terça-feira, 28 de novembro de 2017

OS CRISTÃOS DO ORIENTE (III)




Continuando o post anterior:

Nos últimos tempos do Império Otomano, o regime suprimiu o estatuto de dhimmi, reservado aos  cristãos e judeus desde o início do Islão. Assim, os cristãos tornaram-se formalmente iguais aos muçulmanos, ainda que estes não o reconhecessem.

Nos anos 1840 a Bíblia foi traduzida em árabe pelos missionários ingleses instalados em Beirute. A partir de então, e devido ao impulso de Butros Al-Bustani e dos seus companheiros, foi empreendido um imenso trabalho lexicográfico destinado a adaptar a língua árabe ao mundo moderno. Com a edição de dicionários e gramáticas, a língua árabe deixou de ser apanágio dos sheikhs muçulmanos o que foi considerado intolerável pelos meios tradicionais. Nem as reformas de Mehemet Ali haviam provocado semelhante abalo.

Na década de 40 do século passado os cristãos criaram partidos transcomunitários ou pan-árabes (Partido Baath, Partido Nacional Sírio, etc.). Muitos cristãos aderiram ao Partido Comunista. Só o Líbano viu nascer partidos confinados à comunidade cristã, embora defendendo, segundo a sua própria visão, o interesse nacional.

A insegurança dos cristãos levou-os muitas vezes a apoiar regimes ditatoriais, o que criou atritos com os muçulmanos, que viram e vêem nesses regimes a influência do Ocidente.

O mosaico do Mashrek compreende numerosos grupos religiosos cristãos que pertencem a diferentes Igrejas independentes umas das outras. Cada um desse grupos possui um património diferente. Mas têm todas uma cidade em comum donde as Igrejas tiraram o nome: Antioquia  (Antakia), que ocupava o quarto lugar na Pentarquia, depois de Roma, Constantinopla e Alexandria e antes de Jerusalém. No seio da Igreja de Antioquia existem dois grandes patrimónios que se dividiram ao longo dos séculos: o património síriaco e o património bizantino (ou grego).

A Igreja de Antioquia distingue-se das outras Igrejas ortodoxas, porque estava presente no momento da expansão do islão. Foi o que deu origem ao nascimento de uma teologia ortodoxa de língua árabe.

As nações modernas apareceram com o desmoronamento do Império Otomano mas Antioquia continuou a ser a Igreja de toda a região e não seguiu a divisão das nações nascentes. Ao contrário, ultrapassou as fronteiras e as nações. A unidade fez-se então entre os cristãos que falavam a língua árabe. Os laços dos libaneses, dos sírios e dos iraquianos verificaram-se mais fortes do que as fronteiras políticas e administrativas.

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Procedemos, neste post e no anterior, à recolha de alguns aspectos que nos pareceram mais interessantes nos artigos publicados no dossier da revista "Qantara" dedicado aos Cristãos do Oriente. Os textos dos artigos, devido às posições dos seus autores, nem sempre se nos afiguraram absolutamente isentos (e académicos), contendo mesmo imprecisões e inexactidões que procurámos corrigir e esclarecer na medida do possível. É pena que o dossier não tenha incluído um panorama geral de todos os Cristãos do Oriente, indicando os ramos, as obediências, as regiões, a sua formação e evolução até aos nossos dias. Bem como todos os actuais dignitários e suas dependências. Um trabalho que, certamente, exigiria uma informação e coordenação que não estaria nos propósitos da direcção da revista. Contudo, o que se escreveu é suficientemente importante para todos aqueles que julgam que no Oriente não existem cristãos.

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