sexta-feira, 31 de outubro de 2014

ACTIVIDADE CULTURAL EM LJUBLJANA


Cankarjev Dom

A intensa actividade cultural em Ljubljana mostra que a pequena capital da Eslovénia sobressai entre muitas outras cidades de superior dimensão.

Cankarjev Dom

O pólo da vida cultural é a Cankarjev Dom, na Praça da República (Tgr Republike), o grande edifício  construído entre 1977 e 1982 pela então República Socialista da Eslovénia e que funciona como centro cultural e centro de congressos. Desenhado pelo arquitecto Edvard Ravinkar, deve a sua designação ao grande escritor e político social-democrata Ivan Cankar (1876-1918), dramaturgo, ensaista, poeta, considerado um dos nomes maiores da literatura eslovena contemporânea.


Cankarjev Dom

Cankarjev Dom

A Cankarjev Dom abriga quatro auditórios: Gallus Dvorana (Sala Gallus), do nome do compositor Jacobus Gallus (1550-1591); Linhart Dvorana (Sala Linhart), do nome do dramaturgo e historiador Anton Tomaž Linhart (1756-1795); Kosovel Dvorana (Sala Kosovel), do nome do poeta Srečko Kosovel (1904-1926) e  Štih Dvorana (Sala Štih), do nome do dramaturgo e encenador Bojan Štih (1923-1986) e ainda uma vasta galeria para exposições e outros eventos e outras salas de dimensões mais reduzidas. A Gallusova Dvorana tem capacidade para 2.000 pessoas e a Linhartova Dvorana pode sentar 620 espectadores.




Nestes auditórios realizam-se espectáculos de ópera, bailado, teatro, cinema, concertos, etc. e têm lugar conferências, congressos e outras actividades similares. As produções apresentadas são nacionais e estrangeiras. Em Março próximo, actuará na Gallusova Dvorana a fadista portuguesa Ana Moura.

Cankarjev Dom

A Cankarjev Dom é o lugar por excelência para as execuções da Orkester Slovenske Filharmonije. Tive a oportunidade de assistir este mês a um concerto dirigido pelo maestro francês Frédéric Chaslin, em que foram tocadas a Abertura Viviane, de Chausson, November Steps, de Takemitsu, La Mer, de Debussy e Valses nobles et sentimentales, de Ravel.


A sede da Orquestra é no edifício da Academia Philharmonicorum, criada em 1701, sucessora da Academia Operosorum Labacensium (Academia dos Trabalhadores Residentes em Ljubljana) fundada em 1693, cuja sede é na Praça do Congresso (Kongresni Tgr). O edifício actual foi construído em finais do século XIX.





Academia Philharmonicorum

De 1881 a 1882, o director da Orquestra foi o compositor Gustav Mahler, cuja estátua se ergue em Hribarjevo Nabrežje (Cais de Hribar), mais precisamente em Dvorni Trg.

Gustav Mahler

Durante a sua permanência na cidade, Mahler residiu num prédio frente à Câmara Municipal, em Mesni Trg, a Casa Krisper, propriedade da família Krisper, ricos comerciantes da cidade.



Casa Krisper, com pormenor do busto de Mahler na parede

 Outra instituição de de elevado nível cultural é o Slovensko Narodno Gledališče Drama Ljubljana (Teatro Nacional Esloveno de Drama de Ljubljana), situado na Erjavčeva Cesta, e que apresenta um repertório preferencialmente clássico.

Teatro Nacional

Importa ainda referir o Poletno Gledališče Križanke (Teatro ao ar livre Križanke), situado na Francoske Revolucije Trg (Praça da Revolução Francesa), onde se realiza o Festival de Verão de Ljubljana. Os principais espectáculos têm lugar nos claustros do Mosteiro de Santa Cruz dos Cavaleiros da Ordem Teutónica de Križanke (de Križniki, a designação dos cruzados alemães) mas outros eventos realizam-se também na respectiva Igreja barroca, no Peklensko Dvorišče (Pátio do Diabo) e noViteška Dvorana (Sala dos Cavaleiros).

Mosteiro de Križanke



O Mosteiro de Križanke foi edificado no século XIII, profundamente danificado pelo terramoto de 1511, parcialmente reconstruído entre 1567 e 1579  e concluído em estilo barroco nos princípios do século XVIII, e manteve as suas funções religiosas até ter sido nacionalizado em 1945. O complexo, desde então abandonado, foi remodelado em 1956 pelo famoso arquitecto Jože Plečnik, que transformou o local num dos principais espaços artísticos da capital eslovena. 


O modelo original da igreja está conservado no contíguo Museu da Cidade de Ljubljana.




A actividade artística em Ljubljana não se esgota naturalmente nos exemplos acima referidos, mas uma descrição mais pormenorizada dos locais consagrados a manifestações culturais transcende os limites deste post.

AINDA O KOSOVO




Foi lançado ontem à tarde, no Palácio da Independência, o livro do embaixador José Manuel Arsénio A Satrapia do Kosovo.

Após algumas palavras do director da editora Fronteira do Caos, o padre Vítor Melícias fez a apresentação da obra, salientando a sua oportunidade e a necessidade de esclarecer a opinião pública nacional, e também estrangeira, acerca da história até hoje muito mal contada pela comunicação social (devidamente instrumentalizada pelos poderes fácticos), do desmembramento da Jugoslávia, das guerras que se lhe seguiram, do bombardeamento da Sérvia e, finalmente, da criação do estado-fantasma do Kosovo.

Depois, o embaixador José Manuel Arsénio, que chefiou a Delegação Portuguesa junto da Missão de Monitores da Comunidade Europeia (ECMM), em Zagreb, o que lhe confere especial autoridade na matéria,  procedeu a um resumo das etapas orquestradas pelos Estados Unidos para a desagregação da Jugoslávia e para o ataque à Sérvia, com vista a colocar no poder em Pristina os terroristas albaneses do UÇK (Ushtria Çlirimtare e Kosovës), o chamado Exército de Libertação do Kosovo, e a permitir a instalação nesse novo "país" das bases militares indispensáveis ao controlo norte-americano dos Balcãs.

A concretização desse processo, que sob a capa da NATO evocou o activismo militar de Hitler, foi protagonizada pela então secretária de Estado Madeleine Albright, uma abominável megera, que me abstenho de classificar de outra forma mais apropriada para não ferir as susceptibilidades dos leitores mais sensíveis. De facto, o ultimato que essa mulher impôs aos sérvios na conferência de Rambouillet (Fevereiro de 1999), forçando a cumplicidade dos seus parceiros da Aliança Atlântica, só poderia ser necessária e obviamente rejeitado pela ainda Federação Jugoslava. O próprio Henry Kissinger, personalidade de todo insuspeita de simpatias anti-americanas como comprova o seu longo cadastro de malfeitorias, reconheceu em entrevista ao "Daily Telegraph", em 28 de Junho de 1999, e cito o autor: «O texto de Rambouillet, que intimou a Sérvia a admitir tropas da NATO em toda a Jugoslávia, foi uma provocação, um pretexto para começar com o bombardeamento. Rambouillet não é um documento que um angélico sérvio possa ter aceite. Foi um terrível documento diplomático que nunca deveria ter sido apresentado sob essa forma.»

A destruição da Jugoslávia era um desideratum de Washington, no qual Bill Clinton foi ardorosamente secundado por outra figura sinistra, o vigarista britânico Tony Blair, o mesmo que anos mais tarde, já com o famigerado George W. Bush na presidência dos EUA, haveria de apoiar outro imenso crime, a invasão do Iraque, sob o pretexto da existência de armas de destruição maciça. Nunca é demais recordar que o cientista inglês David Kelly, que inspeccionara o armamento iraquiano e denunciara a falsificação de provas pelo governo de Blair, apareceu então "suicidado" perto de sua casa, como escrevi aqui e aqui, nunca se esclarecendo convenientemente se o ex-primeiro-ministro britânico fora conivente no suposto crime.

Também o bombardeamento da Jugoslávia efectuado pela NATO obedeceu a um pretexto: evitar as "atrocidades" cometidas pelos sérvios, quando afinal era a máfia albanesa que, no Kosovo,  procedia ao tráfico de droga, de prostitutas, de órgãos humanos. Numa expressão infeliz, e para justificar a participação, ainda que exígua como é da praxe, de Portugal nesse atentado à soberania de um país independente, António Guterres chamou-lhe "guerra humanitária". Não querendo entrar na questão de guerras justas ou injustas, a que Michael Walzer se tem dedicado, saliente-se que aquilo que não existe são guerras humanitárias, já que a própria expressão envolve uma contradição nos termos.








Edifícios públicos bombardeados pela NATO - Belgrado, 2000

Quando visitei Belgrado em 2000, alguns meses após o ataque da NATO, tive oportunidade de constatar a indignação dos sérvios face ao bombardeamento da sua capital, e à duplicidade da chamada "comunidade internacional" nos seus propósitos de alargamento da "democracia" à Europa de Leste, durante o consulado do ébrio russo Boris Yeltsin. Chocou-me ver (e fotografar) os ministérios, a embaixada da China, a torre da televisão completamente arruinados, para não falar nas fábricas, pontes, vias de comunicação ferroviárias e rodoviárias, refinarias, etc, etc., destruídas ao longo de todo o país, além, é claro, do elevado número de mortos.


Embaixada da China bombardeada pela NATO - Belgrado 2000

Mas uma coisa houve que particularmente me sensibilizou. Visitando o Kalemegdan, a grande e velha fortaleza de Belgrado, na confluência do Sava e do Danúbio, na companhia de um  jovem sérvio, este me declarou emocionado, perante o monumento aí existente de homenagem à França, e que durante algum tempo foi coberto de crepes, que o que mais o chocara fora a participação francesa nos ataques, a colaboração da França - a velha aliada da Sérvia - nesse acto ignominioso que envergonha não apenas os americanos que, pelo menos desde o bombardeamento atómico  de Hiroshima, perderam a noção da dignidade e da honra, mas o resto da Humanidade.

Torre da Televisão Nacional bombardeada pela NATO - Belgrado, 2000

É, pois, o embaixador José Manuel Arsénio credor dos maiores encómios pelo serviço publico que acaba de prestar com a edição do seu livro, contribuição singular para repor a verdade dos factos e esclarecer aqueles que, porventura distraídos ou manipulados por uma comunicação social subserviente dos poderes instalados a nível nacional ou internacional, ainda possam julgar que a destruição da Jugoslávia, como depois a do Iraque e as guerras civis árabes e agora o conflito na Ucrânia, foi uma "ingerência humanitária" (como definida pelo venal Bernard Kouchner, o lamentavelmente famoso "French Doctor") e não a prossecução de uma estratégia global de neo-liberalização da economia fundamentalista de mercado a nível mundial.

Monumento de gratidão à França, erigido em 1930 no Parque de Kalemegdan - Belgrado, 2000

Voltei a Belgrado em 2010, mas disso falarei noutra ocasião.


Edifício ainda em ruínas na Kneza Milosa - Belgrado, 2010

Monumento à França - Belgrado, 2010

Após a leitura integral do livro do embaixador José Manuel Arsénio, regressarei ao assunto.

domingo, 26 de outubro de 2014

ELEIÇÕES LEGISLATIVAS NA TUNÍSIA




Realizaram-se hoje as eleições legislativas na Tunísia para constituição do primeiro Parlamento após a revolução de 2011.

Segundo os mais recentes resultados, ainda não definitivos, a votação dos tunisinos encontra-se assim distribuída:

- 37% Nidaa Tounes (Nidaa=Apelo)
- 26% Ennahdha (Ennahdha=Renascimento)
-  5% Front Populaire
-  5% UPL (Union Patriotique Libre)
-  3% Afek Tounes (Afek=Despertar/Perspectivar)
- 24% Outros

Regista-se o facto do partido Nidaa Tounes, do ex-primeiro-ministro Béji Caïd Essebsi, que perfilha uma orientação socialista e laica (q.b.) , ter obtido o primeiro lugar no escrutínio, com 11% de vantagem sobre o partido Ennahdha, do fundamentalista Rached Ghannouchi, que pretendia transformar a Tunísia num estado islâmico totalitário.

Depois das perturbações ocorridas após a queda do presidente Zine el Abidine Ben Ali, espera-se que o país retome as suas tradições de liberdade de costumes, postas em causa pelas milícias religiosas de Ennahdha e que inicie a indispensável recuperação de uma economia que foi severamente atingida pelos desmandos decorrentes da primeira insurreição do ciclo das chamadas "primaveras árabes".

DILMA ROUSSEFF




Como era previsível, o Brasil reelegeu, ainda  que por escassa margem, Dilma Rousseff para um segundo mandato na presidência da República.

Não que Dilma seja propriamente uma figura simpática, nem que possua o carisma do seu antecessor, mas os brasileiros reconhecem nela a herdeira de Lula da Silva, o homem que promoveu uma viragem nas condições sociais do país, a favor das classes mais desprotegidas.

Os escândalos que atingiram a governação de Dilma e o Partido dos Trabalhadores (mesmo que as afirmações da revista "Veja" sobre o caso da Petrobras sejam tudo menos credíveis) não foram suficientes para convencer o povo brasileiro da vantagem de conceder o seu voto a Aécio Neves, até porque de corrupção está o país invadido em todos os quadrantes políticos.

Importa, todavia, que neste segundo mandato Dilma Roussef introduza substanciais modificações na sua governação, sob pena de alienar a confiança, por ora maioritária, dos seus concidadãos.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

UM "ORFEO" DIFERENTE



O Teatro Nacional Esloveno de Ópera e Bailado de Ljubljana (Slovensko Narodno Gledališče Opera in Balet Ljubljana) apresentou este mês uma versão curiosa do Orfeo ed Euridice (Orfej in Evridika), de Gluck, comemorando o 300º aniversário do nascimento do compositor.


Numa sala com lotação esgotada, o encenador Jernej Lorenci ofereceu uma proposta inovadora, arrojadamente erótica, num ambiente mais romântico do que clássico. 


Os cantores da "casa", não sendo figuras de renome internacional, interpretaram os seus papéis com elevado nível, quer vocal quer cénico, e a orquestra do Teatro, dirigida por Marko Hribernik, executou com perfeição a partitura do famoso reformador alemão da arte operática, cujo libretto se deve ao colaborador preferido do mestre, Ranieri de' Calzabigi, cujo 300º aniversário do nascimento igualmente se assinala.


O público, composto maioritariamente por eslovenos de todas as idades (havia poucos turistas no dia em que assisti à representação), aplaudiu entusiasticamente o espectáculo, numa demonstração de que a longa permanência da Eslovénia na Federação Jugoslava não afectou, como alguns pretendem, a manutenção de um elevado padrão cultural no país. Antes pelo contrário.


Além de Orfeo, a Ópera de Ljubljana apresenta em estreia esta temporada Salome, de Richard Strauss, Carmen, de Bizet e A Décima Filha, de Milko Lazar e os bailados Tristão e Isolda (música de Saše Kalana, a partir de Wagner e coreografia de Dan Datcu) e O Lago dos Cisnes (música de Tchaikovsky e coreografia de Lynne Charles). E serão ainda repostas, do repertório normal, sete óperas, uma opereta e quatro bailados.

A presente temporada foi baseada nesta consideração de Oscar Wilde, no texto de Salome: «O mistério do amor é maior do que o mistério da morte».





O histórico edifício do Teatro, que reabriu há dois anos depois de profunda remodelação, foi dotado das condições indispensáveis à apresentação dos espectáculos mais exigentes e apresenta esta temporada de 2014/2015 um total de 144 representações.



A fazer inveja ao nosso Teatro de São Carlos!

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

MOBY DICK



Moby Dick na San Francisco Opera

 
A recente edição em DVD do espectáculo apresentado em Outubro de 2012 na Ópera de San Francisco, a ópera Moby Dick, de Jake Heggie, permite algumas reflexões não apenas sobre tão notável realização musical e cénica mas igualmente sobre o romance de Herman Melville e os filmes que motivou.


Herman Melville

O romancista norte-americano Herman Melville (1819-1891) nasceu em New York e, tendo ficado órfão de pai aos 13 anos, cedo começou a trabalhar para ajudar a sustentar a família. Em 1839 embarcou pela primeira vez como grumete no navio "St. Lawrence" que o levou a Liverpool. Regressado aos Estados Unidos, ocupou-se em diversos empregos, voltando a embarcar, em Janeiro de 1841, no baleeiro "Acushnet", no qual percorreu o Pacífico. Aquando da escala nas Ilhas Marquesas, na Polinésia (Julho de 1842), abandonou a expedição juntamente com um amigo, ficando ambos a viver durante um mês junto dos nativos da tribo de "canibais" Typee. Escapando do "cativeiro", embarcou no baleeiro australiano "Lucy Ann", onde aderiu a um motim organizado pelos tripulantes insatisfeitos por falta de pagamento, o que o levou à prisão, numa cadeia de Tahiti. Liberto, permaneceu algum tempo na ilha, efectuando depois a sua última viagem em baleeiros, como arpoador no "Charles & Henry" (1842-43), até Honolulu. Regressou a Boston em Outubro de 1844, na fragata "United States".

A experiência das suas viagens, incluindo o convívio muito próximo e prolongado com os homens do mar, está amplamente descrita nas suas obras. A jornada para Liverpool encontra-se em Redburn. His First Voyage (1849). A estada junto dos "canibais" Typee é narrada em Typee (1846), o seu primeiro livro. O período de Tahiti figura em Omoo (1847). Mardi, and a Voyage Thither (1849) trata de um marinheiro que abandonou o seu navio. O tempo a bordo do "United States" é abordado em White-Jacket or The World in a Man-of-War (1850). 


Mas é com Moby Dick or The Whale (1851), ao tempo um fracasso editorial, que Melville adquire a celebridade. O assunto da obra é a perseguição de uma baleia, mais propriamente um cachalote branco já várias vezes arpoado pelos baleeiros e que, possuído de uma fúria implacável, se vinga destroçando-os. Este romance foi inspirado pelo naufrágio do "Essex", comandado pelo capitão George Pollard, que se afundou ao ser atingido por uma baleia, e permitiu ao autor não só dissertar sobre a caça às baleias e as especificidades de um navio como também sobre as relações humanas a bordo, num universo exclusivamente masculino. No caso, o barco é o "Pequod", comandado pelo diabólico capitão Ahad, que tudo afronta para atingir Moby Dick, a baleia outrora responsável por lhe ter amputado uma perna. O desfecho é conhecido. A história é narrada por Ismael, um jovem que embarca pela primeira vez (um greenhorn) e que se liga de perturbante amizade a um marinheiro, Queequeg, um nativo (figura inspirada dos "canibais" tahitianos) já habituado às lides da caça às baleias e naturalmente a outras. Ismael é o único sobrevivente da trágica expedição e pode ser considerado como um alter ego de Melville.




Embora homossexual, e apesar da sua misoginia, Herman Melville casou em 1847 com Elizabeth Shaw, tendo tido quatro filhos. Todavia, a grande paixão da sua vida foi o escritor Nathaniel Hawthorne (1804-1864), que conheceu em 1850, quando este tinha 46 anos e Melville 31 e que foi um idílio efémero. Hawthorne, também casado - e com uma mulher desconfiada - era um puritano assustado e não terá correspondido a Melville com um entusiasmo recíproco. Essa desilusão está de alguma forma estampada no romance que se seguiu, Pierre or The Ambiguities (1852), que foi transportado para o cinema pelo realizador Leos Carax, com o título de Pola X (1999), filme interpretado por Guillaume Depardieu e Catherine Deneuve.


Nathaniel Hawthorne

Note-se que o primeiro romance de Nathaniel Hawthorne (considerado o maior contista dos Estados Unidos) - The Scarlet Letter (1850) - cuja primeira edição se esgotou num mês, foi traduzido por Fernando Pessoa (A Letra Encarnada), encontrando-se o texto dactilografado no seu espólio da Biblioteca Nacional.


O último livro de Herman Melville, Billy Budd, Sailor, foi escrito em 1891 e ficou inacabado. O manuscrito só foi descoberto em 1919 e a narrativa seria publicada postumamente em 1924 pelo seu biógrafo Raymond Weaver. A versão autorizada reporta-se a 1962, após demorado estudo do texto. A obra conta a história de Billy, um belo marinheiro de vinte e um anos, alistado em 1797 no navio britânico "Bellipotent" durante a guerra entre a França e a Inglaterra. O jovem suscita duas paixões inconfessáveis, a do capitão Vere e a do mestre-de-armas Claggart. Falsamente acusado por este último de tentativa de amotinação, e incapaz de se defender perante o capitão devido à sua gaguez, Billy desfere em Claggart um soco que se revela mortal. Constituído o tribunal e aplicada a lei marcial, e perante a impotência legal do capitão para lhe poupar a vida, Billy é enforcado no traquete. O conto foi traduzido para português por José Estevão Sasportes e publicado em 1963 por Livros do Brasil.


Sobre o tema, Peter Ustinov realizou um filme homónimo em 1962, com Terence Stamp no protagonista, e Benjamin Britten compôs uma ópera em 1951, com libretto de E.M. Forster e Eric Crozier.







A ópera Moby Dick apresentada em San Francisco tem libretto de Gene Scheer, é dirigida por Patrick Summers e encenada por Leonard Foglia. A interpretação está a cargo da San Francisco Opera Orchestra e dos cantores Jay Hunter Morris (Capitão Ahab), Stephen Costello (Greenhorn Ismael), Morgan Smith (Imediato), Jonathan Lemalu (Queequeg) e Talise Trevigne (Pip, o moço da cabina), nos principais papéis.





Há também, entre outros,  um notável filme Moby Dick, de John Huston (1956), com Gregory Peck interpretando o Capitão Ahab, e um telefilme austro-alemão, realizado em 2010 por Mike Barker, com William Hurt no Capitão Ahab.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

PATRICK MODIANO




O escritor francês Patrick Modiano, de 69 anos, é o laureado deste ano com o Prémio Nobel da Literatura.

Autor de trinta obras, tornou-se conhecido a partir do seu segundo romance, La ronde de nuit (1969). Galardoado em 1972 com o Grande Prémio do Romance da Academia Francesa, por Les Boulevards de ceinture, obteve em 1978 o Prémio Goncourt, com Rue des boutiques obscures.

Na semana passada, o "Nouvel Observateur" (nº 2604) publicou uma grande entrevista com o escritor a propósito do seu livro recém-publicado Pour que tu ne te perdes pas dans le quartier.