domingo, 29 de julho de 2012

REFLEXÕES SOBRE O MÉDIO ORIENTE



O quase centenário (n. 31 de Maio de 1916) historiador judeu-britânico-americano Bernard Lewis, um dos maiores (e, por vezes, mais controversos) islamólogos do nosso tempo - que estudou na School of Oriental and  African Studies (SOAS)  da Universidade de Londres, e depois na Universidade de Paris com o orientalista Louis Massignon,  trabalhou no Foreign Office, regressou à SOAS como professor e veio a ingressar na Universidade de Princeton, em 1974, onde permaneceu até à sua reforma em 1974, após o que viria ainda a leccionar, até 1990, na Cornell University, um caso raro de longevidade intelectual - acabou de publicar uma obra retrospectiva da sua carreira, Notes On  A Century - Reflections of A Middle East Historian, onde descreve a sua trajectória intelectual e assinala os factos para si mais marcantes do mundo árabo-islâmico.


A tese de doutoramento de Lewis, The Origins of Ismailism, foi publicada em livro em 1940, mas a sua obra mais conhecida, The Arabs in History, escrita em 1946/7, só foi dada à estampa em 1950. Tornar-se-ia, desde então, o livro (genérico) sobre o mundo árabe mais divulgado em todo o mundo. Traduzido em inúmeras línguas, e para português em 1982, foi uma das obras em que iniciei os meus estudos arabistas.

Os seus livros mais recentes, What Went Wrong? The Clash Between Islam and Modernity in the Middle East (2002), The Crisis of Islam: Holy War and unholy terror (2003) e Faith and Power: Religion and Politics in the Middle East (2010), suscitaram controvérsia e, tendo-se tornado num especialista do Médio Oriente, foi acusado de colaborar com o governo Bush na invasão do Iraque e na elaboração da política da Casa Branca relativamente ao Mundo Árabe. Bernard Lewis viria a refutar essa acusação, mas o facto de ser judeu e também consultor da administração norte-americana não convenceu os espíritos

É certo que ocorrera já, há anos, a célebre polémica que mantivera com o falecido intelectual palestiniano-americano Edward Saïd, autor de Orientalism, devido a algumas teses sustentadas por si e ao seu apoio às políticas de Israel, mas a polémica com Saïd permaneceu viva.

Não só sobre os árabes se debruçou Lewis, mas também sobre os turcos, sobre o Império Otomano e sobre a Turquia Moderna (agora em retrocesso).  E também sobre a célebre seita dos Assassinos.

Qualquer que seja a opinião que se tenha sobre Bernard Lewis, não pode deixar de reconhecer-se o vasto trabalho de investigação a que procedeu ao longo da sua vida, ainda que as conclusões a que chegou não possam ser perfilhadas por todos, nomeadamente pelos próprios árabes.

No entanto, Notes On A Century é um livro de leitura obrigatória para todos os arabistas e islamólogos, até porque recolhe as memórias de um homem que nasceu quando existiam ainda na Europa os impérios dos Habsburg, dos Hohenzollern, dos Romanov e da Sublime Porta, e que ao longo de um século assistiu ao desmoronar de muitas das suas convicções e à necessidade de refazer ou adaptar as teorias que havia defendido.

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