quinta-feira, 4 de novembro de 2010

UMA REVOLUÇÃO MASCARADA



O sociólogo Willy Pelletier co-dirigiu com Laurent Bonelli uma obra recentemente publicada com o título L'État démantelé. Enquête sur une contre-révolution silencieuse. Diz Pelletier, em entrevista ao Nouvel Observateur (Nº 2399) que está em marcha uma revolução mascarada, silenciosa, visando desmantelar o Estado através das políticas de Revisão geral das Políticas Públicas, as famosas RGPP, iniciada imediatamente após a eleição de Nicolas Sarkozy. O discurso do presidente da República girando em volta do tema "Menos Estado, melhor Estado" (onde é que já ouvimos isto???) e os ziguezagues presidenciais só o são na aparência. Existe uma vontade firme, organizada, sistemática de depauperar o Estado praticando a política de esvaziamento dos cofres. Lá (como cá) vivemos um paradoxo formidável: com a crise, o Estado salva os bancos, endividando-se a si mesmo.

Este desmantelamento deliberado do Estado-Providência provoca um progressivo mal-estar social que se reflecte em todos os domínios: escola, exército, polícia, hospitais, justiça. O perigo é que um Estado vendido às fatias aos privados torna-se um Estado encarregado de organizar a insegurança social para preservar os interesses dos poderosos. A razão de Estado como serviço universal do público está em vias de desaparecer. Os funcionários possuídos por uma certa ideia do interesse geral já não se encontram. A noção de serviço desaparece em proveito da de desempenho. É o que Paul Virilio chama o estabelecimento de um sistema de individualismo de massa.

Conclui Willy Pelletier, nesta lúcida entrevista à revista francesa, que cabe à Esquerda refabricar o Estado sobre um modelo mais eficaz e solidário.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não vejo bem como é que a insegurança social preserva os "interesses dos poderosos",mas deve ser defeito meu.

Blogue de Júlio de Magalhães disse...

PARA O ANÓNIMO DA 01:59:

Leia a entrevista ao "Nouvel Observateur".