segunda-feira, 16 de maio de 2016

A "FEDORA" em NÁPOLES



O Teatro di San Carlo, de Nápoles (sob a direcção artística de Paolo Pinamonti), apresentou no passado dia 3 deste mês a ópera Fedora, de Giordano, uma obra lírica poucas vezes mostrada nos palcos internacionais. Como espectador do Teatro de São Carlos, de Lisboa, ao longo de mais de quarenta anos de assídua frequência, recordo tê-la visto apenas uma vez.


Não sendo Umberto Giordano um compositor dos mais conhecidos - quando é citado evoca-se quase sempre a sua ópera Andrea Chénier - Fedora não é, todavia, uma obra menor, quer musicalmente, quer quanto ao argumento. Tal como Tosca, também Fedora começou por ser uma peça de teatro do dramaturgo francês Victorien Sardou, embora não viesse a recolher posteriormente, na versão lírica, os aplausos incondicionais da ópera de Puccini.

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Dispondo de um bom naipe de cantores, em que se distinguiu Fiorenza Cedolins na protagonista, esta produção contou com a participação da Orchestra del Teatro di San Carlo, dirigida por Asher Fisch, sendo a encenação do falecido Lamberto Puggelli, recreada por Salvo Piro.




O Teatro di San Carlo foi inaugurado em 4 de Novembro de 1737 (dia litúrgico de São Carlos Borromeo, que foi cardeal-arcebispo de Milão) tendo sido mandado construir pelo rei Carlos III de Espanha, do qual retirou o nome. É o teatro mais antigo da Europa que ainda se mantém em funcionamento, apesar de ter sido destruído por um incêndio em 12 de Fevereiro de 1816. Prontamente reconstruído, por determinação do rei Fernando I das Duas Sicílias (filho de Carlos III), reabriu portas em 12 de Janeiro de 1817, apenas dez meses depois (!!!, como estas coisas eram tão rápidas há dois séculos). Em 1844, o dourado e azul da decoração inicial (as cores dos Bourbons), foi substituído pelo dourado e vermelho que ainda hoje se mantém. Salvo a instalação da electricidade em 1890, o Teatro não sofreu desde então qualquer modificação, e mesmo os estragos decorrentes do bombardeamento pelos Aliados em 1943 foram rapidamente reparados. A sala de espectáculos é belíssima, ainda que os salões sejam relativamente modestos atendendo ao conjunto arquitectónico, nada que faça lembrar os do Palais Garnier ou da Wienstaatsoper.


Grandes compositores estrearam óperas suas no San Carlo, que foi durante um largo período uma das principais cenas líricas europeias. Entre eles, Rossini, Bellini, Verdi, Puccini, Mascagni e o próprio Umberto Giordano.



O nosso Teatro Nacional de São Carlos foi inaugurado poucos anos depois, em 30 de Junho de 1793, e inspira-se largamente no San Carlo de Nápoles. O próprio nome é uma homenagem à princesa Carlota Joaquina, mulher do príncipe João, futuro rei D. João VI.




O Teatro encontra-se anexado ao Palácio Real, embora este disponha também de um pequeno teatro (Teatrino di Corte) que é utilizado regularmente, como extensão da Sala Principal, para concertos ou representações de menor envergadura. A fachada do Palácio Real encontra-se em obras de restauro e, por isso, lamentavelmente oculta. A quantidade de edifícios públicos ou privados, monumentos, praças, ruas, etc. actualmente em obras de conservação (?), construção, escavação (prolongamento da rede do metro (?) e por aí fora confere a Nápoles um aspecto de estaleiro generalizado. Mas é o que há!, além de muito lixo, nomeadamente nas artérias mais frequentadas.


Nota: Fedora, enquanto peça de teatro de Victorien Sardou (1882), teve como grandes intérpretes a actriz francesa Sarah Bernhardt e a italiana Eleanora Duse, dois monstros sagrados da época. A Fedora, de Giordano, estreou-se no Teatro Lírico, de Milão em 17 de Novembro de 1898, com Gemma Bellincioni, na protagonista, e Enrico Caruso, e foi apresentada pela primeira vez no Teatro di San Carlo, de Nápoles, em 8 de Abril de 1901, com Angelica Pandolfini e Fernando De Lucia.

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