vieram os acontecimentos que a História regista. O rei D. Carlos foi assassinado em 1 de Fevereiro de 1908 e a República seria proclamada da varanda dos Paços do Concelho de Lisboa em 5 de Outubro de 1910.

Não me parece que este deva ser um momento de confrontação entre os portugueses, que serão hoje esmagadoramente republicanos, e uma minoria de monárquicos, que tem todo o direito a existir. Antes deverá ser um momento de reflexão sobre o passado, o presente e o futuro da República.

A Primeira República, para além das medidas positivas que perfilhou, como o incremento à instrução, a separação da Igreja e do Estado e as alterações à lei civil, a consagração do voto secreto e directo (mas não universal), a legalização de direitos dos trabalhadores, etc., foi sistematicamente perturbada por golpes de Estado e levantamentos militares, devido ao egoísmo dos políticos e às rivalidades partidárias e levou a que os portugueses olhassem com esperança para o surgimento de um homem sério e de prestígio que assumiu as rédeas do Poder: Sidónio Paes. Mas o seu consulado foi breve e Sidónio acabou assassinado na Estação do Rossio. A confusão regressou, mas já era tarde. E nem o presidente-escritor Teixeira Gomes conseguiu evitar a derrocada. A eclosão do 28 de Maio de 1926, trouxe à ribalta um outro homem que, dizendo premonitoriamente que sabe o que quer e para onde vai, vai mesmo e acaba por ficar cerca de meio século. O período pós 25 de Abril de 1974 tem sido, por razões várias mas também pelas experiências anteriores (e aprende-se sempre com a experiência) menos conturbado. Mas falta-nos um desígnio nacional, e ensina a História que os povos só subsistem quando existe uma ideia que os mobiliza e congrega no cumprimento de um destino. 

Que os Portugueses, que se celebrizaram na época dos Descobrimentos, descubram um Desígnio Nacional para a Terceira República, é o que hoje se lhes pode pedir, mais do que a realização de comemorações piedosas, ainda que bem intencionadas, mas que já não convencem ninguém.

sábado, 30 de janeiro de 2010

O FIM DE UM PROCESSO


Com a absolvição de Dominique de Villepin chega ao fim um dos processos mais mediáticos dos últimos anos em França, o caso "Clearstream". O actual presidente da República, Nicolas Sarkozy afirmou que desejaria ver o anterior primeiro-ministro pendurado no gancho de carne de um  talhante. Afinal, os tribunais absolveram Villepin. Julga-se que Sarkozy, o acusador, não recorrerá da sentença, embora se ignore a posição dos procuradores do Parquet neste controverso processo, muito mais político do que jurídico.

Dominique de Villepin, diplomata, ex-secretário-geral do Eliseu, mais tarde ministro dos Negócios Estrangeiros, depois do Interior e finalmente primeiro-ministro é uma das mais interessantes figuras políticas francesas, escritor com obra publicada e  notável orador. O seu discurso no Conselho de Segurança das Nações Unidas quando a infernal coligação anglo-americana contra o Iraque, liderada pelos criminosos Bush e Blair,  pretendia o beneplácito da ONU para consumar "legalmente" a invasão daquele país, valeu-lhe um aplauso estrondoso, o primeiro na história de uma sessão do Conselho de Segurança, e o apoio não só de todo o mundo árabe como, afinal, do mundo inteiro.

Começando a ser evidente que Sarkozy sofre da doença bipolar, é muito possível que Villepin, um fiel partidário de Chirac, seja candidato à Presidência da República nas próximas eleições em 2012, e até que as ganhe, caso o candidato socialista volte a ser aquela galinha cacarejante que dá pelo nome de Ségòlene Royal.

BLAIR (CONTINUAÇÃO)



PUBLICADO NO "PÚBLICO" DE ONTEM

Era grande a expectativa para ouvir Blair explicar as contradições surgidas nas últimas semanas de audições, tanto sobre a legalidade do conflito como sobre as suspeitas de que as informações recolhidas pelas secretas foram “apimentadas” para justificar a guerra. Mas o ex-primeiro-ministro não cedeu um milímetro e mostrou ter poucas dúvidas de que fez o correcto, mesmo que nem tudo tenha corrido como planeado. “Saddam era um monstro e acredito que ele representava uma ameaça não apenas para a região, mas para o mundo”, afirmou no final das seis horas de audição.

Disse, além disso, que o mundo seria mais perigoso, se Saddam não tivesse sido derrubado em 2003. “Com o barril de petróleo não a 25 mas a 100 dólares, ele teria tido a vontade e os meios financeiros [para reconstruir o arsenal] e nós teríamos perdido a coragem”, explicou Blair, ainda o dia de audições ia a meio. E hoje “o Iraque estaria a competir com o Irão”, tanto na corrida ao nuclear “como no apoio aos grupos terroristas”.

Não houve pacto secreto

Blair – que de manhã evitou as centenas de manifestantes que o esperavam à porta, entrando mais cedo e por um portão traseiro do centro de conferências – começou por negar que tenha feito um “pacto secreto” com George W. Bush, quando visitou o seu rancho no Texas, na Primavera de 2002. A suspeita foi lançada pelo ex-embaixador em Washington Christopher Meyer, que disse ter sido acordado nessa cimeira o derrube de Saddam Hussein. As armas de destruição maciça, garantiu o diplomata, foram justificação encontrada pelos dois países para justificar a invasão.

“O que eu lhe disse – em público e não em privado – foi que estaria com ele a confrontar a ameaça que Saddam representava.” A forma como isso seria feito, afirmou Blair, “ficou em aberto”.

Londres pretendia o apoio do Conselho de Segurança da ONU para desarmar o Iraque, mas se a via diplomática falhasse e “fosse necessário recorrer à acção militar, [Londres estaria] ao seu lado”. “Não queria que a América sentisse não ter outra opção que não a de avançar sozinha.”

Semanas após a invasão, os militares concluíram que o ditador iraquiano não escondia qualquer arma química ou biológica. Mas, ignorando as reticências já reveladas por antigos responsáveis das secretas, Blair insistiu hoje que todas as informações disponíveis até Março de 2003 indicavam o contrário: “Teriam sido precisas provas muito fortes para pôr em causa esse facto.”

E se até aos atentados de 11 de Setembro a estratégia britânica era a da “contenção”, a partir daí o país não podia “arriscar” que os terroristas se apoderassem dos arsenais dos Estados párias”: “Irão, Líbia, Coreia do Norte. Tudo isto tinha que acabar.”

A comissão de inquérito quis então saber por que foi escolhido o Iraque se, como o próprio Blair admitiu, Londres nunca acreditou que Bagdad tivesse ligações à Al-Qaeda. Ao contrário de outros, respondeu Blair, Saddam já tinha usado armas químicas contra civis e “há mais de dez anos que violava as resoluções” que exigiam o seu desarmamento.

Legalidade duvidosa

Nervoso ao entrar na sala – os jornalistas notaram que as mãos lhe tremiam quando abriu a garrafa de água colocada na mesa –, Blair recuperou rapidamente a confiança e, por vezes, pareceu conduzir a sessão. Goravam-se, assim, as expectativas dos que esperavam ver o ex-primeiro-ministro “em julgamento”.

Esteve menos seguro quando o painel o questionou sobre as bases legais da invasão. Em sua opinião, a Resolução 1441, aprovada em Novembro de 2002, “era suficiente” para dar cobertura às acções militares, ainda que fosse “preferível do ponto de vista político” chegar a um novo consenso na ONU.

Mas Blair admitiu que esta não era a opinião do attorney-general e que Peter Goldsmith só mudou de posição depois de ter ficado claro que não seria aprovada uma nova resolução. Mas negou qualquer pressão sobre aquele que era o conselheiro legal do Governo e garantiu que se, ele “não tivesse encontrado uma justificação legal”, os militares britânicos não teriam avançado para o Iraque.

Ao longo das seis horas, o ex-primeiro-ministro admitiu falhas – o exército de Saddam não deveria ter sido desmantelado e a coligação não previu que o Irão e a Al-Qaeda iriam desestabilizar o país no pós-invasão. Mas nunca pediu desculpas.

“Sinto uma enorme responsabilidade e não há um dia em que não pense [nos custos da guerra].” “Mas não lamento ter derrubado Saddam”, disse já no final. “[E hoje] olho para o Iraque com um imenso orgulho.” Da assistência alguém gritou “mentiroso” e “assassino”, mas para Blair o dia estava terminado.
Sem um sinal de arrependimento.

AINDA BLAIR

PUBLICADO ONTEM POR JOÃO GONÇALVES NO BLOGUE "PORTUGAL DOS PEQUENINOS"

O LAMENTÁVEL BLAIR


Blair - aquela sinistra figura de sorriso idiota que inspirou a "esquerda moderna" - foi à Comissão Europeia dar pseudo explicações sobre a guerra do Iraque. Ele, disse, acreditava piamente que havia armas de destruição maciça no Iraque, a falácia e o pretexto para a invasão. As imagens patéticas de Blair a dizer isto mostram não um herói ocidental mas um cínico desavergonhado. Por muito menos, outros são ouvidos nessa duvidosa instituição de direito internacional que é aquele Tribunal de Haia. Só porque passa por ser democrata é que Blair não senta o rabinho por lá?


x x x x x

Como já foi aqui escrito, Blair é um criminoso de guerra. Por muito menos, muitos se sentaram no Tribunal de Nuremberga.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

UM MUNDO SEM VERGONHA



O ex- primeiro-ministro britânico Tony Blair e Kadhafi, em 29 de Maio de 2007, em visita a Trípoli, por conta do banco JP Morgan

Le business des ex

Blair ou Clinton, les Bush ou Aznar... ils ont quitté le pouvoir avec des carnets d'adresses en or et font fructifier leur capital. Organisations caritatives mais aussi activités de «consultants», conférences royalement payées, voire grands contrats commerciaux... Un mélange des genres parfois à la limite du conflit d'intérêt

Tony Blair «conseiller» de Bernard Arnault. L'inventeur d'un socialisme new-look chez l'empereur du luxe. Mardi 12 janvier, en pleine campagne électorale britannique, la dépêche de Reuters annonçant que l'ex-Premier ministre britannique allait - probablement à la fin de l'année - travailler comme consultant à temps partiel auprès du numéro un mondial du champagne, de la mode et de la bagagerie a jeté un froid. Certes, les liens de Bernard Arnault avec Tony Blair étaient connus. Reçu deux fois à Chequers, la résidence campagnarde des Premiers ministres britanniques, le patron du groupe LVMH a invité à plusieurs reprises l'inventeur du New Labour sur «l'Amadeus», son yacht privé, pour une croisière en Méditerranée. Même les enfants Blair ont eu droit à ses largesses. Quand l'aîné, Euan, fait un stage de deux mois dans une radio du groupe Arnault, tonton Bernard s'occupe de tout : appartement, gardes du corps et voiture avec chauffeur. Mais les admirateurs politiques de celui qui sermonnait la vieille gauche n'auraient pas imaginé qu'il pousse si loin la confusion des genres, offrant aux conservateurs-amis-des-patrons un si bel argument pour contre-attaquer, à cinq mois des élections.
 
120 000 euros pour un discours
 
«Tout ça semble horriblement incestueux. Cette histoire laisse un goût très désagréable dans la bouche», a laissé tomber Norma Lamb, figure de proue des libéraux démocrates, qui appelle à durcir le code de bonne conduite régissant les conditions d'emploi des anciens ministres. On jugera peut-être son indignation morale un tantinet surjouée, et non exempte d'arrière-pensées électorales, mais le fait est là : dans le pays qui a inventé la démocratie parlementaire, la politique peut servir de rampe de lancement à une carrière privée. Au coeur du big business. Dans le monde merveilleux où la notoriété et les relations se troquent contre une rémunération à six chiffres.
http://uniprix.nouvelobs.com/5/NOUVELOBS/RG/1728988746/Middle1/OasDefault/AP_PORTNOCLASS_ATLAS_MBPV_0409/ALL_NO_AP_CHALLENGES_MB_010921281.html/35323962623839363462336533333630?&_RM_EMPTY_
Tony Blair, Bill Clinton, Gerhard Schröder sont passés maîtres dans cette alchimie qui permet de changer le pouvoir en or. On croyait qu'ils avaient fait don de leur personne à leur pays. On s'aperçoit qu'il s'agissait d'un prêt, remboursable avec intérêts. Ce sont des rentiers de la gloire. La retraite silencieuse et austère, c'était bon pour les de Gaulle, Harold Wilson ou Konrad Adenauer. Eux rêvent de millions et d'action. Le crépuscule de l'Histoire, ce sera pour plus tard. En quittant leurs fonctions, ils ont embarqué leur carnet d'adresses et leurs réseaux. Et les font fructifier, sans égard pour les conflits d'intérêt, sans peur de mélanger le caritatif et le lucratif dans des structures opaques et byzantines.
 
Londres, 5 décembre dernier. A la une du «Daily Telegraph», Tony Blair paraît un tantinet crispé. On le serait à moins. La photo le montre coincé entre son interprète et Nizami Piriyev, milliardaire d'Azerbaïdjan - un pays qui n'aime ni les élections démocratiques ni la BBC, interdite de diffusion. Légende de la photo : «Blair financé par un obscur oligarque.» Le tabloïd raconte comment l'ancien Premier ministre a touché l'équivalent de 120 000 euros en échange d'un petit discours pour l'inauguration d'une usine, propriété de ce personnage trouble, en affaires avec la Syrie, l'Iran et l'Afghanistan. Péché véniel ? Coïncidence malheureuse, en tout cas. L'article du «Telegraph» paraît trois semaines seulement après que l'«autre» Tony Blair, le politicien désintéressé, a échoué dans la course à la présidence de l'Union européenne.
http://uniprix.nouvelobs.com/5/NOUVELOBS/RG/666205364/Middle3/OasDefault/AP_CINEOBS_MBPV_0909/ALL_AP_LQA_MPAVE_0208.html/35323962623839363462336533333630?&_RM_EMPTY_

La «gym du cerveau»
 
Mais on chipote. Ces 120 000 euros encaissés pour «couvrir les dépenses» de son déplacement à Bakou ne sont qu'une goutte d'eau. Les spécialistes ont fait leurs comptes : depuis qu'il a quitté Downing Street, en juin 2007, Blair a perçu plus de 16 millions d'euros. Près de la moitié, il est vrai, ont servi à payer les 30 employés de TBA - Tony Blair Associates -, la structure dirigée par son ancien directeur de cabinet, Jonathan Powell - dont le frère, lord Powell, dirige l'antenne LVMH Services Ltd. La holding TBA est une véritable arche de Noé : on y trouve pêle-mêle sa Faith Foundation (Blair s'est converti au catholicisme) et une noria d'entreprises très profitables. Tellement rentables, murmurent les mauvaises langues, que l'ex-leader travailliste n'aurait mené qu'une campagne mollassonne pour la présidence de l'Europe, poste qui l'aurait contraint à respecter les règles de l'Union. Fermer le robinet à millions et révéler aux parlementaires européens la liste des personnalités pour lesquelles il est intervenu depuis qu'il a abandonné officiellement la politique intérieure ? I don't think so ! (traduction libre : ça va pas la tête ?).
 
Tony Blair n'a rien inventé. Il doit énormément à l'Amérique et à Bill Clinton, qui ont transformé radicalement le business des ex. C'est l'ancien président qui a le premier imaginé ce système à trois branches où coexistent, et parfois se mélangent, philanthropie, amitiés politiques et intérêts privés. Clinton lui-même ne partait d'ailleurs pas de zéro : l'Amérique n'est pas pour rien la patrie du capitalisme ! En 1860, pour le discours de Cooper Union qui avait lancé sa candidature, Abraham Lincoln avait royalement reçu 200 dollars (l'équivalent, aujourd'hui, de 3 700 euros). Un siècle plus tard, la machine s'emballe : au début des années 1970, les entreprises réalisent qu'un ancien président peut motiver leurs troupes aussi bien, voire mieux, qu'un ancien quarterback de football. Coca-Cola trouve même un nom à ces speeches de politiciens : la «gym du cerveau».
 
C'est à cette époque que naissent les agences représentant les ex, la plus connue étant aujourd'hui le Washington Speakers Bureau. A New York, l'agence Harry Walker signe Henry Kissinger et Gerald Ford. Concepteur de l'opération Condor, qui avait abouti à l'assassinat de Salvador Allende au Chili, Kissinger se re convertit en homme d'affaires redoutable. Il est l'un des premiers à coordonner discours payés, levées de fonds pour ses amis et lobbying, comme pour l'ouverture du premier Disneyland en Chine Après lui et la parenthèse Jimmy Carter, incorruptible, le pli est pris. En 1989, le retraité Ronald Reagan - qui n'a pas oublié ses talents hollywoodiens - pulvérise le record du speech le mieux payé : 2 millions de dollars pour deux discours de vingt minutes chacun, au Japon. Soit 35 000 euros la minute...
 
Mais revenons à l'ami Tony. Juillet 2007, quelques jours après avoir transmis les clés du 10, Downing Street à Gordon Brown, le rénovateur du travaillisme touche une avance de 7,5 millions d'euros de l'éditeur Random House pour la publication de ses Mémoires. Cent fois le montant annuel de sa misérable retraite de Premier ministre. Dans la foulée, Blair accepte d'intégrer les «conférences» organisées par le Washington Speakers Bureau. Sujets : la globalisation, le réchauffement climatique, le développement en Afrique, l'art de gouverner. Tarif moyen : 190 000 euros pour une intervention de quatre-vingt-dix minutes. Pas trop foulant pour un discours qui bien souvent n'apporte «rien de neuf» et se résume à «un tas de clichés», comme l'écrivait récemment le «Shanghai Times» à propos d'une conférence à Guangdong, payée 260 000 euros. Mais Tony ne se contente pas de causer et de grignoter les petits fours. Il ouvre aussi des portes, introduit au plus haut niveau. Et le nombre des boîtes qui comptent sur lui pour pénétrer de nouveaux marchés donne le tournis. Avant LVMH, qui espère bien tirer parti de ses connexions en Inde, perle du Commonwealth, la banque JP Morgan (en juin 2007) s'est offert ses talents de lobbyiste au prix de 2 millions de livres par an. Suivie en juin 2008 par l'assureur suisse Zurich : 500 000 livres annuelles.
 
C'est un engrenage. A côté de son association caritative Faith Foundation, et parallèlement aux cours donnés à Yale sur la mondialisation et la foi, Blair se lance dans une activité de conseil tous azimuts. Et ce, malgré ses fonctions d'envoyé spécial du Quartet (ONU, Union européenne, Etats-Unis, Russie), l'organe chargé d'une mission de paix au Proche-Orient. Sur ce terrain - où était-il pendant les événements de Gaza ? -, son échec est d'ailleurs à peu près total. De l'hôtel American Colony, à Jérusalem, où il passe dix jours par mois, l'ex- avocat multiplie les missions personnelles et jongle avec les rendez-vous. Tantôt prodiguant bénévolement l'art de la bonne gouvernance (Rwanda, Sierra Leone), tantôt monnayant ses avis pour des gouvernements (Libye) avec lesquels le Foreign Office est en délicatesse.
 
Selon ses amis, une mission «réussie» de TBA en Arabie Saoudite, au Koweït ou à Abou Dhabi doit générer trois types de donations : pour les Palestiniens, pour la Fondation et pour ses activités de conseil..., sans qu'il soit toujours possible de distinguer entre le profitable et l'altruiste. Les limiers du «Financial Times» se sont par exemple penchés sur le cas de Windrush Ventures N° 3 Ltd, une société qui fait partie de la constellation Blair. L'an dernier, Windrush a généré un profit net de près de 400000 euros, recyclé à travers une série de sociétés et permettant in fine de payer le bail du luxueux siège social de TBA sur Grosvenor Square, au coeur du très chic quartier londonien de Mayfair. Windrush ne publie pas ses comptes. La presse britannique s'en est émue. Elle réclame plus de transparence dans ce dédale de sociétés gigognes. Blair a répondu avec un bel aplomb : «Je dirige une petite affaire. Et je l'adore.»
 
Au demeurant, comme on l'a dit, il n'est pas le premier à flirter avec les limites de la décence. Quand il quitte la Maison-Blanche au début de 2001 avec 12 millions de dollars de dette d'avocats (merci Monica), Clinton n'a qu'une hâte : se refaire, en propulsant le discours payé dans la seule division qui compte outre-Atlantique, celle des plus de 100 000 dollars. En huit ans, il va empocher l'équivalent de 36 millions d'euros, certains discours étant rémunérés plus de 360 000 euros. Parmi ses clients, des banques comme Goldman Sachs ou Citigroup, dont ses amis démocrates préféreraient aujourd'hui oublier le nom... Clinton ne chôme pas. En 2006, il prononce 352 discours ! Il est vrai que les quatre cinquièmes de ces causeries sont proposées gratuitement, ou au profit de sa fondation. Mais cela laisse quand même, pour la seule année 2006, près de 7 millions d'euros pour son compte personnel.
 
La SA Clinton est une machine parfaitement huilée, qui scanne des milliers de demandes de discours payés pour ne retenir que les plus respectables. Dans certains cas, le Clinton show a des airs de match au Parc des Princes, avec ses loges d'honneur et ses gradins tout en haut du virage Boulogne. En 2006, lors d'une apparition en Irlande, les fans ayant payé 700 euros ont accès à un cocktail avant le speech. Pour 2 800 euros, ils repartent avec une photo de l'ex-président et un exemplaire dédicacé de son autobiographie. A 10 000 euros, bingo, les entreprises sponsors se retrouvent à la table de Bill !
 
Mais le professionnalisme n'interdit pas les dérapages... En 2007, Clinton doit rompre son partenariat avec l'homme d'affaires Ronald Burkle, dont la réputation controversée risquait de torpiller la carrière politique de Hillary. Il a coupé tous les ponts avec «Ron» en mars dernier, abandonnant une carrière de conseiller de fonds d'investissement qui lui aura tout de même rapporté 8 millions d'euros. Revenu aux discours - en nombre réduit pour ne pas gêner Hillary -, Bill croise parfois le dernier venu sur le circuit, un certain George W Bush. On avait prédit un peu vite que son impopularité réduirait à néant la valeur marchande du sortant. «W» a tout de même donné 32 speeches en 2009, dont une apparition au côté de Bill Clinton.
 
Le Texan, pour l'instant, se contente de discours. Marchera-t-il sur les traces de son père ? Bush Ier a fait une carrière d'orateur plus qu'honorable (il peut encore demander 70 000 euros pour un discours), mais il s'est surtout investi dans le Carlyle Group, première société de private equity (fonds d'investissement) au monde. Carlyle, qui gère plus de 55 milliards d'euros d'actifs, a accueilli dans son conseil Jim Baker, ex-secrétaire d'Etat de Bush, et l'ancien Premier ministre britannique John Major. On ne connaît pas la fortune personnelle de Bush Sr, mais elle se chiffre sûrement en dizaines, voire centaines de millions de dollars. Et Al Gore marche sur ses traces.

L'affaire « North Stream »
 
L'an dernier, le quasi-président a rejoint comme partner une prestigieuse entreprise de capital-risque de la Silicon Valley. Difficile, là encore, d'apprécier son patrimoine. On connaît le montant de l'une de ses prises de participation : il a mis de sa poche 24 millions d'euros dans un groupe de sociétés d'investissement...
 
Dans la classe des ex, Gore est le bon élève : il n'investit que dans des projets spécifiquement écolos (non moins lucratifs pour autant, vu les fantastiques perspectives de développement du green business). Le cancre, à l'opposé, serait l'ex-chancelier allemand Gerhard Schröder, le moins timoré - et le plus contesté de la bande. «Gerhard aime trop l'argent. Il est trop pressé. Il exagère. Ce n'est pas bon pour les sociaux-démocrates allemands», avoue avec un pincement de nez un proche de Frank-Walter Steinmeier, le leader SPD au Bundestag. Chef d'accusation ? Son fauteuil d'ex-chancelier était encore tiède quand il a pris la tête d'une entreprise germano-russe qu'il avait lui-même mise sur orbite trois mois auparavant. Peu importe, au fond, que l'ancien «ami des patrons» soit devenu le conseiller spécial de Ringier, géant de l'édition suisse, puis celui de la banque Rothschild, ou qu'il sacrifie à son tour au rituel des conférences organisées par l'agence Harry Walker. Ce qui choque, c'est son poste de président du comité des actionnaires de la North-European Gas Pipeline Company - «North Stream» pour les initiés -, filiale du géant public Gazprom, le bras séculier de la politique étrangère de la Grande Russie.
 
Seule consolation pour les défenseurs de Schröder : il est tout de même plus classe que Mikhaïl Gorbatchev, un has been dans son pays, contraint d'apparaître dans un spot pour Pizza Hut - «A-t-il apporté la liberté ou le chaos à la Russie ? Mieux, la Pizza Hut !» - ou une pub Vuitton, assis à l'arrière d'une Zil, la voiture de la nomenklatura. Pour un homme qui a liquidé le système soviétique et changé la face du monde...

Jean-Gabriel Fredet, Jean-Baptiste Naudet, Philippe Boulet-Gercourt
Le Nouvel Observateur, Nº 2359 - 21 a 27 Janeiro 2010

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

ESTACIONAMENTO



A EMEL prepara-se para propor à Câmara Municipal de Lisboa um aumento do preço do estacionamento na cidade em 40%. Que a EMEL não tem vergonha, já o sabíamos. Presume-se, também, que a CML, que certamente aprovará estes aumentos, não a tenha igualmente.


Já lá vai o tempo em que as ruas eram dos portugueses Agora pertencem a empresas mais ou menos privadas que se aproveitam das necessidades dos cidadãos para esportular até ao osso todos quantos, por vezes com absoluta necessidade, utilizam  uma viatura. As despesas com um carro crescem sucessivamente desde há anos. O custo, a manutenção, o seguro, o combustível, o imposto de circulação (mais vulgarmente designado por selo) , as revisões periódicas, as inspecções legais, e por fim o estacionamento. E não vamos ficar por aqui. Sem contar as multas indevidamente passadas, os carros indevidamente bloqueados, os parquímetros avariados que engolem as moedas e não fornecem talões, os arrumadores que duplicam os parquímetros, etc. etc. Com a agravante máxima de já não se saber exactamente aonde se pode ou não estacionar sem pagar!!!


É verdade que o país está a saque, mas mesmo assim seria conveniente que o roubo se processasse com alguma parcimónia e que não vitimasse sistematicamente quem tem menos recursos. Os vereadores da CML, como os das outras câmaras municipais que se dedicam também à nobre actividade de despojar os automobilistas de alguns euros diários, bem como os patrões de todas as EMEIS deste país, têm carro privativo com motorista às ordens, nunca pagam estacionamento nem são multados, e se o fossem, seriam as câmaras e as empresas a pagar a "transgressão".


É por causa desta inacreditável "chulice", desta e de muitas outras, que muitos portugueses se interrogam já quanto aos benefícios da DEMOCRACIA.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

MINISTÉRIO PÚBLICO



Publicado por Tomás Vasques no blogue "Hoje há conquilhas amanhã não sabemos"

O deboche

Escutas a Pinto da Costa foram colocadas no Youtube. Há gente no Ministério Público que já há muito tempo que entrou em rota de colisão com o Estado de Direito (recuso ouvir estas escutas, como recuso piratear filmes na internet).

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A HIDRA DE TRÊS CABEÇAS

Não acompanhei as peripécias políticas que conduziram à elaboração do Tratado de Lisboa, que era suposto facilitar a "governabilidade" da União Europeia. Assim, julgara (confesso a minha ingenuidade) que a presidência semestral seria substituída por um presidente não rotativo com um mandato mais alargado. Verifico agora o meu engano. Ao presidente da União (chefe de Estado) Herman van Rompuy e ao presidente da Comissão (chefe do Governo) José Manuel Barroso, continua a juntar-se um presidente semestral, neste caso da presidência espanhola o presidente do Governo José Luis Zapatero.

Por isso, acho oportuno transcrever o artigo de Jean-Gabriel Fredet, com o título "L'hydre aux trois têtes", publicado no Nouvel Observateur desta semana (Nº 2358 - 14 a 20 de Janeiro)


x x x


En instituant un président de l'Union européenne, les rédacteurs du traité de Lisbonne espéraient la doter d'un exécutif musclé. Raté ! En choisissant comme premier titulaire du poste Herman Van Rompuy, personnalité falote, les chefs d'Etat et de gouvernement des Vingt-Sept ont tout fait capoter. Non seulement c'est José Manuel Barroso, reconduit à la tête de la Commission européenne, qui apparaît aujourd'hui comme le véritable homme fort de l'Europe, mais les initiatives de José Luis Zapatero, en charge depuis le 1er janvier de la présidence tournante de l'Union, ont encore contribué à brouiller les cartes. Pour donner du poids à sa présidence semestrielle, le premier ministre espagnol a décidé de s'entourer d'un «comité des sages» : Felipe Gonzalez, inventeur de la démocratie ibérique et ancien candidat à la présidence de l'Union, Pedro Solves, ancien commissaire aux Affaires économiques et monétaires, et Jacques Delors, lui-même ex-président de la Commission. Du lourd. Seulement voilà : avec désormais trois présidents au lieu d'un seul, comment assurer l'imperium du «président de l'Union» ? Premier casse-tête, l'agenda européen.
Alors que Herman van Rompuy convoque les chefs d'Etat à un sommet, le 11 février prochain, pour étudier les moyens de doper la croissance, le chef de gouvernement espagnol veut rendre «contraignants» les objectifs de l'agenda de Lisbonne lancé en 1999, pour développer une «économie de la connaissance» qui, faute de volonté politique, s'est totalement enlisée. A Madrid, la semaine dernière, au déjeuner réunissant les trois «présidents», Barroso a surenchéri, bien décidé à ne pas se laisser voler la vedette : jamais dans son histoire, l'Europe n'a eu autant besoin d'une expansion forte et d'une offre compétitive. Mais qui coordonnera cette nouvelle stratégie ? Barroso lui-même, aux abonnés absents pendant la crise financière ? Van Rompuy, l'initiateur d'une relance de la relance ? Ou Zapatero, partisan d'un plus grand volontarisme ?


segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

TRAGÉDIA TELEVISIVA


As televisões nacionais, e presumo que as de todo o mundo, têm-se empenhado em divulgar imagens da tragédia que atingiu o Haiti. As grandes catástrofes constituem sempre matéria muito apreciada pelos canais televisivos, pois permitem-lhes ocupar o tempo do noticiário com temas diferentes do insuportável quotidiano que costumam bolsar sobre os telespectadores. Só que a ignorância e a estupidez dos jornalistas não têm limites e as reportagens que nos chegam são duplamente chocantes: chocam-nos porque nos mostram, por vezes até à exaustão, imagens de uma cidade destruída, e chocam-nos pela inanidade e insanidade das entrevistas e comentários, que revelam de forma gritante que os jornalistas, os de cá e os que foram para lá, não compreendem nem respeitam a extensão da tragédia, e que tudo lhes serve para encher o tempo de antena.

sábado, 16 de janeiro de 2010

SAMIH AL-QASIM


CINZAS


Não sentes que perdemos tanto,

Que o nosso “grande” amor é agora só palavras,

Que não há mais saudade, nem urgência,

Nem verdadeira alegria nos nossos corações,

E quando nos encontramos não há desejo nos nossos olhos?

Não sentes que os nossos encontros são gelados,

Os nossos beijos frios,

Que perdemos o ardor dos contactos

E agora apenas trocamos palavras delicadas

Ou esquecemo-nos de todo de nos encontramos

E demos falsas desculpas?

Não sentes que as nossas curtas e apressadas cartas

Necessitam de sentimento e espírito,

Não contêm suspiros e sonhos de amor,

Que as nossas respostas são demoradas e difíceis?

Não sentes que um mundo se desmoronou

E outro se ergueu?

Que o nosso fim será mais amargo e assustador

Porque o fim não cai sobre nós de repente

Mas vem de dentro de nós?