Completam-se hoje 30 anos sobre a queda do Muro de Berlim.
Recordo-me perfeitamente das imagens que passaram nas televisões e deram a
volta ao mundo. Foi um acontecimento porventura inesperado e não duvido de que
a maioria dos que celebraram entusiasticamente o facto não adivinhavam então as
consequências que dele decorreriam.
A queda do Muro prenunciou a reunificação da Alemanha, a
dissolução das democracias populares do Leste europeu e, menos previsivelmente,
o colapso da União Soviética. Para estes acontecimentos contribuíram de forma
decisiva os Estados Unidos da América e o Mundo Ocidental em geral, com
destaque para o papa João Paulo II (Polónia oblige).
A ideia mítica de que os países comunistas acabavam de adquirir a democracia e
a liberdade não foi então acompanhada da ideia mais realista de que o
desmoronamento do sistema comunista implicaria o fim do sistema social que vigorava
nesses países. Nem os países da esfera ocidental, que usufruíam de um estado
social razoável previram que o mesmo começaria a minguar quando já não era
preciso seduzir os povos de Leste.
Aliás, a intensificação da campanha contra o bloco comunista
começou com a desregulação do sistema financeiro internacional levada a cabo
por Reagan e Thatcher e que seria coroada pela globalização económica e pela
instauração do monoteísmo do mercado. O mundo bipolar da guerra fria era
substituído por um mundo unipolar ocidental, sob a égide dos Estados Unidos,
que provocaria o desmembramento da Jugoslávia, a invasão do Iraque, o
bombardeamento da Líbia, a guerra civil na Síria, e mesmo a criação do Daesh.
Só muito recentemente, com a liderança de Vladimir Putin na Rússia e de Xi
Jinping na China, com as peripécias do Brexit e a crise da União Europeia, com
o enfraquecimento da NATO e a imprevisibilidade de Trump, com a tentação
imperial de Erdoğan e o desenvolvimento
da Índia de Modi, se começou a restabelecer um mundo multipolar.
O quase meio século de regime comunista
na Alemanha criou raízes e são muitos os que, ainda hoje, por ele nutrem
saudades. Basta viajar pela antiga Alemanha Oriental para confirmá-lo. A
República Federal da Alemanha não conseguiu homogeneizar, ou não quis, todo o
território do país. São grandes as assimetrias sociais, predominando a Oeste uma perspectiva mais consumista e a Leste uma preocupação mais
cultural. Já era assim no período transacto.
Muito haveria a dizer sobre tudo o que
ocorreu desde 1989 ou desde 1991, quando a União Soviética foi dissolvida,
acontecimento que Putin classificou como «a maior tragédia política do século
XX». Julgo poder afirmar-se mesmo que o dito século XX terminou nessa data. Mas
estas breves considerações são tão só um apontamento para recordar uma data e
não pretendem discorrer sobre as ambições e loucuras de homens julgados
insuspeitos e que se revelaram neste tempo pretérito verdadeiros criminosos de
guerra.
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