Aleksandr Pushkin |
Aleksandr Sergeyevitch Pushkin (1799-1837), pai da moderna literatura russa, morreu em 29 de Janeiro de 1837, na sequência dos ferimentos recebidos no duelo que manteve dois dias antes com Georges Dantès, a quem desafiara por uma questão de saias.
Georges d'Anthès |
Segundo as fontes coevas, Georges Dantès (1812-1895), foi um militar francês, oriundo de família nobre, que após a abdicação de Carlos X e a instauração da Monarquia de Julho, sob Luís Filipe, em 1830, se recusou a servir o novo regime, emigrando para a Prússia e logo a seguir para a Rússia onde, com autorização do Governo de Paris, ingressou (1834), com apenas 22 anos, no Regimento dos Cavaleiros da Guarda da Imperatriz, criado por Catarina II.
Barão Jacob van Heeckeren |
Os laços familiares permitiram-lhe a frequência dos salões aristocráticos, onde conheceu o Barão Jacob van Heeckeren van Bewerweerd (1792-1884), embaixador dos Países Baixos na Corte de São Petersburgo, celibatário e sem descendência, com quem iniciou um prolongado e frutuoso comércio bíblico. Georges Dantès era um jovem muito bonito, a quem a natureza prodigalizara especiais dotes físicos, o que suscitou o especial interesse do Barão que, com a anuência dos pais de Dantès e a permissão do rei holandês, instituiu o rapaz como herdeiro universal dos seus bens, com direito à transmissão do título. A partir da data de adopção, Georges Dantès, passou a assinar Georges-Charles de Heeckeren d'Anthès. A ligação entre ambos foi muito bem sucedida, apesar da diferença de idades (o Barão tinha mais vinte anos que o jovem) e era do conhecimento geral. A propósito, o Príncipe Aleksandr Trubetskoy escreveu nas suas notas pessoais: «...d'Anthès was known for his antics, quite inoffensive and appropriate to youths except the one, of which we learnt much later. I don't know what to say: whether he took Heeckeren or Heeckeren took him... All in all, ... in the intercourse with Heeckeren he was ever a passive partner».
Nataliya Goncharova |
Talvez esta estreita ligação ao Barão tenha levado Dantès a um excesso de assiduidade junto das damas, (hoje seria considerado assédio sexual) mais do que recomendava a elementar cortesia. Percebe-se a razão: distrair as atenções do seu relacionamento "inapropriado". Uma das senhoras objecto dos seus galanteios era precisamente Nataliya Goncharova, a jovem e bela mulher de Pushkin. Houve boatos de que esta manteria uma relação extra-conjugal com Dantès. O próprio Pushkin recebeu uma carta nesse sentido, avisando-o também da condescendência da sua mulher para com o atraente francês e, mais do que isso, com o próprio Czar Nicolau I, o que justificaria a protecção dispensada ao escritor pelo imperador. Diga-se que, entretanto, Dantès se casara com Ekaterina Goncharova, a irmã de Nataliya. Todo este enredo conduziu Pushkin a desafiar Dantès para um duelo, em defesa da honra. Para evitar um drama familiar, Dantès propôs retirar-se, mas o poeta recusou. Nicolau I ainda tentou evitar o confronto, mas era tarde.
Escritório de Pushkin |
O duelo teve lugar às 16 horas de 27 de Janeiro de 1837, num lugar conhecido como Rivière Noire, perto de São Petersburgo. O tiro de Dantès, que ficou ligeiramente ferido, atingiu Pushkin no ventre e foi-lhe fatal.
Secretária de Pushkin |
Preso na Fortaleza de São Pedro e São Paulo, aguardando julgamento, foi, depois de ter protestado a sua inocência, agraciado pelo imperador e conduzido à fronteira (acompanhado pela mulher que nunca duvidou da sua inocência), não mais regressando à Rússia.
Eu, à entrada da Fortaleza de São Pedro e São Paulo |
Melhor fora que dois homens tão jovens e atraentes, Pushkin com 38 anos e Dantès com 25 anos, tivessem ido para a cama em vez de se terem batido em duelo.
A obra literária de Pushkin é notável e significa a inovação da literatura russa. Ele inspirou Gogol (1808-1852), Lermontov (1814-1841), Turgeniev (1818-1883), Dostoievsky (1821-1891), Tolstoi (1828-1910), para apenas citar alguns dos nomes cimeiros das letras russas dos dois últimos séculos.
Diversas obras de Pushkin foram passadas à música: Russlan i Liudmila (ópera de Glinka), O Prisioneiro do Cáucaso (ópera de César Cui), As Ciganas (ópera de Rachmaninov), Poltava (ópera de Tchaikovsky, com o título de Mazeppa), A Pequena Casa de Kolomna (ópera de Stravinsky), Tsar Saltan (ópera de Rimsky-Korsakov), Boris Godunov (ópera de Mussorgsky), O Convidado de Pedra (ópera de Dargomyjski), Mozart e Salieri (ópera de Rimsky-Korsakov), Festim em Tempo de Peste (ópera de César Cui), Rusalka (ópera de Dargomyjski), O Cavaleiro Avarento (ópera de Rachmaninov), A Dama de Espadas (ópera de Tchaikovsky), Eugeni Oniegine (ópera de Tchaikovsky).
A casa de Pushkin, no nº 12 do Cais Moïki |
Registe-se, como curiosidade, que o bisavô de Pushkin, Abraham Hannibal (1696-1781), era africano, natural do Chade (ou dos Camarões ou mesmo da Etiópia, a origem permanece incerta). Capturado em 1703 (quando tinha sete anos), por mercadores de escravos, e levado para Constantinopla, sendo um rapaz de grande beleza foi comprado secretamente por Pedro o Grande, que se lhe afeiçoou, tendo-se tornado afilhado e secretário do Czar. De grandes aptidões físicas e intelectuais, foi mais tarde general do Exército Imperial Russo.
Abraham Hannibal, em Petrovskoïe |
4 comentários:
Já agora, acrescente-se que o alsaciano D'Anthès seguiu depois uma carreira política em França assaz bem sucedida,partidário do príncipe Louis-Napoleon depois Napoleão III,tendo chegado ao grau de Senador do Império. Manteve a sua relação familiar com a Ekaterina,de quem teve três filhas e um filho.Terá voltado à Rússia,enviado pelo príncipe-presidente para sondar o Imperador sobre a sua reacção ao reestabelecimento do império em França.Note-se ainda que o encantamento do Ministro dos Países Baixos com o jovem alsaciano não era o primeiro do seu carnet,pois quando oficial estagiário em Toulon já tinha mantido uma relação íntima com o duque de Rohan-Chabot.Pormenores interessantes dos rodapés da História.
Para o Anónimo das 00:31:
Muito interessante o seu aditamento ao "post".
No último período não percebi bem se foi o ministro dos Países Baixos que teve uma relação íntima com o duque de Rohan-Chabot, ou o jovem alsaciano.Da frase deduz-se que foi o primeiro, mas pela lógica terá sido o segundo.
Foi de facto o ministro dos Países-Baixos, que começou por fazer carreira na Marinha.
Havendo vários duques de Rohan-Chabot, não descobri a qual deles se refere.
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