sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

NO REINO DE UGARIT

Comprei este livro, Ougarit - La terre et le ciel (2004), logo após a minha vista a Ugarit, em 2006. Trata-se de uma recolha de textos (prosa e poesia) de vários autores, entre os quais Marguerite Yon, que dirigiu a missão de pesquisa em Ugarit entre 1978 e 1998, Salah Stétié, escritor e embaixador do Líbano em diversos países ou Myriam Antaki, escritora síria francófona e mulher de George Antaki, cônsul honorário de Portugal em Alepo. A edição é prefaciada por Yves Calvet, director das pesquisas em Ugarit desde 1999 e que tive o prazer de conhecer pessoalmente quando visitei as ruínas. Ignoro o que aconteceu às investigações arqueológicas depois do eclodir da guerra na Síria.

Folheando agora o livro, apraz-me registar meia dúzia de aspectos. 

A região foi habitada por pastores e agricultores desde o VIII milénio AC. mas os vestígios até hoje encontrados datam, no essencial, do século XIV ao século XII AC., o período de grande apogeu do Reino de Ugarit. As pesquisas em Ugarit (Ras el-Shamra na designação árabe do local) começaram em 1929, depois de um lavrador, em 1928, ter posto a descoberto, ocasionalmente, com o seu arado uma pedra antiga.

O alfabeto ugarítico, o primeiro conhecido na História, é composto de 30 caracteres. A língua ugarítica tinha utilização interna no reino, mas nas relações internacionais era praticado o acádio, língua utilizada na Assíria e em Babilónia. Era nesta língua que se processava a correspondência de Ugarit com o faraó do Egipto e com o "rei-Sol" dos hititas.

As inscrições eram gravadas em tabuinhas de argila, e nessa forma chegaram ao nosso conhecimento. Através delas sabemos muitas coisas sobre a vida quotidiana no reino e as relações internacionais, especialmente no período decorrente entre o século XIV e o século XII AC. O mais célebre rei de Ugarit terá sido Niqmad (1210-1200 AC) cujo nome é mencionado muitas vezes nas inscrições recolhidas. O reino de Ugarit começou a extinguir-se nos princípios do século XII AC, minado por crises internas e por causa das incursões dos "povos do mar", que também determinaram o fim do império hitita.

Existe no Museu Nacional de Damasco uma pequena tabuinha contendo o alfabeto de Ugarit, de que possuo uma reprodução.

Na cidade de Ugarit, a capital, existiam vários palácios, templos, monumentos, residências senhoriais e todo o tipo de construções próprias de uma grande cidade da época. A população dividia-se em dois grupos: os "homens do rei", aqueles que se encontravam ligados ao palácio e os "filhos de Ugarit", restantes habitantes da cidade, estrangeiros e escravos. Temos notícia de uma importante aristocracia e de gente ligada ao mundo dos negócios. 

Os templos principais eram dedicados ao deus Baal (Bel), o deus das tempestades e da chuva, e ao deus Dagan (Dagon), deus da agricultura. À volta de Baal, objecto de grande veneração, existia todo um panteão, à frente do qual se encontrava El, o pai dos deuses, acompanhado da sua "parceira" e irmã Anat, de Yam, deus do mar e de Kothar-Khasis, o deus engenheiro e arquiteto.

Por curiosidade reproduz-se uma imagem do deus El que, como referimos em post anterior, esteve na base do nome Israel (Isra+el), já que era o principal deus dos povos do Levante, e que mais tarde foi metamorfoseado em Yahvé.

Voltaremos oportunamente a escrever sobre Ugarit.


Sem comentários: