quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

REVISITANDO O EXPRESSIONISMO

Vi hoje pela primeira vez (e também ouvi, claro) a ópera "Moses und Aron" de Schönberg, gravada na Opéra National de Paris - Opéra Bastille, em 2015. Conhecia a obra através de um LP antigo, que conservo na minha colecção.
 
A gravação em LP foi realizada com a participação da BBC Symphony Orchestra e Coro, com direcção de Pierre Boulez e interpretação de Günter Reich e Richard Cassilly.
 
A gravação em DVD teve a participação da Orquestra e Coro da Ópera de Paris, dirigidos por Philippe Jordan, com interpretação de Thomas Johannes Mayer e John Graham-Hall, com encenação de Romeo Castellucci.
 

Compositor judeu austríaco, criador do dodecafonismo, é natural que Arnold Schönberg (1874-1951) se tenha interessado por temas do Judaísmo. Assim, entre outros, a sua ópera "Moses und Aron", de que foi o próprio libretista, baseada no texto do "Êxodo": na mensagem de Deus a Moisés para libertar o povo de Israel, na sarça ardente, na criação do bezerro de ouro por Aarão, que será o seu porta-voz. A história é conhecida, mas a interpretação de Schönberg é muito particular. O seu Moisés é um homem inspirado, solitário, intransigente, que acaba por confessar a sua incapacidade para convencer o povo do poder desta ideia: um Deus único, eterno, omnipresente, invisível e irrepresentável. Aarão, seu irmão, é a figura de um político. Apesar da sua vontade de seguir a palavra profética que tenta traduzir ao povo de Israel, usando inicialmente de milagres, não hesita em procurar um compromisso, pronto a ceder aos instintos mais primários dos que o pressionam a agir durante a ausência de Moisés. O povo de Israel é representado pelo vasto coro, que necessitou de um ano de ensaios, um caso único num teatro de ópera. 
 
A encenação é particularmente interessante, sintética, a preto e branco, em perfeita harmonia com a música serial, mas onde não falta a presença em cena de um bezerro vivo.
 
A ópera é composta por dois actos, já que Schönberg nunca escreveu a música do III Acto, embora tenha escrito o "libretto". Em 1951 referiu, numa das suas cartas, que admitia que o III Acto pudesse ser simplesmente falado, caso ele não completasse a composição. Há quem tenha procurado explicações para esta hesitação de anos, mas não é este o lugar para especular sobre o assunto.
 

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