Maurice Sachs, aliás Maurice Ettinghausen, nasceu em Paris, em 16 de Setembro de 1906, e morreu na Alemanha em 14 de Abril de1945. Filho de pais judeus, pertencendo a mãe a uma família de ricos joalheiros, a sua vida foi breve e agitada.
Autor de vários livros, Le Sabbat - Souvenirs d'une jeunesse orageuse é considerado a sua obra mais importante. Trata-se de uma autobiografia romanceada dos primeiros tempos da sua vida, até à idade adulta, e foi escrito em 1939. A quase total ausência de datas dificulta uma compreensão cronológica do seu percurso. Sabemos que após o divórcio dos pais teve uma infância infeliz, arrastando-se por vários internatos, até se fixar brevemente em Londres, como empregado de uma livraria. Regressado a França, e para subsistir, empenhou-se a viver de expedientes. Tendo conhecido Jean Cocteau, de quem se tornou secretário, converteu-se depois ao catolicismo, por insistência de Jacques Maritain, entrando em 1926 num seminário, do qual foi expulso por homossexualidade. Recolhido mais tarde por Max Jacob, começou a frequentar os meios literários. Em 1930 viajou para os Estados Unidos, onde permaneceu três anos. Conheceu depois André Gide, que lhe arranjou um emprego na editora Gallimard e sobre o qual escreveu. Deve-se-lhe, dos primeiros tempos, uma plaquette em honra do Partido Comunista Francês (1936). Tendo animado uma emissão de rádio destinada a convencer os Estados Unidos a entrar em guerra contra a Alemanha, foi perseguido pelos nazis, sendo obrigado a refugiar-se em Bordéus, e depois na Normandia, em companhia de Violette Leduc. Inscrito no serviço de trabalho obrigatório dos franceses a favor da Alemanha, foi transferido para Hamburgo, acabando por se tornar informador da Gestapo. Naquela cidade frequentou ostensivamente os meios homossexuais, como já havia feito em França, continuando a vigarizar as pessoas com quem convivia. Farta do seu comportamento errático, a Gestapo acabou por prendê-lo, internando-o no campo de concentração de Fuhlsbüttel. Perante o avanço das tropas aliadas em Abril de 1945, a Gestapo decidiu transferir os prisioneiros para Kiel, para posteriormente os libertar, mas após uma marcha forçada de três dias, encontrando-se exausto e incapaz de prosseguir o caminho, Sachs oi abatido por um soldado SS com uma bala na cabeça.
O manuscrito de Le Sabbat foi vendido à Gallimard em 1939. Em 1942, os editores receberam notícias do autor (as últimas) em que este lhes diz para publicarem o livro quando entenderem, mas com o favor de acrescentar três páginas que então remete, o que veio a acontecer em 1946.
Esta obra de Maurice Sachs, para lá de relatar um largo período da sua vida, permite-nos penetrar nos meios literários e elegantes de Paris desse tempo, recolhendo escândalos e intrigas mas também fornecendo-nos um panorama da vida literária e artística da época. São abundantes as referências a La Recherche..., contando-nos o autor a sua frequência de uns determinados banhos (eram muito comuns em Paris entre as duas guerras) que eram dirigidos por um homem chamado Albert (que tinha sido amante de um príncipe não mencionado) que passou como Jupien para as páginas do romance de Proust. E também nos dá nota do relacionamento entre os escritores da época, um pouco à maneira dos irmãos Goncourt.
Para lá do conteúdo autobiográfico, o livro inclui as reflexões de Sachs sobre literatura, arte e a vida fácil (e difícil) de um período que se caracterizou por uma maior abertura dos costumes, os anos loucos que precederam a Segunda Guerra Mundial.
Não sendo uma obra excepcional, Le Sabbat é, contudo, um documento importante para o conhecimento da época.
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