terça-feira, 7 de novembro de 2017

NO CENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO SOVIÉTICA




Passa hoje o centésimo aniversário da Revolução Comunista na Rússia, a chamada Revolução de Outubro, por ter ocorrido a 25 de Outubro de 1917, segundo o Calendário Juliano, correspondente a 7 de Novembro no mundo ocidental. Foi a primeira revolução comunista, inspirada nas teorias de Karl Marx, as quais rapidamente viria a abandonar parcialmente. A Revolução de Fevereiro levara à abdicação de Nicolau II e Kerensky ao poder, sem todavia alterar drasticamente a situação no país. Protagonizado por Lenin, com a colaboração de Trotsky, que viria a ser afastado e depois assassinado, o movimento dos Sovietes implicaria mudanças históricas e assustaria terrivelmente os países capitalistas. Era a primeira experiência do socialismo real que, com mão de ferro, Stalin impôs à Rússia, aos Estados que viriam a integrar a União Soviética, e aos países satélites que ficaram na órbita comunista depois da Segunda Guerra Mundial. Pode afirmar-se que foi o maior acontecimento político-social do século passado.

A guerra que se travou entre bolcheviques e "russos brancos", as deportações estalinistas, as purgas do regime, originaram milhões de mortos e deslocados, um preço demasiado elevado para os resultados obtidos. É certo que foram abolidos inexplicáveis privilégios de uma casta dirigente e que foi estabelecida uma maior justiça social, mas a União Soviética funcionou como um Estado policial, mesmo depois da morte de Stalin. A corrida aos armamentos face ao desafio ocidental estiolou a sua economia, a que fora retirada margem para qualquer iniciativa privada. O último chefe de Estado e secretário-geral do Partido, Mikhail Gorbatchov, não pôde, não soube ou não quis travar o desmoronamento da União Soviética. A Comunidade de Estados Independentes teve uma duração efémera e surgiu então à frente da Federação Russa um homem desprovido de quaisquer qualidades, Boris Yeltsin, que se transformou num vassalo dos interesses ocidentais, provocando profunda humilhação no povo russo.

Há milhares de livros sobre a Revolução Russa, sobre a União Soviética, e sobre a sua implosão. Estas linhas mais não se destinam do que a assinalar um acontecimento capital na História do século XX.

Vladimir Putin, desde 2000 à frente da Federação, tem procurado restaurar, não o regime comunista em que foi criado, mas o orgulho ferido da população russa, enfrentando, quando necessário, o Mundo Ocidental. Mas a queda do comunismo nos países soviéticos e satélites e a rápida instauração de um capitalismo selvagem em troca de algumas liberdades formais, não evitou uma profunda pauperização das populações, que a oligarquia vigente naturalmente não atenuou. A maioria daqueles que viveram ainda uma parte da sua vida sob o regime comunista, tantos imigrados em Portugal, não hesitam em dizer que se vivia melhor na vigência daquele regime.

Ainda não passou o tempo suficiente para se fazer um juízo definitivo do bem e do mal do regime comunista, que chegou a contar com a simpatia e apreço de uma larga parte da intelectualidade europeia e mundial, pelo menos até às intervenções na Hungria e na Checoslováquia, e de largas faixas das populações, e se projectou e radicou em países tão vastos como a China. Como tudo na vida, há quem exalte apenas os aspectos positivos, outros tão só os negativos. A proximidade dos acontecimentos impede o tal juízo sereno quanto ao balanço final. Se é que existem juízos definitivos na História!

Curiosamente, ou talvez não, não se verificarão comemorações, nem em são Petersburgo, nem em Moscovo.


1 comentário:

M.G.P.MENDES disse...

É certo que a instauração do regime comunista na URSS arrastou um número trágico de mortos!.... Mas que convulsão social não provocou derrame de sangue nas comunidades em que surgiram - a Revolução Francesa, a guerra civil americana....
Depois da "queda do muro", e das sucessivas passagens de Mikhail Gorbatchev e de Boris Eltsine pelo poder, o Ocidente passou a estigmatizar o actual habitante do Kremlin, Vladimir Putin.... Como se ele não devesse governar e defender da maneira que entende melhor o enorme território e a população ainda não refeita da entrada no "wellcome people to the rich and free world" !??

A historiadora, da Academia Francesa, Helène Carrère d'Encausse, especialista na análise histórica da Rússia dos Czares e da URSS, publicou um livro onde analisa a situação actual na era "Putin"..... E é brilhante!

- "LÁ RUSSIE ENTRE DEUX MONDES" - Librairie Arthème Fayard/Pluriel, 2011