quarta-feira, 26 de março de 2025

CARTA AOS ESTUDANTES PORTUGUESES

Em 1922, Carlos Malheiro Dias editou a Carta aos Estudantes Portugueses, que fora publicada anteriormente no jornal "O Século".

Trata-se de um texto, dirigido aos jovens estudantes portugueses, em que o autor manifesta as suas preocupações com o futuro do país, salientando a importância que cabe aos jovens na prossecução de um destino nacional.

É uma primeira exortação à mocidade portuguesa (seguiu-se-lhe mais tarde a Exortação propriamente dita, 1924), incentivando-a a assumir responsabilidades cívicas e patrióticas.

A Carta inclui uma espécie de epígrafe: - "Amemos o Brasil !" -, país que Malheiro Dias muito estima e elogia, e nela o autor exalta o nacionalismo brasileiro, que não considera anti-português nem anti-tradicionalista, e critica o nativismo, que estima ser um "remanescente anacrónico do modesto conflito da emancipação". Desmente que o presidente do Brasil, Epitácio Pessoa, seja um lusófobo inconvertível e transcreve a "Exortação" deste aos académicos de São Paulo.

Termina, escrevendo: «Moços da minha terra, amemos Portugal como o Presidente do Brasil ama a sua Pátria. E o nosso amor, reintegrando-nos na plenitude da nossa dignidade e da nossa honra histórica, nos restituirá o respeito de que decaímos e a estima que desmerecemos. Nas paredes arruinadas do lar pátrio pendem as panóplias, as liras, os arados e os velames com que os antepassados combateram, cantaram, lavraram e navegaram. Retomemos essas alfaias venerandas, reacendamos a fé em nossos corações e renasçamos!».

A anteceder a Carta, o autor publica "Aos que não Querem ser Cúmplices", texto em que denuncia as injúrias e as invectivas de Guedes d'Oliveira, professor e director da Escola de Belas Artes do Porto e de Homem Christo, professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, que trata de panfletários, e que o atacaram a propósito da publicação da Carta aos Estudantes Portugueses em "O Século". E escreve: «A insólita atitude assumida por esses dois homens vulgares ante a explosão dos sentimentos lusófobos de algumas dúzias de brasileiros, isolados entre a indiferença, senão a reprovação geral, representa uma das mais significativas e intoleráveis manifestações da iconoclastia grosseira e da arrogância que anima esta espécie maligna de demagogia letrada, este terrorismo panfletário, só possíveis no período de depressão moral em que vivemos».

 Esta polémica antecedeu a que Carlos Malheiro Dias manteve com António Sérgio e que analisaremos posteriormente.


Sem comentários: