domingo, 27 de outubro de 2019

QUATRO ÚLTIMAS CANÇÕES



Por sugestão da Profª Maria Alzira Seixo li agora Quatro últimas canções, de Vasco Graça Moura.

Conheci o Vasco (que era três anos mais novo do que eu) em finais da década de 50 do século passado, quando ele veio para casa de uns tios em Algés, para estudar na Faculdade de Direito de Lisboa. O filho dos tios era meu amigo e daí passámos a conviver quase diariamente. Nessa altura, o Vasco já escrevia poesia e até criámos uma tertúlia cultural num dos cafés de Algés. Eram outros tempos e Algés tinha uma dúzia de cafés abertos até à meia-noite que eram ponto de reunião e de leitura de estudantes liceais e universitários. Hoje tudo acabou. Como sucede muitas vezes, seguimos trajectórias distintas e o nosso convívio passou a ser muito espaçado, acabando por quase se reduzir a encontros em espectáculos ou sessões culturais. Porém, mantivemos sempre uma relação de amizade até à sua morte.

Tinha adquirido o livro em 1987, quando foi publicado, mas por qualquer razão, certamente devido ao facto de comprar mensalmente dúzias de livros, nas livrarias, alfarrabistas e leilões e encomendados ao estrangeiro e  escasseando por isso  o tempo para ler todos, este ficou repousado na minha biblioteca até ver no FB a entusiástica chamada de atenção de Maria Alzira Seixo, que foi a pessoa que então apresentou a obra.

Lido agora, achei-o interessante mas não deslumbrante. Tendo quase sempre por pano de fundo a Casa de Mateus, a que Vasco esteve ligado, focado nos amores e desamores, no sexo ou ausência dele, na pertinente caracterização das personagens (especialmente do Norte, um pouco à maneira de Agustina Bessa-Luís, mas noutro registo) que povoam a obra, esta tem um leit-motiv musical a que recorre o título, as "Quatro últimas canções", de Richard Strauss, sendo que a Casa de Mateus foi e é um templo de cultura, sobretudo de música.

O livro está recheado de alusões e citações culturais, o que não surpreende ou não fosse Vasco Graça Moura um homem de vasta e diversificada cultura. Para quem o conheceu de perto, ainda que na juventude, o desenrolar da estória ajusta-se perfeitamente ao que ele já pensava das pessoas, dos seus vícios e das suas virtudes. E reflecte também a sua visão de Portugal.

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