quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

MUBARAK NÃO SAI (POR ENQUANTO)


Num discurso anunciado com horas de antecedência, e aguardado com imensa expectativa pela multidão (centenas de milhar de pessoas) reunida na praça At-Tahrir, Mohamed Hosni Mubarak desiludiu todos quantos pensavam que ia anunciar a sua retirada. Mas não. O Raïs continua, segundo sua intenção, até ao termo do mandato, em Setembro próximo.

Falando há duas horas pela televisão egípcia, Mubarak disse ter transmitido alguns poderes ao vice-presidente, Omar Suleiman, mas que não se curvava perante pressões estrangeiras (alusão implícita aos Estados Unidos) que insistem na sua imediata demissão. Assegurou que acompanhará as emendas à Constituição, para que as próximas eleições presidenciais exprimam a vontade nacional, garantiu a continuação do diálogo e responsabilizou-se pela manutenção da estabilidade do país até o fim do seu mandato. Afirmou ainda que cumpriria o juramento feito perante Deus e perante a Nação.


Este discurso desagradou profundamente aos manifestantes, que empunharam sapatos em protesto, e que ouviram a seguir o discurso do vice-presidente Omar Suleiman, apelando aos egípcios para que regressem a suas casas e retomem a vida normal, uma vez que as conversações com a Oposição têm tido resultados positivos e que o processo de normalização tem de ser percorrido passo a passo sob pena do país mergulhar no caos.


O Supremo Conselho das Forças Armadas Egípcias, reunido esta tarde sob a presidência do ministro da Defesa e comandante-em-chefe das Forças Armadas, marechal Mohamed Hussein Tantawi (e não, como habitualmente, de Mubarak), emitiu um comunicado, declarando que se encontrava em reunião permanente e que as forças armadas protegeriam o povo e a nação egípcia.



Em Washigton, Barack Obama, que parece ter esperado pela demissão de Mubarak esta noite,  convocou de imediato uma reunião do Conselho de Segurança Nacional.

Não tendo os manifestantes que desde há duas semanas se encontram reunidos na praça At-Tahrir acatado os apelos de Mubarak e Suleiman para dispersar, verificando-se, ao contrário que se intensifica a exigência da imediata partida de Mubarak, e que muitos opositores marcham em direcção ao edifício da Televisão, especula-se quanto à possibilidade de um golpe de Estado militar para evitar uma confrontação sangrenta entre o exército e os milhões de pessoas que em todo o país clamam pela resignação do presidente.

O silêncio (de ouro) dos outros governos dos países árabes é quebrado pela apoio claro da Arábia Saudita a Hosni Mubarak, tendo o rei Abdullah condenado a ingerência de países estrangeiros nos assuntos internos do Egipto.

Refira-se que após os discursos de Mubarak e Suleiman, Mohamed El-Baradei fez um nítido apelo às forças armadas para que evitem que o país soçobre no caos.

A situação surge pois pouco clara quanto ao real poder de Mubarak neste momento e quanto às intenções do exército. As próximas horas serão decisivas para que alguma luz se faça sobre a evolução da situação no Egipto.

1 comentário:

Anónimo disse...

Entretanto já saiu para Charm-el-Sheik (por enquanto...) Aguardam-se ansiosamente os comentários deste atento blogue.