Chokri Belaid |
O assassinato a tiro, hoje, em Tunis, do líder do partido de esquerda Patriotas Democratas, Chokri Belaid, deixou a Tunísia em estado de choque. O irmão do falecido, Abdelmajid Belaid, acusou o partido fundamentalista islâmico Ennahda, que lidera o governo tunisino, de ser responsável pela sua morte, apontando especificamente o respectivo líder, Rachid Ghannouchi, de ter ordenado o acto.
Muito crítico do actual governo, Chokri Belaid era uma proeminente figura política e o seu partido tinha aderido à coligação Frente Popular, que se apresenta como alternativa ao actual governo.
O assassinato provocou uma imensa manifestação de protesto na avenida Bourguiba, a principal da capital, e onde se encontra o ministério do Interior, tendo-se verificado violentas confrontações entre os manifestantes e a polícia, de que resultaram numerosos feridos e pelo menos um morto (um polícia), até ao momento em que escrevemos estas linhas. Realizaram-se também grandes manifestações de protesto nas principais cidades tunisinas, sendo imensa a indignação que reina em todo o país.
O primeiro-ministro Hamadi Jebali anunciou que, face ao ocorrido, o governo se demitia, devendo ser constituído um novo governo de "competências nacionais sem filiação partidária", provavelmente sob a chefia do mesmo Jebali (o que nada augura de bom), com a incumbência de gerir os negócios correntes até à realização das próximas eleições.
Também em Marselha, onde vivem milhares de tunisinos, se realizaram manifestações em frente ao consulado da Tunísia.
Desde a queda de Ben Ali, a Tunísia tem sido palco de graves incidentes, como a profanação dos mausoléus dos "santos" muçulmanos e a contestação e impedimento de actividades culturais. Há uma radicalização religiosa levada a cabo pelo partido governamental Ennahda (cujo líder vivia exilado em Londres, ainda bem, e que regressou depois da revolução) e especialmente pelos salafistas, extremistas radicais que se reclamam de verdadeiros crentes mas que são inimigos dos autênticos muçulmanos e mesmo inimigos do Profeta Muhammad, em nome do qual cometem as maiores atrocidades, como se verifica, por exemplo, agora no Mali. Também os Irmãos Muçulmanos, no Egipto, deverão ser rapidamente derrubados, antes que o caos se instale no país. E há que impedir a todo o custo que os extremistas do islão derrubem o governo de Assad, na Síria.
As verdadeiras vítimas do que, ingenuamente (ou premeditadamente), se chamou de "Primavera Árabe", são em primeiro lugar os próprios árabes, pacíficos e acolhedores e depois os europeus e americanos que apoiaram, com cálculos mefistofélicos, as mudanças de regime e que irão pagar com o próprio sangue as consequências da sua imprudência.
Neste momento, verdadeiros criminosos incitam à violência nas suas pregações nas mesquitas, por todo o mundo árabe e islâmico, convencendo os menos esclarecidos ou mais permeáveis e exaltados de preceitos que eles inventaram e que não figuram nem no Corão, nem nos Hadiths, nem na Sunna.
Os extremismos religiosos que têm dilacerado o mundo desde há dois mil anos, em nome da pureza das religiões monoteístas, são, talvez, o pior flagelo da Humanidade.
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