segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A UEFA A JOGAR COM ISRAEL

Michel Platini

O Comité Executivo da UEFA, presidido por Michel Platini, escolheu Israel para organizar o Campeonato da Europa de Sub-21, em 2013.

Michel Platini, um antigo jogador francês de futebol que conseguiu chegar a presidente da UEFA, cauciona assim uma decisão a todos os títulos polémica, não só porque Israel não faz parte da Europa (apesar de participar em festivais europeus de canções e quejandos), mas principalmente atendendo à política racista e ao expansionismo sionista de Israel.

Pode ler-se aqui uma notícia mais esclarecedora sobre este caso.

domingo, 30 de janeiro de 2011

A INSURREIÇÃO NO EGIPTO



Continuam as manifestações em todo o Egipto, nomeadamente na praça At-Tahrir (a praça da Libertação, cujo nome assume hoje um duplo significado). O antigo director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica, Mohamed El-Baradei, deslocou-se a esta praça, proclamando que o presente movimento de contestação ao regime é irreversível.

Entretanto, a Irmandade Muçulmana, na ausência de um rosto conhecido e credível que congregue a Oposição a Mubarak, pediu a El-Baradei que estabeleça contactos com os diversos grupos oposicionistas com a finalidade de se estabelecer um diálogo que conduza à substituição do regime.

Verifica-se, na cidade do Cairo, uma confraternização entre muitos militares e populares,  já que todos são filhos do povo.


Os governos americano e britânico estão a começara a retirar os seus cidadãos do Egipto, reduzindo também ao mínimo o pessoal das respectivas representações diplomáticas.

A Universidade Americana do Cairo, um dos mais prestigiados estabelecimentos universitários do país, informa no seu site que será facilitada a saída do Egipto a todos os que o desejarem, estando as aulas suspensas e os estudantes em segurança, fora do centro da cidade.

Confirma-se que o recolher obrigatório continua a não ser cumprido, enquanto o governo se empenha em impedir as comunicações telefónicas e informáticas no país. O ministério da Informação mandou encerrar os escritórios da estação de televisão Al-Jazira, impedindo-a também de emitir a partir do país.

Os governos ocidentais encontram-se extraordinariamente preocupados com o evoluir dos acontecimentos no Egipto. Sarkozy, Merkel e Cameron assinaram um comunicado conjunto pedindo "moderação", mas parece que acordaram tarde. Também Obama tem solicitado a introdução de reformas do ponto de vista político, económico e social. Os principais receios do Ocidente centram-se na eventualidade da propagação da sublevação a todo o mundo árabe, de um bloqueio do Canal de Suez, da vulnerabilidade de Israel face a toda uma nova política dos países árabes em relação à solução da Questão Palestiniana.

CRIME CONTRA A HUMANIDADE




Alguns criminosos introduziram-se durante a noite, entrando pelo telhado, no Museu do Cairo, tendo destruído algumas peças e, eventualmente, roubado outras, como declarou esta manhã o secretário-geral do Supremo Conselho das Antiguidades Egípcias, Zahi Hawass. O Museu, entre muitas peças de incalculável valor, abriga o tesouro do faraó Tut-Ankh-Amun, o conjunto de objectos encontrados intactos no túmulo do jovem rei, o único túmulo faraónico a chegar praticamente intacto aos nossos dias. O tesouro de Tut-Ankh-Amun é possivelmente a mais importante colecção artística da história da Humanidade e encontra-se, salvo as peças de maior dimensão, numa sala com portões gradeados no 1º andar do Museu. Ignora-se se entre os expositores violados se encontram alguns desta sala. A violação deste tesouro constituiria um Crime contra a Humanidade e os seus autores deveriam ser imediatamente sujeitos à pena capital.

Entretanto, muitos populares estabeleceram um cordão humano em redor do Museu, que se encontra também sob a vigilância das Forças Armadas.

Aguardam-se mais elementos sobre este terrível acto.

YANNICK DJALÓ (II)


Sendo muito reduzidos os meus conhecimentos sobre futebol, publiquei em 7 deste mês, por razões meramente circunstanciais, um post sobre Yannick Djaló.


Ora aconteceu, para minha surpresa, que o referido post tem tido centenas de visualizações, sendo já o décimo post mais visto desde que iniciei a actividade deste blogue em Janeiro de 2009.


Através de comentários dos leitores e por outras vias, tenho recebido insistentes pedidos no sentido de divulgar mais imagens e informações sobre o Yannick.


Não tendo capacidade para avaliar do potencial de Djaló enquanto futebolista, procurarei satisfazer as solicitações dos meus leitores fornecendo alguns dados biográficos e afixando mais algumas fotografias do jogador que - ao que parece - goza de um generoso acolhimento por parte do público.


Yannick dos Santos Djaló nasceu em Bissau, em 5 de Maio de 1986 e emigrou para Portugal ainda muito jovem.


Fez a sua estreia na equipa principal do Sporting Clube de Portugal em 2006, tendo provado ser um jogador de qualidade que se vem afirmando progressivamente.


Como avançado, é autor de numerosos golos, decisivos em vários desafios, como os dois que marcou ao Futebol Clube do Porto (2-0) no final da Supertaça de Portugal em 2008.


Yannick Djaló vive com uma actriz de televisão e foi há dias pai de uma menina.


Espero que estas imagens e as breves notas que coligi possam satisfazer de alguma forma os meus leitores.

Boa sorte, Yannick.

sábado, 29 de janeiro de 2011

O ADIAMENTO


Face á insurreição que se verifica no país, o presidente Hosni Mubarak nomeou vice-presidente da Repúblca (cargo que ele mesmo ocupava no tempo de Sadat e que não voltou a ser preenchido desde que há 30 anos Mubarak ascendeu á chefia do Estado) o general Omar Suleiman, chefe dos Serviços Secretos.

Omar Suleiman

E designou como primeiro-ministro o general Ahmed Shafik, ex-chefe do Estado-Maior da Força Aérea e actual (até ontem) ministro da Aviação Civil.

Ahmed Shafik

O povo continua nas ruas a reclamar a saída de Mubarak, que, certamente pressionado pelo Ocidente (as forças navais americanas estão a tomar posições no Mediterrâneo), prepara a entrega do poder às Forças Armadas.


Os protestos no Egipto, pedindo a partida do Raïs e a mudança do regime provocaram já mais de uma centena de mortos e milhares de feridos.

O EGIPTO EM ESTADO DE SÍTIO


Após quatro dias de violentos protestos em todo o país, o presidente Mubarak acaba de anunciar pela televisão que demitiu o governo, e que um novo executivo tomará posse amanhã.

Mubarak, que os egípcios aguardam que abandone o poder, está a tentar controlar uma situação demasiado difícil, devido ao generalizado descontentamento nacional. A população, especialmente os jovens, desafia o recolher obrigatório e manifesta-se neste momento nas ruas do Cairo, de Alexandria, do Suez, etc.

O exército ocupa as principais artérias do Cairo, verificando-se um retroceder da polícia, e muitos jovens acompanham já os soldados, empoleirando-se nos carros de combate, o que lembra a recente rebelião na Tunísia, e a mais antiga em Portugal. Não sei qual a flor que será enfiada no cano das espingardas, depois dos cravos e dos jasmins, uma vez que os meus conhecimentos de botânica egípcia são praticamente nulos.



Há vários edifícios e veículos incendiados, muitos departamentos governamentais saqueados e o exército tomou posições em torno do Museu do Cairo (onde se encontram preciosidades de incalculável valor, entre as quais o tesouro do faraó Tut-Ankh-Amun), bem como da Televisão e da residência de Mubarak, em Heliópolis, nos arredores da capital.



Há vários mortos e centenas de feridos entre os manifestantes e a polícia. Mohamed El-Baradei, Prémio Nobel da Paz e ex-director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica, que se posicionou como potencial sucessor de Mubarak, foi detido pela polícia mas libertado seguidamente.


A grande indignação que desde há anos se instalou no mundo árabe, fruto da miséria, da corrupção dos dirigentes, das injustiças sociais e da repressão policial, agravou-se com a invasão do Iraque, decidida por dois criminosos de guerra, Bush e Blair, que foram acompanhados nos Açores por outros dois indivíduos pouco recomendáveis, Aznar e Barroso. Juntando-se a tudo isto o descarado apoio do Ocidente a Israel e o indefinido protelamento da solução da questão da Palestina, foram criadas as condições para o despoletar das manifestações violentas que já levaram à queda de Ben Ali, na Tunísia, a que se sucederá a de Mubarak, no Egipto, e a de outros dirigentes dos países árabes. É só uma questão de tempo. Está a "comunidade internacional" finalmente preocupada com a situação e faz apelo ao diálogo. Parece que acordou um pouco tarde.

Em qualquer caso, o Egipto não voltará a ser como dantes.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O MURO ENTRE A GRÉCIA E A TURQUIA

Brice Hortefeux

O ministro francês do Interior, Brice Hortefeux, declarou ontem em Atenas que a França apoia o projecto grego de "construir uma vedação na fronteira grego-turca". Acrescentou Hortefeux, após uma reunião com o ministro grego da Protecção do Cidadão, Christos Papoutsis, que as medidas tomadas pela Grécia para conter a imigração ilegal, "desde que não se trate naturalmente de restaurar o muro de Berlim", vão no bom sentido e que terão o apoio do governo francês.

No início de Janeiro, Papoutsis anunciara a intenção da Grécia de criar uma vedação na fronteira terrestre com a Turquia, principal porta de entrada da imigração ilegal na União Europeia, considerando que o seu país já ultrapassara os limites em matéria de capacidade de acolhimento de migrantes clandestinos.

O projecto grego foi acolhido com grandes reservas pela União Europeia, tendo o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem decidido a semana passada que a União Europeia deverá reconsiderar as suas regras em matéria de tratamento dos pedidos de asilo.

Depois da queda do Muro de Berlim, e enquanto não é derrubado o Muro construído pelos israelitas em volta da Cisjordânia, constitui um mau presságio este novo Muro grego para conter a imigração ilegal, ainda que devam ser tomadas medidas adequadas para controlar os fluxos migratórios. Mas, como disse Umberto Eco, em 23 de Janeiro de 1997, num convénio organizado pelo município de Valência sobre as perspectivas do Terceiro Milénio, «Os fenómenos que a Europa tenta ainda enfrentar como casos de emigração são pelo contrário casos de migração. O Terceiro Mundo está a bater às portas da Europa, e entra mesmo quando a Europa não está de acordo. O problema já não é decidir (como os políticos fingem acreditar) se se admitem em Paris raparigas estudantes com o chador ou quantas mesquitas devem erigir-se em Roma. O problema é que no próximo milénio (e como não sou profeta não posso especificar a data) a Europa será um continente multirracial, ou se preferirem "colorado". Se lhes agradar, será assim; e se não lhes agradar, será assim na mesma.»

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

UM CASO ESPANTOSO



Pelos anos 80, costumava dizer-me um amigo, pessoa de grande cultura e de fina ironia, que foi membro dos governos de Sá Carneiro e de Pinto Balsemão, que na vida já nada o espantava, "nem as coisas normais". Inferindo-se daqui que as coisas anormais se revestiam então para ele do mais vulgar quotidiano.

Há, contudo, para mim, algumas coisas que, não sabendo já se são normais ou anormais, ainda me provocam espanto e perplexidade. Como, por exemplo, as recentes declarações do principal acusado do Processo Casa Pia, Carlos Silvino, ao confessar numa entrevista que mentiu ao tribunal por pressão da polícia.

O Processo em questão, cujos contornos foram sempre estranhos, alimentado pela comunicação social durante anos consecutivos como se nada mais houvesse a tratar no país, ficou envolto em sombras, como se escreve aqui, e sobre ele pairarão as mais densas dúvidas, como decorre deste post.

Em entrevista à RTP, há alguns meses atrás, o bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, afirmou categoricamente que este Caso era eminentemente político, destinando-se a afastar da liderança do Partido Socialista pessoas consideradas "mais à esquerda", como Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso, sendo que se verificou mesmo uma tentativa para envolver o presidente da República, Jorge Sampaio, e o presidente da Assembleia da República, Jaime Gama.

Ensinam-nos os romances policiais que há sempre, ou quase, alguém a quem o crime aproveita. Não sei se alguma vez se escreverá a verdadeira história deste Processo, mas o que dele sabe o comum dos mortais, como eu, daria para argumento de um romance, peça de teatro ou filme.

Aguardam-se, como nas telenovelas, os próximos episódios.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

LIEBERMAN EM PORTUGAL


Chegou ontem em visita oficial a Portugal, onde permanecerá até hoje, o vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros israelita Avigdor Lieberman. Nascido a 5 de Junho de 1958, em Kichinev, na ex-União Soviética, hoje capital da Moldávia, cidade cuja maioria da população é moldavo/romena, Evet Lvovich Liberman, que depois alterou o nome para o que hoje utiliza, emigrou para Israel e vive actualmente em Nokdim, um colonato israelita na Cisjordânia, e portanto uma habitação ilegal, face ao direito internacional.

Lieberman, uma controversa figura da mais do que controversa política israelita, encontra-se sob investigação policial por suspeitas de corrupção. Membro do Knesset, é fundador e líder do partido Yisrael Beiteinu (Israel é a Nossa Casa),  um partido na linha de Zev Jabotinsky, criador do Sionismo Revisionista. A base eleitoral de Lieberman são os imigrantes da antiga União Soviética, embora o partido pretenda aliciar, com as suas propostas políticas, outras faixas da população. O seu programa inclui a redefinição das fronteiras da Cisjordânia, por troca de terrenos, e a expulsão de todos os cidadãos israelitas árabes que não assinem um compromisso de lealdade em relação a Israel.

Considerado como neo-fascista, gangster, racista, demagogo, anti-árabe, etc., não só internacionalmente mas inclusive por uma parte dos israelitas, este indivíduo foi convidado por Benjamin Netanyahu, como nº 2 e titular das relações externas do actual governo.

A sua súbita visita a Portugal, onde será recebido pelo presidente da Assembleia da República, primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros, está a suscitar a maior polémica e inclui-se no périplo que vem efectuando por diversas capitais, decorrente das preocupações com que o Estado Sionista se vê confrontado não só pelo reconhecimento sucessivo do Estado Palestiniano por muitos países mas igualmente por causa dos recentes acontecimentos no Mundo Árabe.

Apesar de se efectuar de forma quase clandestina, a visita de Lieberman a Portugal e os seus contactos com algumas das mais altas figuras do Estado merece o vivo repúdio de diversas forças políticas nacionais e das organizações que defendem os direitos do Povo Palestiniano.

MANIFESTAÇÕES NO LÍBANO


Milhares de libaneses sunitas protestaram ontem, especialmente nas cidades de Beirute, Tripoli e Saïda, onde tiveram lugar violentas manifestações contra a nomeação do novo primeiro-ministro, Najib Mikati, proposto pelo sheikh Hassan Nasrallah, líder do Hizbullah.

Hassan Nasrallah

Mikati foi designado pelo presidente da República, Michel Sleimane, após a queda do governo de Saad Hariri, filho do antigo primeiro-ministro Rafic Hariri, morto num atentado, que está a ser há largo tempo investigado e em que teriam participado, segundo afirma a população sunita, o governo sírio e o próprio Hizbullah, que agora retirou o seu apoio parlamentar ao filho do falecido. O novo chefe do governo é sunita, respeitando assim a divisão de poderes no Líbano (um estado multi-confessional e artificial promovido pela França aquando da partilha do Médio Oriente pela França e a Inglaterra), em que o presidente da República tem de ser cristão, o presidente do Parlamento (Nabih Berri, chefe do partido Amal [Esperança}) xiita e o primeiro-ministro sunita.


Porém, os muçulmanos sunitas acusam Mikati de ser uma criatura de Nasrallah, o qual já declarou (a partir de Baalbek) que o próximo governo não será um governo do Hizbullah e que Mikati é um homem do centro que promoverá a unidade nacional. Nasrallah insistiu que "não há vencedor, nem vencido" e apelou à união de todos os libaneses. Por sua vez, Mikati afirmou que a sua nomeação "não é a vitória de um campo contra o outro, mas a vitória da reconciliação".

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

MANIFESTAÇÕES NO EGIPTO


Milhares de pessoas manifestaram-se hoje no Cairo e um pouco por todo o Egipto, pedindo a renúncia do presidente Hosni Mubarak, que governa o país há 30 anos.

Registaram-se violentos confrontos entre a população e a polícia, de que resultaram dois manifestantes mortos (na cidade de Suez) e um polícia morto (no Cairo). Há um número indeterminado de feridos. As forças policiais utilizaram gás lacrimogéneo ao que os manifestantes replicaram arremessando pedras. No Cairo, a principal concentração teve lugar na praça At-Tahrir (Da Libertação), onde se encontra o Museu Nacional, o Hotel Hilton, a Universidade Americana e um famoso edifício gigante (Mugama)  que Nasser mandou construir para nele albergar todos os ministérios mas onde hoje apenas funciona parte da administração.

A maioria da população egípcia, que vive num estado de grande pobreza e repressão, invocou o precedente tunisino que levou à fuga de Ben Ali para exigir a partida de Mubarak. Os Irmãos Muçulmanos e o partido laico Wafd (Delegação), não se associaram oficialmente a estas manifestações de protesto mas recomendaram a participação dos seus militantes. O ministro egípcio do Interior, Habib al-Adli. garantiu que as forças da ordem enfrentarão qualquer ameaça contra a segurança da população, uma afirmação um pouco inconsequente, já que é a própria população que se está a manifestar.

Uma rebelião violenta da população egípcia (80 milhões) provocará a desestabilização total do Médio Oriente, com consequências imprevisíveis.

EXPLOSÃO EM MOSCOVO



O mundo é cada vez mais um lugar perigoso. Por umas razões ou por outras, sucedem-se os incidentes, as manifestações, os protestos, os ataques, os raptos, os atentados terroristas. Tenho procurado registar neste blogue, nas últimas semanas, os acontecimentos de maior relevo, especialmente os ocorridos no mundo árabe.

Acontece que ontem (às 13.32 h de Lisboa), no aeroporto internacional de Domodedovo, o mais importante de Moscovo, uma explosão (de potência equivalente a 5 Kg de TNT), resultante possivelmente de um acto "kamikaze", provocou, para já, mais de 30 mortos e centenas de feridos, no terminal de chegadas.

A sucessão de eventos deste tipo, que ameaça alargar-se a todo o planeta (consequências da globalização!), é o prenúncio da indispensabilidade da instauração de uma nova ordem mundial.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

MANIFESTAÇÃO EM BRUXELAS


Mais de 30.000 belgas desfilaram ontem em Bruxelas, numa "marcha da vergonha", em sinal de protesto contra as divergências entre os políticos flamengos e valões que impedem a constituição de um governo, desde as eleições legislativas de 13 de Junho de 2010.

A manifestação, que terá sido organizada através da internet, constituiu uma das formas de protesto que os belgas, perante uma cisão a breve termo no país, estão a utilizar para pressionar uma classe política inconsistente, que se distrai com a presença em Bruxelas da sede da União Europeia, cujo futuro se encontra, aliás, também ameaçado. O célebre actor Benoît Poelvoorde apelou entretanto aos seus compatriotas para deixarem crescer a barba até à constituição de um novo governo.

RENATO SEABRA NO "IRMÃO LÚCIA"



Um humor salutar, que não ofende e que constitui uma lição de civismo.

A propósito, o artigo de ontem, de Paulo Moura, no PÚBLICO, sobre as misérias do star-system português. As televisões, que começam (ou começaram) a tornar-se cúmplices dos maiores crimes, acabarão por ter, também, a sua hora da verdade, mas talvez demasiado tarde. Juntamente com as passagens de modelos, os concursos, as telenovelas, as festas jet-set, as revistas da moda, e todo o cortejo de horrores que acompanha estas actividades. É claro que o "povo", por enquanto, aprecia, mas um dia...

INCIDENTES NO IÉMEN

Tawakul Karman

Centenas de estudantes entraram ontem em confronto com a polícia, no exterior da Universidade de Sanaa, protestando contra a prisão da líder estudantil Tawakul Karman e exigindo a demissão do presidente Ali Abdullah Saleh, que governa o Iémen há mais de três décadas, com poucos resultados na irradicação da pobreza. Mais de 40% da população vive com menos de dois dólares por dia e um terço passa fome sistematicamente.

A polícia ocupou as ruas, impedindo a multidão de se dirigir para o gabinete do Procurador Geral, tendo utilizado gás lacrimogéneo e confiscado as câmaras dos jornalistas. Karman, que é membro do partido islâmico Islah e encabeça o grupo activista iemenita Mulheres Jornalistas sem Grilhetas, tem incitado os seus compatriotas a apoiarem a luta do povo tunisino.

Já na passada quinta-feira milhares de pessoas se haviam manifestado em várias cidades do sul do país, pedindo um limite para a duração do exercício das funções presidenciais.

domingo, 23 de janeiro de 2011

A GRANDE MISSA DOS MORTOS





Uma notável interpretação do Requiem de Berlioz, pela London Symphony Orchestra, dirigida por Sir Colin Davis

sábado, 22 de janeiro de 2011

TUNISIA - A CONTESTAÇÃO DA POLÍCIA


Milhares de pessoas continuaram hoje a manifestar-se nas ruas de Tunis contra o governo de transição, chefiado pelo ex-primeiro-ministro de Ben Ali, Mohamed Ghannouchi, apesar da promessa deste de se retirar da vida política a seguir às próximas eleições. Os tunisinos recusam a participação na governação de todos os que foram colaboradores próximos do regime do presidente deposto.

A manifestação de hoje contou com a presença de centenas de polícias, fardados ou à civil, que chegaram mesmo a tentar impedir o acesso ao edifício do Governo do presidente da República em exercício Fouad Mebazaa, tendo sido calmamente dissuadidos por outros camaradas que se encontravam de serviço.


Por outro lado, continuam a registar-se manifestações de protesto em toda a Tunísia contra a presença em órgãos de poder de membros do ilegalizado RCD - Rassemblement Constitutionel Démocratique, o partido do presidente deposto.

"Nous aussi avons pendant des années été victimes de l'arbitraire de Ben Ali", explicou um jovem polícia. "Aujourd'hui, notre vie est menacée, les citoyens nous prennent pour des tueurs. Le peuple veut se venger, mais nous, nous sommes là pour assurer sa sécurité", acrescentou. Pediu também, como o haviam feito na véspera polícias de diversas cidades da Tunísia, a criação de um sindicato para defender os direitos da profissão.

A população tunisina exprime abertamente a sua hostilidade em relação à polícia, instrumento privilegiado do poder de Ben Ali, que se ilustrou na sangrenta repressão da "révolution de jasmin", que fez 100 mortos em menos de um mês segundo as Nações Unidas. "Je vous demande pardon et j'espère que vous nous pardonnerez", declarou ontem um polícia de uniforme, Naïm Selmi, ovacionado pela multidão reunida diante da sede do Governo, o Kasbah de Tunis, aliás Qassabah, em bom árabe, que os franceses sempre deturparam.

VIOLENTAS CONFRONTAÇÕES EM ARGEL


Verificaram-se hoje violentas confrontações em Argel, onde milhares de pessoas, desafiando a ordem de proibição de manifestações, reclamaram a instauração da democracia.

Os manifestantes, que procuravam dirigir-se à Assembleia Nacional, foram impedidos pela polícia que utilizou matracas e gás lacrimogéneo. Tendo o RCD - Rassemblement pour la Culture et la Démocratie anunciado a manifestação de hoje, desde esta madrugada que o velho centro histórico de Argel estava ocupado por dezenas de carros blindados, tendo a polícia erguido barragens à entrada das vias de acesso à cidade. O presidente do RCD, Saïd Sadi declarou que ficaram feridos 42 dos seus partidários, dois dos quais gravemente. Entre os feridos encontra-se o chefe do grupo parlamentar do RCD, Othman Amazouz. Ficaram igualmente feridos sete polícias, dois dos quais em estado grave.

Os manifestantes gritavam: "Estado assassino" e "Argélia livre, Argélia democrática". Os motins verificados na Argélia no princípio deste mês, durante cinco dias,  contra o aumento do custo de vida, provocaram cinco mortos e 800 feridos.

MARROCOS - IMOLAÇÕES PELO FOGO

Parlamento - Rabat

Três pessoas tentaram imolar-se ontem pelo fogo em Marrocos. O primeiro, em Smara, foi um homem recém-chegado do Sahara Ocidental, mas as autoridades impediram a consumação do acto, transportando-o ao hospital. A segunda tentativa teve lugar em Béni Mellal, no centro do país. Tratou-se de um vendedor ambulante de 41 anos, a quem havia sido prometida uma loja. Ficou, apenas, ligeiramente queimado, devido a ter sido impedido por terceiros de concretizar o seu desejo. Finalmente, um homem, desesperado por problemas de herança, incendiou-se em Casablanca, sendo conduzido ao hospital.

São as primeiras tentativas de imolação pelo fogo que se registam em Marrocos, na sequência do jovem que se incendiou em Sidi Bouzid em Dezembro passado e cuja morte provocou a sublevação generalizada do povo tunisino e levou à queda do regime do presidente Ben Ali. Outras imolações tiveram depois lugar em diversos países árabes.

Entretanto, os numerosos jovens diplomadas que se manifestam diariamente em frente do Parlamento de Rabat pedindo o seu ingresso na função pública, suspenderam este fim de semana as suas reivindicações, após uma uma promessa do primeiro-ministro Abbas El Fassi de lhes conceder uma "quota" nos postos a criar na administração em 2011. Abbas recordou que no ano transacto haviam sido recrutados 1.300 diplomados-desempregados.

O antigo coronel da Força Aérea e hoje subsecretário do Departamento de Estado norte-americano, Philip Crowley, afirmou estar convencido de que os acontecimentos da Tunísia não se propagarão aos estados árabes vizinhos, apesar de muitos traços comuns entre as respectivas sociedades,  não havendo por isso que temer um efeito de bola de neve, e considerou os acontecimentos da Tunísia como uma "história fascinante". Uma opinião deveras curiosa!

MANIFESTAÇÕES NA JORDÂNIA


Milhares de pessoas manifestaram-se ontem nas ruas de várias cidades jordanas para exigir a demissão do governo e  a abertura democrática do país e em protesto contra o aumento do custo de vida.

Ontem em Amman, no quadro de uma jornada de manifestações, chamada "Jornada da raiva", uma multidão exigiu a demissão do primeiro-ministro Samir Rifai. O chefe do governo é nomeado pelo rei e os manifestantes pretendem que seja o povo a escolhê-lo em eleições livres.

Segundo a imprensa , o governo adoptou algumas medidas para conter a contestação que dura já há algumas semanas. Os Irmãos Muçulmanos e as forças sindicais ameaçam instalar-se amanhã em frente ao Parlamento a fim de reivindicar uma urgente reforma da política económica.

INCIDENTES NA ALBÂNIA


Três mortos e dezenas de feridos é o resultado das manifestações anti-governamentais que ontem tiveram lugar em Tirana contra o governo do primeiro-ministro pró-americano Sali Berisha.

Mais de 20.000 pessoas encheram as ruas da capital, clamando pela realização de novas (e livres) eleições, depois da resignação do vice-primeiro-ministro devido a um caso de corrupção. O presidente da República, Bamir Topi, apelou a um entendimento entre as forças rivais, estando as próximas eleições gerais marcadas para 2013.

A Albânia, que é um dos países mais pobres da Europa, integra já a NATO e deseja fazer parte da União Europeia.

INQUÉRITO A BLAIR

Um manifestante com um cartaz em frente do edifício da Comissão de Inquérito


A Comissão de Inquérito à participação da Grã-Bretanha na Guerra do Iraque, presidida  por Sir John Chilcot, ouviu ontem pela segunda vez o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, mundialmente considerado como criminoso de guerra.

Blair lamentou a perda de vidas no conflito, o que provocou na sala sonoros murmúrios de "demasiado tarde", tendo afirmado que havia garantido a Bush, um ano antes da invasão, que os Estados Unidos teriam o apoio da Grã-Bretanha. Afirmou também que já era tempo de deixar de se "pedir desculpa" pela invasão do Iraque e que ignorou o parecer (negativo) do procurador-geral Lord Goldsmith, cuja opinião não tinha a obrigação de transmitir a George Bush. Acusou ainda o Irão de encorajar o terrorismo e salientou a ausência de resultados da política do presidente Obama em relação a Teerão, voltando a repetir que o mundo é um ligar melhor sem Saddam Hussein.

(Imagem publicada no blogue "We Have Kaos In The Garden)

Junto ao Queen Elizabeth Hall, frente ao Parlamento britânico, onde funciona a Comissão de Inquérito, uma multidão de actores, membros do parlamento, de organizações contra a guerra, de familiares dos soldados ingleses mortos no Iraque e de muitos populares manifestou-se contra Blair e queixou-se por ele ter chegado de madrugada para evitar os seus protestos.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

CINQUENTENÁRIO DE CÉLINE


Uma polémica agita a França. Frédéric Mitterrand, ministro da Cultura, deverá apresentar hoje publicamente o catálogo do Haut Comité pour les Célébrations Nationales, para o ano de 2011, que inclui, entre outras, a comemoração do cinquentenário da morte do escritor Louis-Ferdinand Céline (27/5/1894-1/7/1961). Serge Klarsfeld, presidente da Association des fils et filles de déportés juifs de France (FFDJF), manifestou a sua indignação por Céline estar incluído na lista das celebrações nacionais para o corrente ano e ameaçou recorrer ao presidente Sarkozy se a iniciativa se mantiver.

No seu blogue "La république des livres", o jornalista Pierre Assouline fornece-nos uma panorâmica do caso. É verdade que Céline, médico, escritor e jornalista, foi um destacado anti-semita, tendo publicado obras virulentas contra os judeus, como Bagatelles pour un massacre ou Les beaux draps. Mas também é verdade que é um dos maiores escritores franceses do século passado, como afirmam insuspeitas vozes citadas por Assouline. O seu livro Voyage au bout de la nuit é uma obra-prima da literatura o que terá justificado a sua inclusão na lista dos comemoráveis. E, ao contrário de outros escritores franceses do tempo de Vichy, Céline não colaborou com o regime nazi, embora tenha sido  julgado à revelia e condenado (e depois amnistiado) a um ano de prisão e à indignidade nacional. Tendo fugido com Pétain para Sigmaringen, após a queda do regime, viajou a seguir para a Dinamarca e regressou a França em 1951. Depois do seu retorno, escreveu ainda três livros.

Aguardemos os próximos episódios deste folhetim tipicamente gaulês.

Adenda: O ministro francês da Cultura cedeu perante a pressão de vários sectores de opinião que se indignaram com a inclusão de Céline na lista nacional de celebrações anuais, ordenando a retirada do nome do escritor. Philippe Sollers, que considera Céline e Proust os dois maiores escritores franceses do século XX, manifestou-se contra esta decisão, que considera ilegítima e deslocada. Entende Sollers que estamos perante um caso de grande insensatez, que só poderá contribuir para aumentar a popularidade de Céline.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

GENET, FASCISTA E ANTI-SEMITA ?


O impressionante número de livros escritos sobre Jean Genet foi aumentado no final do ano passado, a propósito do 100º aniversário do nascimento do controverso escritor francês.

Entre as obras recém-publicadas, figura o livro de Tahar Ben Jelloun, Jean Genet, Menteur Sublime. O escritor marroquino (n. 1944), que obteve o Prémio Goncourt em 1987 por La nuit sacrée, conheceu Genet em 1974, a pedido deste, que havia lido Harrouda, o primeiro livro de Ben Jelloun, publicado em 1973. A partir daí, desenvolveu-se uma amizade entre ambos, amizade que excluía (como refere o autor na obra agora editada e que constitui de alguma forma as suas memórias de Genet) qualquer tipo de relação sexual. Ben Jelloun, apesar de marroquino, não seria porventura o tipo de homem que interessaria a Genet, a não ser pela contribuição literária que lhe poderia dar acerca do mundo árabe.

A ligação de amizade, várias vezes interrompida pelas súbitas e prolongadas ausências de Genet em viagem, duraria até à morte deste em 1986. Da leitura do livro transparece uma imensa admiração pelo autor de Notre Dame des Fleurs, o que não impediu Ben Jelloun de criticar, sempre que o entendeu, as atitudes e posições públicas de Jean Genet.

Jean Genet, Menteur Sublime retém, em 40 pequenos capítulos, as impressões que o seu autor reteve de Genet, nos mais variados aspectos, durante uma convivência de 12 anos. Sobre a vida de Genet, os seus amigos (e inimigos), os seus amantes, as causas que sustentou, as mentiras que inventou (muitas vezes gratuitamente), as suas incoerências, as posições políticas que defendeu. Trata-se, pois de uma obra interessante a mais de um título, e que não tendo a pretensão de uma biografia (existe a de Edmund White, até hoje a obra de referência), contribui para iluminar alguns aspectos menos claros do percurso do escritor maldito.

Quase esmagado pelo livro de Sartre, Saint-Genet, Comédien et Martyr, introdução às suas Obras Completas e que provocou a interrupção da sua escrita por vários anos, Genet assume a defesa de causas políticas: os Black Panthers americanos, a Fracção do Exército Vermelho (Grupo Baader-Meinhof) e nomeadamente a Causa Palestiniana, que defendeu em todas as circunstâncias, em especial pela pena (Quatre heures á Chatila), pois encontrava-se no Líbano aquando do massacre perpetrado pelos falangistas libaneses com o apoio do exército israelita comandado por Ariel Sharon.

Tem o livro de Ben Jelloun, a propósito das ambiguidades, ou pseudo-ambiguidades, de Genet (há que ler Genet simbolicamente e no contexto da vida e da obra), o mérito de denunciar aqueles que se vêm comprazendo em considerar que Genet era fascista, mesmo nazi e designadamente anti-semita, etiqueta que tem constituído um cavalo de batalha de alguns escritores sionistas franceses, como Éric Marty, professor na Universidade de Paris VII ou Ivan Jablonka, jornalista e mestre de conferências da Universidade do Maine.

Para Jablonka (Les vérités inavouables de Jean Genet-2004), toda a vida de Genet teria sido uma mistificação que importa desconstruir. Ele, ladrão e homossexual, admirador de criminosos e terroristas, nutria um fascínio pelos crimes da Milícia e pelos campos de extermínio nazis. Para Éric Marty (Bref séjour à Jerusalém-2003 e Jean Genet, post-scriptum-2006), o seu anti-semitismo, que Sartre negara ao afirmar provocatoriamente em nota de rodapé (Saint Genet, Comédien et Martyr, p. 230) « Genet est antisémite», inscreve-se no Tabu da transacção imaginária que Genet impôs aos seus leitores. O último livro de Marty, mais breve e mais bem escrito do que o de Jablonka, desenvolve toda uma elaboração filosófica para chegar aos fins pretendidos.

Em matéria tão vasta e tão complexa, cabe aos leitores destas obras ajuizarem da bondade das teses. Há, todavia, uma certeza: Genet foi um dos maiores poetas, dramaturgos e prosadores franceses do século XX.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

AS IMOLAÇÕES CONTINUAM

Um rapaz francês de 16 anos tentou imolar-se ontem pelo fogo na casa de banho do liceu Saint-Joseph-Les-Maristes, de Marselha. Socorrido pelos colegas, foi internado em estado grave no hospital La Conception.

Já em 17 de Novembro passado, um outro estudante francês, de 18 anos, do liceu Toulouse-Lautrec, de Bordéus, se regara com acetona e largara fogo à roupa, antes de entrar na sala de aula, encontrando-se ainda hoje em estado de coma.

Entretanto, mais dois egípcios incendiaram-se ontem: um em Alexandria, Ahmed Hachem al-Sayyed, de 25 anos, desempregado, e outro no Cairo, Mohammed Faruq, advogado, que praticou o acto em frente do gabinete do primeiro-ministro. Encontram-se ambos vivos, mas com queimaduras graves.

Exceptuando o caso dos estudantes franceses, cujas razões se ignoram, os incendiados do Egipto, da Argélia e da Mauritânia seguem o exemplo do jovem tunisino imolado pelo fogo em Dezembro passado e que provocou a queda do regime de Ben Ali.

A 2ª cimeira económica dos chefes de Estado da Liga Árabe, que decorrerá hoje em Sharm el-Sheikh, no Egipto, deverá ocupar-se especialmente da situação na Tunísia.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

OS PERIGOS DO FACEBOOK

Continuamos a ser alertados para os perigos do Facebook. Pode ler aqui informação actualizada sobre a matéria.

QADHAFI E A TUNÍSIA


O líder líbio Muammar Al-Qadhafi afirmou anteontem num discurso que Zine El Abidine Ben Ali continua a ser o presidente legal da Tunísia, lamentando que ele tivesse deixado o país e, dirigindo-se aos tunisinos, declarou: «Vocês sofreram uma grande perda (...) Não há ninguém melhor do que Zine para governar a Tunísia».

Ignora-se, de momento, a reacção do povo líbio.

EGIPTO E MAURITÂNIA - IMOLAÇÕES PELO FOGO

Na sequência das imolações pelo fogo na Tunísia e na Argélia, repete-se o episódio no Egipto e na Mauritânia.


Em frente do Parlamento do Cairo, Abdo Abdelmoneim, proprietário de um restaurante em Qantara, junto ao canal de Suez, regou-se com gasolina e lançou fogo às roupas para protestar por não ter recebido coupons para comprar pão para o seu restaurante. Impedido pela polícia de consumar o acto, foi conduzido ao hospital.


Também na Mauritânia, perto do palácio presidencial de Nouakchott, Yacoub Ould Daoud, indignado com a situação política do país, imolou-se pelo fogo dentro da sua viatura, tendo sido evacuado pela polícia e levado ao hospital.

Assim, o exemplo da Tunísia está a frutificar no norte de África, onde cresce o descontentamento contra os regimes vigentes. Na Argélia, onde há dias um homem igualmente se imolou pelo fogo, os motins entre 6 e 9 deste mês provocaram já 5 mortos e 800 feridos. Depois da fuga de Ben Ali, os manifestantes pedem agora a saída dos presidentes Bouteflika, da Argélia, e Mubarak, do Egipto. E também do presidente da Mauritânia, Mohamed Ould Abdel Aziz.

Um autêntico tremor de terra abala todo o mundo árabe. Dirigentes de vários países começam a adoptar medidas para evitar que alastre a contestação generalizada à maior parte dos actuais regimes.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

TRAGÉDIA NO BRASIL

Petrópolis

As chuvas torrenciais que desabaram sobre Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo, nos arredores do Rio de Janeiro, derrubaram morros, arrasaram casas e provocaram o caos nestas cidades vizinhas da antiga capital do Brasil. Há uma sensação de incredulidade no país, já que as zonas afectadas não são propriamente favelas, mas áreas residenciais e de turismo, sendo mesmo Petrópolis a antiga capital imperial. Parece que um deficiente planeamento e a corrupção que facilita a construção em zonas de risco são responsáveis por esta tragédia que terá provocado cerca de 1.000 mortos (números ainda não confirmados, já que as buscas prosseguem num oceano de lama e de destroços) e à volta de 20.000 desalojados.

Brisbane

Trata-se de uma das maiores tragédias do Brasil das últimas décadas, que justifica a adopção de medidas drásticas relativamente às áreas onde se pode construir e à prevenção do deslizamento de terras, tendo em conta as súbitas alterações climáticas que se verificam em todo o planeta. Um outro exemplo recente, com consequências desastrosas e muitas vítimas, aconteceu na Austrália, onde inundações sem precedentes submergiram partes de cidades, como Brisbane, capital do estado de Queensland e a terceira maior cidade da Austrália.

A acção perniciosa do homem na senda do chamado progresso tem levado ao maior descontrolo ambiental, com modificações abruptas do clima e um progressivo desfasamento e até eliminação das estações do ano, segundo os padrões vigentes nos últimos séculos.

domingo, 16 de janeiro de 2011

ARGÉLIA - IMOLAÇÃO PELO FOGO

Boukhadra - Hotel de la Mine

Um desempregado argelino de 37 anos, Mohsen Bouterfif, faleceu ontem, na sequência das queimaduras provocadas pela sua imolação na passada quinta-feira, em protesto contra as suas más condições de vida, frente ao edifício da municipalidade de Boukhadra, vila mineira a leste de Tebessa, cidade argelina situada a 700 quilómetros da capital.

Bouterfif, casado e pai de um filho, regou-se com gasolina e depois largou fogo à roupa, após lhe ter sido recusado um emprego pelo maire da vila, que entretanto foi substituído pelo governador da província. A morte deste homem provocou já a manifestação de centenas de jovens da localidade, que se juntaram aos muitos argelinos que desde há semanas protestam em todo o país contra o desemprego e o aumento de preço dos produtos alimentares, e cujos confrontos com as forças policiais provocaram já alguns mortos e centenas de feridos. O governo reagiu reduzindo os preços do açúcar e do óleo.

A vila de Boukhadra situa-se próximo da fronteira com a Tunísia, onde um problema idêntico desencadeou uma revolução que derrubou o regime.

sábado, 15 de janeiro de 2011

TUNÍSIA - O FIM DE UM TEMPO



 (No coração do centro de Tunis: cruzamento da avenida Habib Bourguiba com as avenidas de Paris e de Carthage)


A Tunísia, e em especial a cidade de Tunis, vive uma situação caótica. A fuga precipitada do presidente Ben Ali, cujo destino inicial era a França, que lhe negou asilo com receio dos protestos da imensa comunidade tunisina existente no país, ainda não serenou os ânimos. Ben Ali acabou por aterrar em Jeddah, na Arábia Saudita, onde se encontra com a família.

Entretanto prosseguem os actos de vandalismo na capital, com a destruição de importantes infraestruturas, como a estação ferroviária. Foram especialmente saqueados os estabelecimentos ligados à família presidencial, mais propriamente à família da segunda mulher do presidente, uma ex-cabeleireira, Leïla Trabelsi, cujos numerosos irmãos se apoderaram da economia da Tunísia. Esta ex-primeira dama, odiada pelos tunisinos, e a sua família, são os principais responsáveis pelo agravamento do descontentamento popular, potenciado pelo aumento dos bens essenciais, pelo desemprego e pela corrupção, uma das especialidades da família Trabelsi. Há mesmo quem afirme que Leïla Trabelsi Ben Ali se preparava para se candidatar em 2014 à sucessão do marido, como tem acontecido noutros países.

O primeiro-ministro Mohamed Ghannouchi, que ontem assumira interinamente a presidência da República, por "ausência" do chefe do Estado, foi hoje substituído, ainda nos termos constitucionais, pelo presidente do Parlamento, Fouad Mebazaa, por se considerar definitiva a vacatura da presidência. Mebazaa encarregou o demissionário Mohamed Ghannouchi de constituir um novo governo de unidade nacional.

Sidi Bou Saïd


Qualquer que seja a evolução dos acontecimentos nas próximas horas ou dias, e independentemente da reparação de todos os estragos verificados nesta verdadeira revolução, a revolução do Jasmim, como já é conhecida (o jasmim é uma flor típica tunisina), nada voltará a ser como dantes. Os tunisinos são um povo simpático e acolhedor e aberto aos estrangeiros, ainda que essa abertura seja muitas vezes motivada por razões de ordem material, já que a população local  considera ricos todos os visitantes ou mesmo turistas que se deslocam ao país. Esse agradável convívio tem, contudo, subjacente, uma relação de dependência, já que, meio século após a Tunísia se tornar independente, subsistiu uma mentalidade, quase generalizada, de uma certa inferioridade em relação ao estrangeiro, especialmente o ocidental, o colonizador. E é essa atitude de grande prestabilidade, e por vezes também de aldrabice, que seduz a maior parte dos europeus, pelo menos desde há duas décadas, e que enche anualmente de milhões de turistas as praias mediterrânicas do país.

Ora a mentalidade dos tunisinos evoluiu, pelo menos a de larga parte da juventude. Milhares de rapazes e raparigas com cursos universitários obtidos nos últimos anos (diga-se que o incremento do ensino superior se deve aos governos de Ben Ali) pretendem um outro tipo de relacionamento, um relacionamento em pé de igualdade, com os outros países ocidentais, ditos democráticos. Mas tem sido esse tipo de relações (de relações "dependentes", mormente das classes mais "baixas") que tem permitido à Tunísia um montante elevado de receitas decorrente da actividade turística. Tal como acontece em outros países árabes, designadamente o Egipto. Ora uma alteração radical do tipo de convívio degradará irremediavelmente o fluxo turístico, e outros. É certo que o país dispõe de recursos naturais, aliás mal distribuídos, para consumo nacional e exportação) mas uma quebra significativa no turismo será fatal para as aspirações de "reconstrução nacional" agora proclamadas.

Há que aguardar o evoluir da situação, as disposições do governo transitório, as novas eleições presidenciais (que deverão ter lugar num período de 45 a 60 dias) e as próximas eleições legislativas "livres". E o relacionamento com a Europa (a França encontra-se profundamente embaraçada com a presente situação), com o mundo árabe e com os Estados Unidos e os países emergentes.

Como amante da Tunísia, que sempre fui, desejo que este acontecimento venha a ter um final feliz. Inch'allah!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

BEN ALI ABANDONA A TUNÍSIA

O primeiro-ministro Mohamed Ghannouchi, ladeado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Fouad Mebazaa e pelo presidente da Câmara dos Conselheiros (Senado), Abdallah Kallal

Segundo notícias de última hora, o presidente Zine El Abidine Ben Ali (como se esperava e os manifestantes exigiam) abandonou a Tunísia, num avião que penetrou no espaço aéreo de Malta, ignorando-se o destino definitivo, provavelmente a França.


Nos termos constitucionais, o primeiro-ministro Mohamed Ghannouchi assumiu interinamente a presidência da República, comprometendo-se a respeitar a Constituição.


A saída de Ben Ali era a única solução para a pacificação do país, verdadeiramente em pé de guerra desde há alguns dias, aguardando-se com expectativa a evolução da situação  nas próximas horas.


Os acontecimentos na Tunísia são observados com a a maior preocupação nos países norte-africanos, onde, como escrevemos no dia 5 deste mês, se têm registado confrontos e existe um clima de elevada tensão social que poderá evoluir para uma situação idêntica à que se verifica agora naquele país do Maghreb. Também nas capitais europeias, nomeadamente em Paris (onde Sarkozy convocou o primeiro-ministro Fillon para uma reunião de emergência no Eliseu) se seguem os factos com a maior atenção.

BEN ALI ANUNCIA DEIXAR O PODER EM 2014


O presidente da Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali, prometeu ontem à noite, na sua terceira intervenção televisiva num mês, abandonar o poder em 2014, no fim do seu actual mandato. Prometeu igualmente mais liberdades para os tunisinos e uma baixa dos preços dos artigos de primeira necessidade e garantiu a revitalização do pluralismo democrático. Falando em tunisino dialectal, para ser compreendido por todos,  declarou por mais do que uma vez: "Compreendi-vos", afirmando estar "enganado" sobre a análise da crise social que agita o país desde há um mês.

Registaram-se já perto de 70 mortos, entre eles um professor francês de origem tunisina que se encontrava em férias, vítima de uma bala da polícia. Ben Ali garantiu também que deixariam de ser utilizadas balas reais. Acrescentou ainda que o inquérito ordenado aos acontecimentos seria independente e que seriam determinadas as responsabilidades de todos, embora lamentasse a instrumentalização política da contestação em curso.


Após o discurso da noite de ontem, apoiantes do presidente manifestaram-se igualmente nas ruas de Tunis, mas a situação na capital continua muito tensa, enquanto se verificam pilhagens em todo o país, especialmente nos grandes armazéns de marcas francesas, considerados associados ao poder. Há, também, a maior animosidade contra a mulher do presidente e a família desta, a quem é atribuída grande parte da corrupção existente.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O ASSASSÍNIO DE CARLOS CASTRO E OS COMENTÁRIOS DA NET

Pode ler-se aqui uma lúcida análise das reflexões que o assassínio de Carlos Castro tem suscitado nas caixas de comentários da net. Não é o homicídio que preocupa os seus autores, mas a defesa da "honra" masculina do presumível assassino, como se este não soubesse com quem andava metido. E, mais do que isso, um extravasar de homofobia, que, segundo os psicólogos e psicanalistas, é provocado pelos recalcamentos dos que não têm a coragem de fazer aquilo de que realmente gostavam.

Este país é uma tristeza. A única consolação é que os comentários das caixas não representam o pensamento geral dos portugueses. Valha-nos isso.

SEM PALAVRAS

Sempre se realizou em Cantanhede a "manifestação de homenagem" a Renato Seabra, com 100 pessoas como se lê aqui, ou 400 como se lê aqui. Mais palavras para quê?

A TUNÍSIA EM ESTADO DE SÍTIO




A agitação na Tunísia, desencadeada no passado dia 27 de Dezembro com a imolação pelo fogo de um licenciado desempregado que vendia legumes na rua, alastrou às regiões vizinhas, depois às grandes cidades e finalmente à capital, Tunis, onde foi decretado o recolher obrigatório. As universidades e escolas foram encerradas sine die e o exército foi chamado a intervir, inclusive na capital, onde tomou posições, protegendo nomeadamente os edifícios governamentais, a televisão e as embaixadas, em especial a de França (antigo palácio do Residente Geral), situada na Praça da Independência, frente à Catedral de São Vicente de Paulo. Uma parte das lojas foi encerrada, tendo algumas sido saqueadas.

O presidente Zine El Abidine Ben Ali falou à nação, substituiu o ministro do Interior, criou uma comissão para investigar a corrupção e prometeu a criação de 300.000 novos empregos em dois anos. Em Tunis e arredores há notícia de veículos incendiados, lojas pilhadas e bancos assaltados e continuam a registar-se em todo o país graves confrontos entre os manifestantes e a polícia.

A União Europeia e o Departamento de Estado norte-americano manifestaram a sua preocupação pela violência desproporcionada da repressão policial sobre os manifestantes, que terá causado já mais de 50 mortos. Entretanto, o primeiro-ministro Mohamed Ghannouchi anunciou a libertação de todas as pessoas presas em consequência dos protestos contra o aumento do custo de vida, a corrupção e o desemprego.

Os distúrbios dos últimos dias são os mais graves nos 23 anos de governo do presidente Ben Ali, cuja renúncia é igualmente pedida pelos manifestantes.

A intervenção do exército para tentar restabelecer a ordem pública, tarefa já impossível para a polícia, é uma medida perigosa para o regime, uma vez que se ignora até que ponto as forças armadas estão interessadas na manutenção da actual situação política. Existem, por isso, os maiores receios da eclosão de um golpe de Estado.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A MANIFESTAÇÃO DE DESAGRAVO


Segundo se lê neste  blogue, e em vária imprensa, está a ser preparada em Cantanhede uma manifestação de solidariedade a Renato Seabra.

Portugal é, teoricamente, um país livre, onde se encontra consagrado o direito à manifestação, quando legalmente autorizada.

E embora qualquer pessoa se presuma inocente enquanto não for oficialmente condenada, parece não restarem dúvidas de que foi Renato Seabra o assassino de Carlos Castro. Ele mesmo o terá confessado à polícia nova-iorquina.

Assim sendo, uma manifestação de desagravo a um assassino é a última coisa que esperaria ver em Portugal. Desejo sinceramente que a população de Cantanhede tenha o elementar bom senso de não se associar a uma iniciativa que desonraria a cidade e que as autoridades locais evitem a realização de um acto que só poderá ser considerado uma provocação à ordem pública.

Um homicídio é sempre um homicídio, mesmo quando em legítima defesa (o que não foi manifestamente o caso)  e ainda que o agressor seja inimputável (o que também não se prefigura). Que o povo se manifeste, pois, mas só e quando possam existir dúvidas sobre a autoria do crime. O que até à data não se verificou nem é provável que venha a verificar-se. Por isso, haja respeito e civismo.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

CARLOS CASTRO VERSUS RENATO SEABRA



A morte, por assassinato, de Carlos Castro, em Nova Iorque, surpreendeu o país. Não, naturalmente, pela morte em si mesma. A morte é a coisa mais certa que temos na vida, é aliás a única certeza. Nem mesmo o assassinato, já que tantas pessoas são assassinadas diariamente por esse mundo fora. O que verdadeiramente surpreendeu foram as circunstâncias. E enquanto essas não forem conhecidas, se alguma vez o forem cabalmente, tudo o que se disser, para além dos factos, não passa de especulações.

Por isso, atenhamo-nos aos factos.

Segundo o que a imprensa tem noticiado, Renato Seabra, agora com 21 anos, conhecera há meses Carlos Castro através do Facebook. Pedira para se encontrar com ele. Daí nasceu uma "amizade". O jovem passou a acompanhar Carlos Castro em viagens ao estrangeiro, a saber: Madrid, Paris, Londres, finalmente Nova Iorque. Renato é um rapaz interessante, desportista, aluno universitário, que participou num concurso televisivo (onde os concorrentes masculinos desfilam quase nus, como acontecia outrora com as raparigas, mas as regras do jogo inverteram-se) e que pretendia ser (ou já era, ignoro-o) manequim. Carlos Castro era um homossexual público e notório, na plena acepção da palavra, e um conhecido cronista social.



A primeira pergunta que se coloca é: porque pretendeu Renato entrar em contacto com Castro, conhecendo-lhe, obviamente, o curriculum?

A segunda é: porque aceitou sucessivos convites para o acompanhar, inclusive em viagens ao estrangeiro?

Não vem qualquer mal ao mundo por uma pessoa aceitar convites doutra para umas férias no estrangeiro. Mesmo atendendo á diferença de idades. Mas no caso em apreço é por demasiado evidente que se estabelecera uma "relação" entre ambos. E que ela teria funcionado. Caso contrário, Carlos Castro, após a primeira viagem, não teria certamente renovado o convite. Coloca-se, então, a questão de saber que razão teria motivado a consumação do crime, para mais  em circunstâncias particularmente aviltantes.

Parto do princípio que Renato é o autor do crime, visto já o ter confessado á polícia nova-iorquina, de acordo com o New York Post, embora não tenha sido ainda formalmente acusado, submetido a julgamento e com sentença transitada em julgado.

Segundo a comunicação social, tem a entourage de Renato Seabra sustentado por todas as formas que o jovem não é homossexual. É o que menos interessa. Sabe-se, há pelo menos cem anos, que o ser humano é naturalmente bissexual, desenvolvendo uma preferência pelo mesmo sexo ou pelo oposto devido a factores diversos, esses ainda não devidamente identificados, mas nomeadamente de carácter sócio-cultural. Preferências essas que se manifestam desde tenra idade, ainda que a maior parte das vezes recalcadas, quando se verifica uma atracção pelo mesmo sexo. De resto, a termo "homossexual" surge pela primeira vez em 1869, num escrito de Karl Maria Kertbeny. E o termo "heterossexual" surgirá depois, como contraponto do primeiro.

A tão badalada questão da procriação não entra nestas contas. É doutro foro. Os gregos antigos sempre mantiveram relações a que hoje chamaríamos homossexuais e sempre tiveram filhos. Uma coisa não obsta à outra.

Por isso, e voltando à homo ou heterossexualidade do rapaz, que para o caso não interessa, o que se afigura de meridiana clareza é que ele manteria relações com o seu anfitrião, única hipótese sustentável para justificar a sucessão de convites para o acompanhar e viajar e receber presentes e não sei o que mais, pois como não os conhecia reproduzo as informações da comunicação social..

É claro que não acredito que Renato Seabra estivesse apaixonado por Carlos Castro. Embora teoricamente possível, na prática a probabilidade desta hipótese é inferior a 1%. Apesar de considerado pelo seu círculo familiar e de amigos como "modelo", mas de virtudes, o rapaz terá pensado que a proximidade e a intimidade com o cronista lhe daria oportunidades de singrar na carreira que, pelo menos nos últimos tempos, pretendia seguir. E que, concomitantemente, essa privança lhe proporcionaria viagens (como aconteceu), lhe facilitaria o acesso a alguns bens que não estariam ao ao seu alcance, e lhe facultaria outras prebendas. Não sendo néscio, certamente não ignorava também (já que na vida tudo, ou quase, tem um preço) que deveria retribuir da forma que, nestes casos, é a adequada. Não seria, portanto, o jovem inocente que uma certa comunidade pretende agora justificar, mas alguém consciente do jogo em que entrava e que, pelos vistos, durou vários meses, a contento de ambas as partes, tanto quanto se pode inferir do percurso conhecido.

Assim sendo, nesta última viagem alguma coisa correu mal. O quê? Saber-se-á mais tarde, ou talvez nunca, já que só poderemos dispor de uma versão.

Resta uma palavra final para a nossa sociedade e para os malefícios da televisão.

A sociedade em que vivemos, nomeadamente no Ocidente, é uma sociedade que tudo consome, inclusive as próprias vidas. E que tem na televisão um dos seus instrumentos mais poderosos e mais perniciosos. Leia-se, a propósito, o livro Sur la télévision, do famoso Pierre Bourdieu. A influência da televisão, em especial nos jovens, é determinante. Aparecer na televisão, ainda que por breves instantes, é, julgam eles, a consagração definitiva, a glória. Vale tudo por uns instantes de fama que a televisão pode, ilusoriamente, proporcionar. Daí o cortejo de telenovelas, povoadas apenas por jovens, os concursos, os desfiles de moda, onde se explora (alguém explora) despudoradamente o sexo.

Esse mesmo sexo, que se exalta até à exaustão, e que depois é hipocritamente censurado pelas ligas da moralidade e dos "bons costumes", em nome da "paz das famílias" (como diria Jorge de Sena). Uma contradição nos termos. Renato Seabra terá cedido ao fascínio de uma carreira iluminada pelas luzes da ribalta televisiva, aceitou durante meses as regras do jogo mas, por razões que desconhecemos, interrompeu a partida. Da pior forma. Para ele, que destruiu a sua vida, e para Carlos Castro, cuja vida foi por ele violentamente destruída. Por mais razões que se invoquem, um crime (e neste caso, hediondo) é sempre um crime.

Há muita gente, mesmo em Portugal, que passado o fugaz momento de presença nessa "caixa que mudou o mundo" ficou com a vida destruída. Não deve a televisão acalentar falsas esperanças às pessoas, não pode utilizá-las e depois remetê-las para o lixo.

Não foi sem razão que Karl Popper, um insuspeito liberal, defendeu, nos seus últimos escritos, a necessidade de se instituir uma censura à televisão. Que venha ela!