segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

CÉLINE


Finalmente, as ed. Gallimard publicam, na Bibliothèque de la Pléiade, as Lettres, de Louis- Ferdinand Céline, numa edição estabelecida por Henri Godard e Jean-Paul Louis. Um volume de 2 080 páginas, pelo preço de € 59.

Esta correspondência cobre o espectro 1907-1961 e resulta de um trabalho minucioso de recolha das cartas escritas por Louis-Ferdinand Destouches (1894-1961) , conhecido pelo pseudónimo de Céline. Trata-se da primeira edição da correspondência completa, e muitas das cartas agora publicadas são inéditas, especialmente as do período de juventude, ainda que outras tivessem já sido editadas (Devenir Céline. Lettres inédites de Louis Destouches et de quelques autres, 1912-1919 e Lettres à Joseph Garcin, 1929-1938). Através desta correspondência, absolutamente espontânea, ao contrário de outros escritores cuja actividade epistolar se destinou à posteridade, pode reconstituir-se o percurso intelectual de Céline e a evolução do seu pensamento. Os correspondentes são a família (o pai e a mãe), os tradutores, os críticos, os jornalistas, os confidentes e o seu editor, Gaston Gallimard, a quem se destina a última carta, anunciando a chegada do manuscrito de Rigodon, escrita na véspera de ser vítima de uma congestão cerebral.

Os seus panfletos (Bagatelles pour un massacre, L'école des cadavres, Les Beaux Draps), cuja reedição continua proibida por vontade da viúva, Lucette Destouches, agora com 96 anos, após a sua morte serão certamente objecto de um volume crítico na Pléiade, que reúna os chamados "textos malditos", aliás hoje facilmente descarregáveis na Internet. A viúva tem-se sempre oposto à reimpressão, para não ter de enfrentar um previsível escândalo, se é que os escritos do célebre autor de Voyage au bout de la nuit ainda escandalizarão alguém nos nossos dias.

3 comentários:

Anónimo disse...

Espero bem que a Pleiade,que conserva uma reconhecida exigência de nivel,nunca publique os panfletos de virulento anti-semitismo que Céline publicou no fim dos anos 30 e republicou em 42 sob os auspícios do Propaganda Staffel. Admito que Celine seja um escritor relevante na literatura francesa. Pessoalmente gostei do "D'un Chateau l'Autre" e não tive paciência(talvez por razões circunstanciais)para ler até ao fim o "Voyage". Admito que seja,de facto um escritor importante. Mas isso não o desculpa de ter escrito,num momento grave de perseguição sistemática e extermínio de seres humanos por pertencerem a uma suposta etnia, textos odiosos e èticamente repugnantes, apelando à eliminação da raça judaica,que poluiria a virginal França. Esclareço desde já que não li esses textos na íntegra,mas o pouco que está publicado parece esclarecedor. Diga-se de passagem que a sua viúva tem declarado que não autoriza a reedição dos panfletoa a pedido expresso do próprio Céline. Gostaria ainda de recordar que Ernst Jünger refere,no seu "Diário de Paris", a sua surpresa num encontro com o escritor,com a sua violência anti-semita,increpando os alemães por não fazerem uso mais frequente das suas baionetas extirpando de vez a raça maldita.
Temo que os elogios a Céline que vão aparecendo na nossa blogosfera não resultem tanto de admiração pelo estilista inovador,mas de pretexto para validar um anti-semitismo primário,cobarde(na altura,com a cobertura nazi)e indefensável. Os panfletos poderão aparecer ou ser elogiosamente citados nos nossos blogues. Na Peiade,graças a Deus,nunca.J'ai toujours eu une certaine idée de la France.

Anónimo disse...

Para ser exacto,como procuro sempre ser,e não me arriscar a ser corrigido por outros,aqui vai a precisa e magnífica fórmula introdutória do General,que por muitas razões subscrevo: "Toute ma vie,je me suis fait une certaine idée de la France."

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

PARA O ANÓNIMO DAS 23:33:

A alusão à eventual publicação na Pléiade foi feita por um estimado e respeitado escritor e blogger, por sinal judeu: Pierre Assouline!