domingo, 24 de novembro de 2019

"Z" DE COSTA-GAVRAS

 

Revi esta tarde, em vídeo, o famoso filme Z, do realizador grego Costa-Gavras (n. 1933), baseado no romance homónimo (1967) de Vassili Vassilikos.

Assisti à estreia deste filme em Paris, em Abril de 1969, na companhia do pintor Manuel Cargaleiro, em casa de quem estava passando uns dias de férias. No fim da projecção, Costa-Gavras, com quem cheguei a falar, dirigiu-se ao palco e dialogou com a assistência, que lhe colocou várias questões. Estávamos ainda no rescaldo do Maio de 68 e Paris era uma cidade animada. Cinquenta anos depois tudo é muito diferente, cinquenta anos é muito tempo e confesso que já nem me recordava dos pormenores do filme, que voltei hoje a ver com prazer e alguma emoção.

Servido por um excepcional elenco de actores, Z conta-nos a história do assassinato de um deputado da oposição de esquerda, na Grécia, em 1963, após ter falado num comício contra a instalação de mísseis balísticos americanos no seu país. A polícia concluiu que se tratou de um acidente, mas um juiz de instrução conseguiu reunir provas de que foi realmente um crime perpetrado por ordem de membros do governo grego. Os autores e cúmplices, incluindo altas patentes policiais, são indiciados mas as testemunhas morrem todas em circunstâncias estranhas. E os condenados são-no apenas a leves penas. Pouco tempo depois ocorre na Grécia um golpe militar e os aliados do deputado morto são perseguidos, sendo instaurado um severo regime de censura.

Convém recordar que em Abril de 1967 se verificou na Grécia um golpe de Estado protagonizado por um grupo de coronéis, que dirigiu o país, através de uma Junta Militar chefiada por Georgios Papadopulos, até Julho de 1974. Em Dezembro de 1967, o rei Constantino II foi obrigado a fugir do país, na sequência de uma fracassada tentativa de contra-golpe. Em Junho de 1973 a Junta aboliu a monarquia, que continuara como regime, e proclamou a república.

Ostensivamente, no início do filme, cujo argumento é de Jorge Semprún e de Costa-Gavras, a partir do romance supracitado, é referido que qualquer semelhança com pessoas ou eventos da vida real não é coincidência, é mesmo intencional.


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