quinta-feira, 22 de março de 2018

ASKOLOVITCH, O ANTI-SEMITISMO E O FASCISMO



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O jornalista judeu francês Claude Askolovitch, no número de Março corrente do "Nouveau Magazine Littéraire", derrama uma prosa furibunda sobre o que considera o ressurgimento em França do anti-semitismo e do fascismo.

Vem o texto a propósito da recusa da municipalidade de Paris de autorizar a sepultura naquela cidade dos restos mortais do escritor e académico francês Michel Déon, falecido há meses na Irlanda. Considera Askolovitch que a Câmara de Paris, a que preside Anne Hidalgo, deveria ter recusado a inumação não se refugiando apenas em regulamentos administrativos mas invocando argumentos políticos, isto é, pura e simplesmente pelo facto de Déon se tratar de um fascista, que, na sua opinião, não poderá repousar em paz.

Acontece que Michel Déon (natural de Paris) foi um grande escritor francês, independentemente da sua qualidade de membro da Academia Francesa. Sucede que foi também secretário do quotidiano "L'Action Française", dirigido pelo grande ideólogo do nacionalismo integralista, Charles Maurras. E que para Askolovitch  a figura de Maurras é uma espécie de Demónio que importa definitivamente exorcizar.

No texto delirante publicado na revista, o jornalista vai encontrar anti-semitas, e quiçá fascistas, noutras figuras da República. O general De Gaulle terá classificado os judeus como «le peuple sûr de lui et dominateur»; Pompidou, em 1972, por ocasião do centenário de Sciences Po, citou Maurras no seu discurso: «Quelqu'un qui n'a jamais été mon maître à penser, loin s'en faut, Charles Maurras, a, dans Kiel et Tanger, dès 1910, prévu le monde actuel»; Raymond Barre, quando de um atentado contra uma sinagoga, opôs «des Juifs visés» e «des Français innocents victimes»; Mitterrand, segundo testemunho de Jean d'Ormesson, evocava a acção nociva do "lobby juif". Renaud Camus também não escapa, pois, nos anos 2000, considerou que «l'abus de chroniqueurs juifs dans une émission littéraire, sur France Culture, menaçait notre âme».

Não vou alongar-me, pois o texto está publicado neste site .

Penso que os judeus não têm razão de queixa de sub-representação no jornalismo francês, basta ler o "Magazine Littéraire" ou o "Nouvel Obs". Aliás, o que importa não é o estabelecimento de quotas, sempre ridículo, mas o nível intelectual e o juízo sereno. Este texto de Claude Askolovitch sobre "Le phénix fasciste", parece não relevar nem de um nem de outro.


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