segunda-feira, 14 de outubro de 2019

O SEGREDO DE D. PEDRO V



Estando a arrumar alguns livros, encontrei deslocado da secção respectiva O Segredo de Dom Pedro V, de Júlio de Sousa e Costa. Comprara-o há muitos anos mas nunca o tinha lido. Fi-lo agora.

Júlio de Sousa e Costa, nascido em 1877, foi funcionário público, jornalista e autor de diversas obras sobre matéria histórica e literária e nomeadamente de um livro com muito êxito sobre a Severa. Não é propriamente um historiador mas o volume em apreço não deixa de revelar algum interesse dado o facto de Sousa e Costa ter ainda privado com pessoas contemporâneas do falecido monarca.

O título foi provavelmente escolhido como chamariz, já que o "segredo" ocupa apenas um dos vinte e quatro capítulos do livro sem ficar devidamente esclarecido. Mas o assunto paira ao longo de toda a obra que é, na verdade, uma história resumida de alguns aspectos do reinado de D. Pedro V.

Escrito de uma forma "impressionística", mas não deixando de mencionar as fontes, o livro debruça-se sobre a figura do rei, simultaneamente afável e severo, carinhoso mas brusco, imprevisível nas suas decisões, infeliz durante toda a curta vida. A obra é baseada em notas do general Cláudio de Chaby, padrinho e amigo de Sousa e Costa e próximo da Casa Real, e pretende "carrear algumas achegas para a história completa da excelente pessoa». Regista também alguma petite histoire do tempo, além de recorrer aos trabalhos sobre D. Pedro V, do conselheiro Júlio de Vilhena, e da correspondência da rainha D. Estefânia.

Sobre a vida íntima do rei, escreve o autor que algo de muito concreto se poderia saber se fossem publicados os apontamentos do 8º Conde da Ponte, João de Saldanha da Gama Melo Torres Guedes de Brito (1816-1874), que foi ajudante de campo do monarca e seu amigo sincero. Existirão ainda esses documentos ou terão sido destruídos?

O chamado segredo de D. Pedro V (1837-1861), rei em 1855, não constitui hoje exactamente um segredo, como de resto já não constituía verdadeiramente à época.  D. Pedro V era ou homossexual, ou impotente, ou ambas as coisas. Não apreciava as mulheres e teve a maior relutância em aceitar casar-se, tendo-o feito devido à exigência da sua posição. A escolhida, por influência da rainha Vitória (a casamenteira real da época), foi a princesa Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen (1837-1859), uma excelente opção, prematuramente morta. Depois de viúvo, D. Pedro V, que aliás não lhe sobreviveu muito tempo, recusou terminantemente um segundo casamento. Aliás, o casamento com D. Estefânia não foi consumado. Tendo esta falecido de difteria, a autópsia revelou o hímen intacto. Na altura, os médicos, compreensivelmente, não divulgaram o facto, mas em 1909, na revista "Medicina Contemporânea", o prof. Ricardo Jorge revelou que a rainha havia morrido virgem. Aquando do funeral, já o prof. Bernardino Gomes, um dos médicos autopsiantes, dissera à Duquesa da Terceira, camareira-mor, para substituir na cabeça da defunta o diadema por uma capela de flores de laranjeira.

Sendo uma história do reinado, contém o livro outras informações interessantes e porventura desconhecidas da história oficial, mas o motivo deste post foi apenas o título do livro, ficando para outra ocasião qualquer matéria que justifique voltar ao assunto.

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