domingo, 29 de julho de 2018

CRISTO RECRUCIFICADO



Nas minhas férias em Creta costumo ficar instalado num hotel em Ammoudara, a cerca de 10 km de Heraklion (ou Iraklio), a capital da ilha. Em estadas anteriores, desloquei-me algumas vezes à cidade, onde visitei os mais importantes locais de interesse cultural (monumentos, museus, igrejas, etc.), como igualmente visitei as ruínas de Cnossos, onde emergiu a célebre civilização Minoica, exumada por Arthur Evans no século XIX. Dessas deslocações dei conta aqui, aqui, aqui e aqui.



Havia, contudo, uma lacuna nas peregrinações por essas terras que albergaram uma das mais antigas civilizações conhecidas. E que, desta vez, me apressei a colmatar. Nunca visitara o túmulo de Nikos Kazantzakis, o célebre romancista (e dramaturgo) grego (1883-1957), natural de Creta, e autor de obras famosas como O Destino de Deus (São Francisco de Assis), Alexis Zorba, A Liberdade ou a Morte, A Última Tentação de Cristo ou Cristo Recrucificado.



O facto de o Teatro Experimental de Cascais (TEC) ter agora em cena uma adaptação da adaptação ao teatro de o Cristo Recrucificado (Ο Χριστός Ξανασταυρώνεται), livro publicado em francês em 1948 e em inglês em 1964, obra também conhecida no mundo anglo-saxónico como The Greek Passion, reforçou a minha vontade de me dirigir ao sul de Heraklion para visitar a sepultura.



O espectáculo que o TEC apresenta é uma adaptação da peça de François Daviel, que adaptara ao teatro o romance de Kazantzakis (1962). Existe também uma versão cinematográfica da obra, realizada por Jules Dassin, intitulada Celui qui doit mourir (1957), e uma ópera de Bohuslav Martinů, com o título A Paixão Grega (Řecké pašije).


Celui qui doit mourir (El que debe morir, na edição espanhola)

Nikos Kazantzakis foi um infatigável combatente pela independência da Grécia, um lutador solitário que colocou a pena ao serviço dos ideais que nortearam a sua vida, a defesa dos pobres e dos oprimidos contra as injustiças, os egoísmos, as humilhações. Esta sua derradeira obra é também uma interrogação sobre uma questão fundamental, de grande pertinência num país maioritariamente ortodoxo praticante à altura em que foi escrita: Ainda há lugar para Cristo no mundo moderno?


2 comentários:

Donatella disse...

Boa tarde Sr. Julio!
Por um feliz acaso tomei conhecimento do seu ("perdão, uso a 2a. sing porque sou brasileira...) e fiquei muito satisfeita com o conteúdo. Sou admiradora de Nikos Kazantzákis há muitos anos. Faço parte da SIANK Sociedade Internacional dos Amigos de Nikos Kazantzákis), um grupo de simpatizantes e divulgadores da obra de Kazantzákis que existe aqui em São Paulo desde 2003. Neste ano estamos comemorando o aniversário de 30 anos de existência da SIANK e 15 anos da SIANK no Brasil.
Parabéns pelo excelente trabalho!
Marisa Ribeiro Donatiello

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

Muito obrigado pela seu comentário e felicitações. Nikos Kazantzakis é um grande escritor do nosso tempo.