A União Europeia é uma contradição nos termos. Iniciou-se a partir de um lamentável equívoco - ou talvez não -, cresceu alimentando infundadas esperanças que se foram progressivamente desvanecendo, e chegou à presente situação de anomia cuja incongruência já ninguém consegue disfarçar.
Ouço clamores contra o Brexit, soaram apocalípticas trombetas contra esse "passo irreflectido" conduzindo a Europa a uma desagregação que só peca por tardia. O Reino Unido nunca deveria ter entrado na União Europeia. Nisso tinha muita razão o general De Gaulle, que sempre se opôs ao ingresso nas Comunidades da pérfida Albion. Resolveu sair agora. Ainda bem. Pois que saia. E de vez.
Todos sabem, ou deveriam saber, que as Ilhas Britânicas poucas afinidades têm com o Velho Continente e só dele se serviram na defesa dos seus próprios interesses, quando pretenderam sustentar a miragem do Império Britânico. Ficam muito melhor ligadas umbilicalmente aos Estados Unidos, um país que é um seu filho bastardo e donde têm emergido a maior parte dos males que afectaram o mundo nos últimos dois séculos. A própria Europa Continental possui significativas diferenças a todos os níveis relativamente aos países que a compõem. Há uma zona setentrional, i.e., a Escandinávia, que nada tem a ver com os países do Sul. E há uma zona leste, eslava, ortodoxa, que não se revê, como se tem constatado, no figurino que burocraticamente lhe foi imposto por Bruxelas. Por sua vez, a zona meridional, com muito mais afinidades com o norte de África do que com os países do Norte, não se reencontra no torvelinho imaginado pela Alemanha (esse outro actor julgando ainda hoje representar a sucessão do Sacro Império) dos défices e das dívidas.
Desta União não sai a força mas simplesmente a fraqueza; é uma comunidade artificialmente mantida por aqueles que vivem à custa dela ou, dela se servindo, pretendem adiar a proclamação de uma morte já há muito anunciada.
A Velha Europa (continental) mosaico com dois mil anos de diversificada História, habitada por povos de etnias, línguas, religiões, costumes diferentes não é, nunca poderia ser, homogeneizável num espartilho regulamentatório, tão ineficaz quanto ridículo.
Estamos, pois, no início do desmoronamento. Desejamos que ele se faça com o mínimo de custos, porque é sempre mais difícil desfazer uma organização deste tipo do que criá-la. A ideia de uma "Europa Unida", na perspectiva com que foi edificada, foi um erro, para não escrever, parafraseando Talleyrand, que foi um crime.
É a hora de redistribuir as cartas!
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