sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

O QUE É A VERDADE?



Anis Amri

O que é a verdade? Angústia filosófica sem resposta objectiva. Nem Platão, nem Santo Agostinho, nem Nietzsche encontraram conveniente definição. Mas até as evidências mais elementares surgem hoje comprometidas.

O presumível autor do ataque ao mercado de Natal, junto à (semi-destruída) igreja-memorial do imperador Guilherme, em Berlim, foi presumivelmente morto esta madrugada em Milão.

Segundo as primeiras informações divulgadas, teria deixado um documento de identificação no camião que originou a tragédia. Já se tornou um hábito os terroristas colocarem a sua identidade nos veículos com que cometem os atentados, talvez para facilitarem o trabalho das polícias! Discutiu-se depois se esse documento seria autêntico, uma vez que o suposto teria usado nomes diversos. Finalmente, foi o condutor reconhecido pelas impressões digitais detectadas, ao que parece, na roupa do motorista polaco do camião, o qual terá assassinado para se apoderar do veículo. O homem em questão era, pois, Anis Amri, um tunisino de 23 anos, já anteriormente preso pela prática de vários delitos.

De acordo com as mais recentes notícias, Anis Amri terá sido abatido esta madrugada, em Milão, numa operação policial de rotina, quando se deslocava na Praça 1º de Maio, a pé ou de carro, existindo as duas versões. Recusando identificar-se, terá disparado sobre um dos agentes, sendo morto de seguida. Ignora-se se a polícia o teria podido neutralizar, a fim de obter os convenientes esclarecimentos. E estranha-se que, encontrando-se toda a Europa em alerta, tenha conseguido chegar tranquilamente a Milão.

Já há quatro dias, o assassino do embaixador russo na Turquia foi convenientemente abatido, quando não alvejara mais ninguém além do diplomata.

O facto dos presumíveis autores dos atentados serem mortos in loco antes de julgamento suscita graves apreensões. É que importaria ouvi-los para esclarecimento dos seus actos e, especialmente, de quem os ordenou, já que não se afigura que tenham sido espontâneos e de iniciativa própria. Que me recorde, apenas Salah Abdeslam se encontra detido numa prisão francesa, indiciado pela organização dos ataques em Paris.

As notícias confusas e contraditórias que surgem sistematicamente nestes casos levantam a questão de saber o que está realmente a passar-se em matéria de terrorismo. Impõe-se o conhecimento da verdade, pelo menos da verdade possível, não bastando as reais ou pretensas reivindicações do Daesh. Tanto mais que a informação sobre os acontecimentos em Alepo tem motivado, nos últimos dias, as maiores controvérsias na comunicação social.

A forma como todos estes acontecimentos são relatados provocam no público uma pertinente desconfiança quanto ao que na realidade se verifica, alimentando a dúvida de que uma parte da verdade é sonegada e originando as mais variadas especulações. Seria bom que as autoridades, nomeadamente o poder político se encarregasse de um módico de verossimilhança.


2 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem.
Em tudo isto surge a imagem de um grande rebanho, pacientemente conduzido por um bom pastor e pelos seus cães.
Claramente, é preciso manter a capacidade de questionar o que nos é enfiado pelo cérebro adentro.

Anónimo disse...

Acho piada a este trajecto "crimes menores" redimidos por um ataque suicida, em nome da religião.

Faz-me lembrar o que se passava na Europa, quando começamos nas Cruzadas, ou o desvirtuamento das "indulgencias" ....