sábado, 9 de novembro de 2019

A QUEDA DO MURO DE BERLIM





Completam-se hoje 30 anos sobre a queda do Muro de Berlim. Recordo-me perfeitamente das imagens que passaram nas televisões e deram a volta ao mundo. Foi um acontecimento porventura inesperado e não duvido de que a maioria dos que celebraram entusiasticamente o facto não adivinhavam então as consequências que dele decorreriam.

A queda do Muro prenunciou a reunificação da Alemanha, a dissolução das democracias populares do Leste europeu e, menos previsivelmente, o colapso da União Soviética. Para estes acontecimentos contribuíram de forma decisiva os Estados Unidos da América e o Mundo Ocidental em geral, com destaque para o papa João Paulo II (Polónia oblige). A ideia mítica de que os países comunistas acabavam de adquirir a democracia e a liberdade não foi então acompanhada da ideia mais realista de que o desmoronamento do sistema comunista implicaria o fim do sistema social que vigorava nesses países. Nem os países da esfera ocidental, que usufruíam de um estado social razoável previram que o mesmo começaria a minguar quando já não era preciso seduzir os povos de Leste.

Aliás, a intensificação da campanha contra o bloco comunista começou com a desregulação do sistema financeiro internacional levada a cabo por Reagan e Thatcher e que seria coroada pela globalização económica e pela instauração do monoteísmo do mercado. O mundo bipolar da guerra fria era substituído por um mundo unipolar ocidental, sob a égide dos Estados Unidos, que provocaria o desmembramento da Jugoslávia, a invasão do Iraque, o bombardeamento da Líbia, a guerra civil na Síria, e mesmo a criação do Daesh. Só muito recentemente, com a liderança de Vladimir Putin na Rússia e de Xi Jinping na China, com as peripécias do Brexit e a crise da União Europeia, com o enfraquecimento da NATO e a imprevisibilidade de Trump, com a tentação imperial de Erdoğan e o desenvolvimento da Índia de Modi, se começou a restabelecer um mundo multipolar.

O quase meio século de regime comunista na Alemanha criou raízes e são muitos os que, ainda hoje, por ele nutrem saudades. Basta viajar pela antiga Alemanha Oriental para confirmá-lo. A República Federal da Alemanha não conseguiu homogeneizar, ou não quis, todo o território do país. São grandes as assimetrias sociais, predominando a Oeste uma perspectiva mais consumista e a Leste uma preocupação mais cultural. Já era assim no período transacto.

Muito haveria a dizer sobre tudo o que ocorreu desde 1989 ou desde 1991, quando a União Soviética foi dissolvida, acontecimento que Putin classificou como «a maior tragédia política do século XX». Julgo poder afirmar-se mesmo que o dito século XX terminou nessa data. Mas estas breves considerações são tão só um apontamento para recordar uma data e não pretendem discorrer sobre as ambições e loucuras de homens julgados insuspeitos e que se revelaram neste tempo pretérito verdadeiros criminosos de guerra.


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