Li agora (era uma lacuna) Un héros de notre temps, de Mikhail Yurievitch Lermontov (1814-1841), um notável escritor russo, uma espécie de continuador de Pushkin que, como este, morreu num duelo.
O romance foi escrito entre 1837 e 1839, no Cáucaso, onde o autor esteve duas vezes exilado. O herói do livro é Grigori Alexandrovitch Petchorine, uma figura tenebrosa e subversiva, reflexo irónico de uma geração perdida.
Enfant terrible da poesia russa, Lermontov é um herdeiro virtual de Pushkin, precoce e rebelde como ele. Foi, aliás, a publicação do seu poema "A morte de um Poeta", em que acusa os servidores do poder de serem responsáveis pela morte de Pushkin, que determinou o seu primeiro exílio no Cáucaso.
Compõe-se a obra de cinco contos que podem ler-se de forma autónoma, sendo a estrutura do livro a seguinte: Primeira Parte: "Bèla" (I) - conto do viajante e história de Petchorine e Bèla; "Maxim Maximytch" (II); "Prefácio ao Diário de Petchorine" (morte de Petchorine); "Taman" (I); Segunda Parte: "A princesa Mary" (II); Um fatalista (III). Os algarismos romanos remetem para a numeração dos contos na obra, à maneira dos capítulos de um romance.
O livro foi publicado em dois volumes em Abril de 1840.
A acção passa-se na Tchechénia, na Geórgia, na Ossétia, na Abcásia. Na página 47, o autor coloca esta frase na boca do capitão Maxim Maximytch, referindo-se aos ossetos: «Um povo estúpido. Acredite-me, não sabem fazer nada, são incapazes da mínima instrução. Ao menos, os nossos cabardinos [grupo circassiano] e os nossos tchechenos podem muito bem ser uns bandidos, uns pés descalços, mas são mesmo assim obstinados, mas estes nem sequer têm gosto pelas armas: não verá qualquer deles com um punhal decente. Eles são realmente ossetos!».
"Taman" decorre na localidade de Taman, no Cáucaso, em frente à Península da Crimeia, no estreito de Kerch. `É hoje bem conhecida porque é de Taman que parte a ponte que liga a região de Krasnodar à Crimeia e que foi mandada construir e inaugurada em 2018 por Vladimir Vladimirovitch Putin.
O poeta morreu em 15 de Julho de 1841, em Piatigorsk, no Cáucaso, na sequência de um duelo fútil com o seu antigo colega de liceu Nikolaï Martinov, que o provocara, devido às constantes zombarias de Lermontov. Ainda hoje se considera que a sua morte foi um assassinato (provocado por um terceiro), ou um suicídio, uma vez que há quem afirme que Lermontov nutria uma paixão pelo antigo camarada e não podendo declarar-se, preferiu ser morto por ele.
Também na morte Lermontov imitou Pushkin, igualmente morto em duelo quatro anos antes, por Georges Dantès, filho adoptivo (e amante) do embaixador dos Países Baixos em São Petersburgo, e também por uma questão fútil, desta vez de saias. Neste caso, Pushkin desafiou Dantès para o duelo, que este até tentou evitar, já que era seu cunhado (Dantès era bissexual), mas Pushkin (sabendo dos boatos que corriam sobre uma ligação daquele com sua mulher) insistiu... e morreu.
Não cabe aqui analisar o livro de Lermontov, que mais do que uma (ou várias) história(s), procede à análise das personagens envolvidas. A sua morte precoce, aos 26 anos, não permitiu evidenciar a grande capacidade criativa, que teria reflexos na literatura russa posterior.
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