O embaixador Francisco Seixas da Costa publicou hoje, no seu blogue "duas ou três coisas", um
post sobre a atitude de Portugal relativamente ao reconhecimento do Estado da Palestina.
Pela importância da matéria e por se tratar da opinião de um conceituado diplomata português, transcrevemos, com a devida vénia, o referido texto:
Palestina
Quando, há algum tempo, publiquei no "Diário Económico"
um artigo sobre Israel, muito crítico da posição do governo de
Telavive, tive fortes mas espectáveis reações. Uma amiga israelita
ofendeu-se e deixou de me falar, um amigo português telefonou a dizer
esta frase curiosa: "Só hoje acreditei que não tens ambições políticas.
Ninguém que as tivesse poderia escrever o que escreveste". Como se eu
não soubesse isso.
Dou uma contribuição mais para essa avaliação ao dizer agora que acho
profundamente lamentável que o Estado português revele uma imensa
tibieza face ao crescente movimento europeu no sentido de reconhecer o
Estado da Palestina. Como se já nos não tivesse bastado a triste postura
assunida por ocasião da integração da Palestina na UNESCO, que foi
depois necessário retificar de forma atabalhoada. A política externa
portuguesa deveria mostrar-se leal e coerente com momentos do seu
passado em que revelou um forte sentido de responsabilidade ao abordar a
questão israelo-palestina e afirmar-se agora na linha da frente deste
reconhecimento, não ficando comodamente à espera da sua quase
inevitabilidade para fazer esse gesto. "Prudência e caldos de galinha"
não ilustram uma postura internacional e tentar passar despercebido e
ganhar tempo é apenas uma forma de poder ser vir a ser acusado de mero
oportunismo. Isso não dignifica Portugal, como nas Necessidades deviam
saber. Não me agrada trazer polémica a um terreno em que o consenso deve
prevalecer, mas há limites.
A subordinação da nossa política externa a interesses pouco claros - já nem falo de valores - vai progressivamente contribuindo para a irrelevância de Portugal no concerto das nações.
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