Passam
hoje 114 anos sobre o nascimento de uma das mais interessantes figuras
da vida político-cultural do século XX português: António Ferro.
Homem de pensamento e de acção, possuidor de um multifacetado talento, Ferro é o vanguardista que edita o Orpheu,
o jornalista que percorre a Europa, o Brasil, os Estados Unidos,
recolhendo o testemunho das mais célebres personagens da época, o
inspirador e impulsionador de uma política cultural que,
independentemente do ângulo por que se perspective, constituiu até hoje a
única tentativa séria, consistente e duradoura de promover com o apoio
do Estado a criação e a divulgação artística e literária.
A
sua permanência à frente do Secretariado da Propaganda Nacional
(S.P.N.), mais tarde Secretariado Nacional de Informação (S.N.I.), ao
longo de 17 anos (1933-1950), permitiu-lhe fomentar a criatividade dos
autores portugueses, nas artes e nas letras, difundir as correntes
modernistas estrangeiras e estabelecer as estruturas básicas de uma
acção cultural a nível nacional. O trabalho de Ferro abrange campos tão
diversos como as artes plásticas, o teatro e o cinema, a música e o
bailado, a poesia e a literatura em geral, a rádio, o turismo, o
cartazismo, a arte de expor. Arquitecto da “política do espírito”,
António Ferro é um homem de “bom gosto” que serve um Regime (o de
Salazar) e que se serve do Regime para impor convicções próprias, nem
sempre consonantes com a Figura Tutelar (mas que esta inteligentemente
aceita até entender que não é possível prosseguir a coexistência de
orientações que na ordem estética e no plano prático (por exemplo a
Censura) ameaçam uma fissura no edifício do Estado Novo. Nunca ficou
devidamente esclarecida a saída de Ferro do S.N.I. para a Legação de
Portugal em Berna. Não teria de o ficar publicamente, para mais naquela
época, mas mesmo em conversas com os filhos, há um quarto de século,
nada consegui adiantar, porque no fundo estes também nada sabiam, para
além do desejo do pai em ocupar um posto mais tranquilo.
Ao
longo de três décadas, António Ferro é, de facto, uma figura
intrinsecamente polémica, que desencadeia ódios e paixões, privilégio,
aliás, daqueles que, sabendo o que querem, são os únicos capazes de
despertar interesse na paisagem monótona e cinzenta das unanimidades
castradoras. Navegando entre as tendências modernistas da sua juventude,
em que acompanha Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, o entusiasmo
pelos regimes fortes, que o leva a admirar Mussolini, e o desejo de
realizar em Portugal um renascimento cultural, que tenta com o apoio
inequívoco de artistas e escritores e o apoio condicional de Salazar,
primeiro, e com uma já translúcida oposição de parte da intelligentsia
nacional e uma cautelosa reserva de Salazar, depois, António Ferro
prossegue a (sua) política do espírito, discutível, sem dúvida, mas
merecedora do reconhecimento nacional. Ele foi, avant la lettre e “avant Malraux”, o nosso primeiro ministro da Cultura.
* * *
Não
é possível dar conta, aqui, da vida e obra (obra literária e obra de
política cultural) de António Ferro. Por isso, limitar-me-ei a algumas
indicações, escusando-me, desde já, das omissões indesejáveis:
Em 1895 nasce em Lisboa, a 17 de Agosto, filho de António Joaquim Ferro e de Maria Helena Tavares Afonso Ferro.
Em 1912, com 17 anos, publica (em colaboração com Augusto Cunha) Missal de Trovas, livro de quadras ao gosto popular.
Em 1913 escreve poesia e teatro, textos que se perderam. A esse respeito, Fernando Pessoa anota no seu diário, em 30-3-1913: “Das 2 ¼ às 4 ½ em casa de António Ferro a ouvir-lhe três (?) peças. – Leu duas. – Depois para a Baixa com ele.” (Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação,
pág. 55 – Edições Ática, 1966). Ingressa na Faculdade de Direito, que
frequentará até 1919, não tendo concluído o curso, que será preterido a
favor do jornalismo.
Em 1915 é editor da revista Orpheu
que, fundada por Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada
Negreiros, Luís de Montalvor, etc., constitui o marco inicial do
modernismo em Portugal e da qual são publicados apenas dois números.
Segundo Alfredo Guisado, um dos seus directores, convém que (o
editor) seja ele (António Ferro) porque é menor e se surgir qualquer
complicação a sua responsabilidade não tem consequências.
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Cinema Olympia |
Em 1917, a 1 de Junho, profere no Salão Olímpia (que mais tarde, já velho cinema de reprise, se notabilizaria por outro tipo de espectáculos) a conferência As grandes trágicas do silêncio,
dedicada às três maiores artistas do cinema mudo italiano, Francesca
Bertini, Pina Menichelli e Lyda Borelli. Trata-se de uma manifestação
histórica, por ter sido a primeira conferência sobre cinema pronunciada
em Portugal, sendo editada nesse mesmo ano.
Em
1918 parte para Angola como oficial miliciano, sendo nomeado ajudante
do governador-geral, o comandante Filomeno da Câmara, que pouco depois o
nomeia (aos 23 anos), secretário-geral da Província.
Em 1919, regressado a Lisboa, é nomeado chefe de redacção de O Jornal.
Em 1920 é redactor de O Século e publica Árvore de Natal e Teoria da Indiferença, livro que o lança como escritor. Desloca-se ainda a Fiume para entrevistar Gabriele d’Annunzio.
Em 1921 publica Colette, Colette Willy, Colette e a famosa Leviana, que o consagra como modernista e mesmo futurista, e ainda o manifesto Nós, que mais tarde constituirá a contribuição portuguesa para o modernismo brasileiro.
Em 1922 publica Gabriele d’Annunzio e Eu, que reúne as reportagens, entrevistas e conversas com o grande poeta italiano. Faz crítica teatral no Diário de Lisboa, é director da Ilustração Portuguesa e escreve a peça Mar Alto.
Desloca-se ao Brasil com a Companhia Lucília Simões/Erico Braga e casa
por procuração com a poetisa Fernanda de Castro (a cerimónia em Lisboa
tem lugar na Igreja de Santa Isabel, com o cunhado Augusto Cunha a
servir de duplo do noivo, sendo testemunha no Brasil a actriz Lucília
Simões) que pouco depois vai reunir-se com ele no Rio de Janeiro. A 18
de Novembro, Mar Alto estreia-se no Teatro Sant’Ana, em S. Paulo, cidade onde Ferro profere as conferências A Idade do Jazz-Band e A Arte de Bem Morrer, posteriormente editadas em livro. A peça é depois representada no Teatro Lírico do Rio de Janeiro.
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Fernanda de Castro |
Em 1923 prossegue a tournée de conferências no Brasil e publica Batalha de Flores, em edição brasileira. José Lins do Rego e Carlos Drummond de Andrade dedicam-lhe entusiásticos artigos. A 10 de Julho Mar Alto
tem a sua estreia em Lisboa, no Teatro de São Carlos. O argumento
provoca um escândalo, há apupos e discussões exaltadas e para acalmar a
tempestade o próprio Ferro é obrigado a vir à boca de cena. No dia
seguinte a peça é proibida pelo governador civil de Lisboa, o que dá
origem a um protesto dos escritores portugueses dirigido ao então
presidente do Conselho de Ministros e ministro do Interior António Maria
da Silva, subscrito por Raul Brandão, António Sérgio, Fernando Pessoa,
Raul Proença, Aquilino Ribeiro, Jaime Cortesão, Alfredo Cortez, João de
Barros, Luís de Montalvor, etc. Em Agosto a proibição é levantada mas a
peça só voltará a subir á cena em 1984. Ainda neste ano entrevista
Mussolini em Roma, no Palácio Chigi. A 14 de Julho, nasce o primeiro
filho do casal, o futuro escritor António Quadros.
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António Quadros |
Em 1924 é publicado Mar Alto.
Em 1925, dedicado á memória de Mário de Sá-Carneiro, é publicado A Amadora dos Fenómenos. Funda com José Pacheco o Teatro Novo, a primeira tentativa de um teatro português de vanguarda, que funcionará no foyer do Cinema Tivoli, de saudosa memória. São apresentadas as peças Knock, de Jules Romain e Para Cada Um Sua Verdade,
de Pirandello e programadas peças de Almada Negreiros, Bernard Shaw,
Jean Cocteau, Tchekov, Alfredo Cortez, Carlos Selvagem, etc., mas
dificuldades económicas impedirão a continuidade da iniciativa.
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Cinema Tivoli |
Em 1927 publica Viagem à Volta das Ditaduras,
com as entrevistas e reportagens que fizera na Itália (Pio XI, Ezio
Garibaldi, Mussolini), em Espanha (Jacinto Benavente, Primo de Rivera) e
na Turquia (Kemal Atatürk).
Em 1929 publica Praça da Concórdia, reunindo entrevistas realizadas em Paris entre 1924 e 1926.
Em 1930 publica Novo Mundo, Mundo Novo, reunindo reportagens efectuadas nos Estados Unidos em 1927.
Em 1931 publica Hollywood, Capital das Imagens, incluindo as reportagens e entrevistas efectuadas na capital americana do cinema.
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Salazar e António Ferro |
Em 1932 estreia no Teatro Sá da Bandeira, no Porto, a sua peça O Estandarte, com alguns dos melhores actores portugueses da época. E realiza para o Diário de Notícias
as cinco famosas entrevistas com Salazar, em que este expõe as linhas
gerais do seu programa político. No mesmo jornal, publica o artigo Política do Espírito, em que esboça os princípios de um novo tipo de acção cultural.
Em 1933 publica Prefácio da República Hespanhola, que é o inquérito realizado em 1930 para o Diário de Notícias em
que entrevistara Miguel de Unamuno, Ortega y Gasset, Ramón del
Valle-Inclán, etc. Organiza em Lisboa o primeiro Congresso da Crítica
Dramática e Musical, com a presença de Pirandello, Vuillermoz, Robert
Kemp, etc. e publica Salazar. O Homem e a sua Obra, em que reúne
as citadas entrevistas ao Chefe do Governo, livro imediatamente
traduzido para francês, inglês, espanhol, italiano, polaco, etc. É
convidado por Salazar para dirigir um novo organismo, o Secretariado de
Propaganda Nacional (S.P.N.).
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Sociedade Nacional de Belas Artes |
Em 1934, na primeira festa de distribuição dos Prémios Literários do S.P.N., define a sua política do espírito, que será, disse, não só a defesa material da inteligência, da literatura e da arte e o apoio aos artistas e aos pensadores, mas também uma política que se oponha fundamental e estruturalmente à política da matéria, proclamando a independência do espírito.
Em
1935 organiza a I Exposição de Arte Moderna, anunciando, na Sociedade
Nacional de Belas Artes, a sua intenção de apoiar sobretudo os artistas
de vanguarda. Respondendo-lhe em nome dos premiados, Almada Negreiros
afirma: “Mais do que com júbilo, é com grande respeito que vejo pela
primeira vez na minha terra os poderes públicos ao lado da arte mais
nova de Portugal”.
Em
1936 inaugura o Teatro do Povo, sob a direcção de Francisco Lage e de
Ribeirinho. Convida um grupo de intelectuais a visitar Portugal, tendo
aceite o convite Miguel de Unamuno, Pirandello, Maurice Maeterlinck,
Gabriela Mistral, François Mauriac, Georges Duhamel, etc.
Em
1937 é comissário da Exposição de Paris, organizando o Pavilhão de
Portugal com Keil do Amaral, Bernardo Marques, Carlos Botelho, Tom,
Estrela Faria, Manuel Lapa, etc. Promove os Cinemas Ambulantes que
iniciam a sua actividade, percorrendo as vilas e aldeias do país.
Em
1939 promove o Concurso da “Aldeia Mais Portuguesa de Portugal”, que
não voltará a ser repetido, e cujo troféu, o Galo de Prata, é atribuído a
Monsanto.
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Exposição do Mundo Português |
Em
1940 é secretário geral dos Centenários, sendo também responsável pelo
Pavilhão de Portugal na Exposição do Mundo Português. Ainda neste ano,
estreia-se no Teatro da Trindade o Grupo de Bailado Verde Gaio, que
António Ferro imaginou segundo Os Bailados Russos de Diaghilev.
Em 1941 publica Homens e Multidões,
reunião de entrevistas e reportagens sobre Franz Lehar, Lloyd George, o
rei Afonso XIII de Espanha, a rainha Maria da Roménia, Primo de Rivera,
o rei Leopoldo III da Bélgica, o Papa Pio XI, Mussolini e Salazar. É
nomeado presidente da Direcção da Emissora Nacional e assina o I Acordo
Cultural Luso-Brasileiro.
Em
1942 começa a ser publicada (até 1950) a revista luso-brasileira
“Atlântico”, de que é o director português. Apresenta o plano das
Pousadas de Turismo, aquando da inauguração da primeira, em Elvas.
Em
1943 é lançada a revista de arte e turismo “Panorama”, publicada pelo
S.P.N., com direcção literária do poeta Carlos Queiroz e artística do
pintor Bernardo Marques. O Grupo Verde Gaio estreia no Teatro de São
Carlos o bailado D. Sebastião, com argumento de Ferro, música de Ruy Coelho, coreografia de Francis e cenários de Carlos Botelho e Milly Possoz.
Em
1944 o S.P.N. é remodelado e passa a designar-se Secretariado Nacional
de Informação, Cultura Popular e Turismo (S.N.I.), continuando a ser
dirigido por António Ferro.
Em 1945 iniciam a sua actividade as Bibliotecas Ambulantes do S.N.I.
Em
1946 o S.N.I. e o Círculo Eça de Queiroz, fundado por António Ferro,
promovem as comemorações do centenário do nascimento do grande
romancista português.
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Palácio Foz |
Em 1947 o S.N.I. instala-se no Palácio Foz.
Em
1948 é inaugurada nas novas galerias do Palácio Foz a Exposição
“Catorze Anos de Política do Espírito”, procedendo Ferro a um balanço da
sua obra à frente do S.P.N./S.N.I. É inaugurado o Museu de Arte
Popular, em Belém, e é promulgada a Lei de Protecção ao Cinema Nacional,
que cria, no âmbito do S.N.I. o Fundo do Cinema e a Cinemateca
Nacional, cuja direcção é entregue a Félix Ribeiro.
Em
1949, a 6 de Maio, António Ferro inaugura, conjuntamente com o 13º
Salão de Arte Moderna, o Salão retrospectivo de galardoados com os
prémios artísticos do S.N.I; estão presentes Mário Eloy, António Soares,
Dórdio Gomes, Jorge Barradas, Sarah Afonso, Carlos Botelho, Eduardo
Viana, Almada Negreiros, Frederico George, Maria Keil, António Dacosta,
Manuel Bentes, Ofélia Marques, Paulo Ferreira, António Cruz, Tom, Manuel
Lapa, Álvaro de Brée, António Duarte, Martins Correia, João Fragoso,
Canto da Maya, Barata Feyo, etc. São criados os Prémios de Arte
Dramática para as sociedades de recreio. Realiza-se no Teatro de São
Carlos o primeiro concerto do Gabinete de Estudos Musicais, que Ferro
criou na Emissora Nacional, encomendando obras aos compositores de
música popular e erudita.
Em
1950, ao fim de 15 anos de trabalho à frente do S.P.N./S.N.I., António
Ferro solicita a Salazar um posto mais tranquilo e é nomeado ministro
plenipotenciário de Portugal em Berna.
Em 1952/53 exerce uma acção em prol da cultura portuguesa na Suíça e prepara o livro Saudades de Mim. Escreve uma peça, que se perdeu, Eu Não Sei Dançar, cujos protagonistas deveriam ser Amália Rodrigues e João Villaret.
Em 1954 é transferido para ministro de Portugal em Roma. Publica D. Manuel II, o Desventurado.
Em 1955 escreve o livro, ainda inédito, Poemas Italianos
e participa, a título particular, nos Décimos Encontros Internacionais
de Genebra, dedicados ao tema “A Cultura estará em perigo?”, com Georges
Duhamel, Ilya Ehrenbourg, Jean Wahl, etc. A Legação portuguesa em Roma é
elevada a Embaixada e Ferro deverá apresentar novas credenciais como
embaixador.
Em
1956 desloca-se a Lisboa para uma intervenção cirúrgica supostamente
sem gravidade, mas morre uma semana depois, a 11 de Novembro, num quarto
particular do Hospital de São José. Tinha 61 anos.
Em 1957 é publicado postumamente o livro Saudades de Mim.
Em 1958, no 25º aniversário do S.P.N./S.N.I., é descerrado
no Palácio Foz um seu busto, da autoria de Álvaro de Brée, réplica do que se encontra no Círculo Eça de Queiroz.
Em 1963 as Edições Panorama publicam a antologia António Ferro, incluindo alguns dos Poemas Italianos e excertos do seu Diário de Berna e Roma.
Em 1978 as Edições Tempo publicam uma nova edição de Salazar.
Em 1980 as edições Delraux publicam novas edições de Teoria da Indiferença e de Leviana.
Em 1984 o Teatro Primeiro Acto, de Algés, sob a direcção de Júlio de Magalhães, repõe Mar Alto
(que não mais subira à cena desde a sua proibição em S. Carlos, em
1923) e organiza um ciclo de debates sobre a peça e a “Política do
Espírito”, em que participam Afonso Botelho, António Braz Teixeira,
António Lopes Ribeiro, António Quadros, António Rodrigues, Artur
Portela, Cecília Barreira, Dórdio Guimarães, Duarte Ivo Cruz, Franco
Nogueira, Jorge Borges de Macedo, Martins Correia, Natália Correia, Ruy
de Matos, etc.
Em
1986, a 11 de Novembro, no 30º aniversário da sua morte, o Círculo Eça
de Queiroz organiza uma sessão de homenagem a António Ferro. São
oradores António Lopes Ribeiro, Domingos Mascarenhas e Luiz Forjaz
Trigueiros. Intervêm também Jorge Borges de Macedo, Arnaldo Ródo e João
Bigotte Chorão, a nora Paulina Roquette Ferro e o neto António Roquette
Ferro, que leu uma mensagem do pai, António Quadros, ausente no Brasil
em missão cultural.
Em 1987 a Editorial Verbo inicia a publicação das Obras de António Ferro, sob orientação de António Rodrigues, tendo sido publicado apenas um primeiro volume.
* * *
Esta
cronologia bio-bibliográfica resumida dá uma ideia do que foi a vida e a
obra de António Ferro. E permite avaliar das linhas mestras do que
constituiu a sua política do espírito, uma intervenção absolutamente
inovadora em Portugal pela qualidade e globalidade dos temas abordados.
Não
é comum no nosso país alguém desenvolver uma intensa actividade na
esfera político-cultural e ser ao mesmo tempo um criador cultural em
domínios tão diversificados como António Ferro o foi.
Acusam-no hoje de
não ter sido um verdadeiro democrata. Talvez não o tenha sido pelo
actual paradigma, mas importa não esquecer que o conceito de Democracia
sofreu diversas interpretações ao longo da História, desde a antiga e
precursora Atenas às democracias populares do Leste Europeu. Estaria
Ferro porventura mais próximo da chamada “democracia orgânica” de
Salazar do que das chamadas “democracias representativas”, que neste
dealbar do século XXI são, antes de tudo, as defensoras estrénuas da
teologia do dinheiro e do monoteísmo do mercado? Com certeza que sim!
Mas ainda hoje se não sabe exactamente se Ferro ao trocar o S.N.I. por
uma missão diplomática o fez por vontade própria, ou por vontade de
Salazar, ou pela vontade de ambos. Se o fez apenas para ocupar um posto
mais tranquilo ou antes por ter constatado a
impossibilidade de ir mais além, como se depreende de muitos dos seus
escritos, num regime autoritário que o entusiasmou mas que, mercê de
circunstâncias de vária ordem, não poderia permitir-lhe a concretização
final dos projectos que no íntimo sempre acalentara.
Para os interessados, referimos a seguir a lista das obras de António Ferro:
As Grandes Trágicas do Silêncio - 1917
Teoria da Indiferença – 1920
Árvore de Natal – 1920
Nós - 1921
Colette, Colette Willy, Colette – 1921
Leviana – 1921
Gabriele d’Annunzio e Eu – 1922
A Arte de Bem Morrer – 1923
A Idade do Jazz-Band – 1923
Batalha de Flores – 1923
Mar Alto – 1924
A Amadora dos Fenómenos – 1925
Viagem à Volta das Ditaduras – 1927
Praça da Concórdia – 1929
Novo Mundo, Mundo Novo – 1930
Hollywood, Capital das Imagens – 1931
Salazar – 1933
Prefácio da República Hespanhola – 1933
Homens e Multidões – 1941
Política do Espírito – 1950
D. Manuel II, o Desventurado – 1954
Saudades de Mim – 1957 (editado postumamente)
Obras de António Ferro: 1 – Intervenção Modernista
(Cartas do Martinho; Teoria da Indiferença; O Elogio das Horas; Batalha
de Flores; Nós; A Arte de Bem Morrer; A Idade do Jazz-Band; Uma Hora
com Asas; Ilustração Portuguesa) - 1987