segunda-feira, 11 de novembro de 2013

ANTÓNIO FERRO (DE NOVO)




Foi publicado na passada semana o livro de Margarida Acciaiuoli António Ferro - A Vertigem da Palavra - Retórica, Política e Propaganda no Estado Novo. Trata-se de um interessante e oportuno estudo sobre a figura de António Ferro, melhor dizendo, sobre a obra de António Ferro durante os 17 anos (1933-1950) em que esteve à frente do Secretariado da Propaganda Nacional (SPN), depois Secretariado Nacional da Informação (SNI). E também sobre a sua actividade cultural antes de assumir funções oficiais.

O livro de Margarida Acciaiuoli fornece-nos, com pormenor, as iniciativas de Ferro na direcção daquele organismo, contextualizando-as, e documentando exaustivamente as citações do texto. Inclui ainda uma lista dos pintores, escultores, realizadores e escritores premiados pelo SPN/SNI entre 1935 e 1949.

A figura de António Ferro, sobre o qual escrevi neste blogue em 17 de Agosto de 2009, a propósito do 114º aniversário do seu nascimento, ainda hoje suscita controvérsia. Incensado por uns, criticado por outros, Ferro não deixa indiferente quem quer que seja que se debruce sobre a sua trajectória no panorama cultural e político do país na primeira metade do século passado. Como todas as personagens verdadeiramente relevantes, não era um homem de consensos. Provam-no os seus escritos e a sua actividade político-cultural. Muitos censuram-no por ter colaborado com o Estado Novo. Pergunto-me se não terá sido o Estado Novo que colaborou com ele?

Sabia o que queria (aliás como Salazar, a quem Ferro "vendeu" a ideia da "política do espírito"). E sabia para onde pretendia ir (e foi), embora com o passar dos anos acumulasse desilusões, como revela nos seus últimos textos do "exílio" diplomático de Berna e de Roma. É que, como reconheceu, os seus propósitos envolviam uma contradição intrínseca: a cultura que pretendia fomentar e divulgar viria a colidir com a política que lhe definia os contornos. Salazar apoiou-o, embora condicionalmente, durante anos, mas acabou por se retrair quando achou que a "política do espírito" se tornara incompatível com a sua própria política.

Nesta obra de mais de 400 páginas, a autora percorre os seus livros, as suas entrevistas (especialmente as efectuadas a Salazar) e a sua actividade no SPN/SNI (exposições, pintura, escultura, fotografia, cinema, teatro, prémios artísticos e literários, Bailados Verde-Gaio, arte popular, revista Panorama, edições, turismo, pousadas, a campanha do bom gosto, etc.) .

Não referiremos aqui, porque o comentámos no post de 2009, os livros de Ferro e as pessoas que ele conheceu e com quem conviveu. Lembre-se, tão só, que foi o editor da revista Orfeu. Mas note-se a sua arte da escrita, o seu inconfundível estilo, que justifica o subtítulo escolhido, "a vertigem da palavra".

Alguns lapsos, como chamar Emmércio Nunes a Emmérico Nunes (pag. 137), escrever Cúria em vez de Curia (pag. 275) ou legendar a fotografia da pag. 345 como sendo Augusto de Castro a discursar quando se trata de outra pessoa (Augusto de Castro está sentado à esquerda), não desmerecem o serviço que Margarida Acciaiuoli prestou a todos os interessados no tema. Apenas se lamenta que o livro se restrinja a uma parcela da vida de António Ferro (porventura a mais importante) e não abranja toda a sua vida e obra, ainda que essa não fosse a intenção da autora. Por isso se continua a aguardar a edição de uma biografia.

À guisa de conclusão, poderíamos dizer que António Ferro, como habitualmente sucede e para citar uma expressão consagrada, foi sempre "ele e a sua circunstância".

3 comentários:

Anónimo disse...

António Ferro foi o primeiro ministro da Cultura em Portugal.

Anónimo disse...

...e único até ao momento, ao que me parece! Tudo o mais tem sido vaidade e mais vaidade. Um nojo, um vómito, um asco!!!
Vazios e ocos como os búzios dos moinhos. Tal como esses, apenas fazem ruído.

Anónimo disse...

Que falta nos faz uma política do espírito em Portugal.