segunda-feira, 23 de maio de 2022

ALEISTER CROWLEY OUTRA VEZ

A propósito da recente evocação (não diria invocação) de Aleister Crowley em post anterior, e do encontro deste com Fernando Pessoa em Lisboa, reli Aleister Crowley de Christian Bouchet.

Trata-se de um breve ensaio sobre a vida do Mestre, sobre a sua Magia (Magick) e a sua Herança, incluindo excertos de alguns dos seus textos.

Aleister Crowley nasceu em Inglaterra em 1875 e morreu, também em Inglaterra, em 1 de Dezembro de 1947. A sua vida aventurosa, e de alguma forma escandalosa, recheou as crónicas e a vida mundana da primeira metade do século passado. Escritor, mágico, alquimista, aventureiro, grande cultor das ciências ocultas, profundamente embrenhado no esoterismo, membro de diversas ordens iniciáticas, conviveu com algumas das mais notáveis figuras do seu tempo, onde se incluem, além de Fernando Pessoa, Auguste Rodin, Somerset Maugham, Henry Miller, Pierre Benoît, Marcel Schwob, etc.

Não cabendo aqui a sua biografia, que pode ser lida neste ou em outros livros, direi apenas que pertenceu à ordem "Golden Dawn", em Londres, onde subiu quase todos os graus e de que viria a ser expulso por bissexualidade. Reintegrado por S.L. Mathers, grão-mestre da ordem e chefe supremo, provocou a fragmentação da "Golden Dawn" em fracções rivais. Houve uma luta, processo policial e judicial, e a "G.D." saiu desta prova exangue e despedaçada. 

Em 1907, Crowley criou a sua própria ordem, "Astrum Argentinum", que se situa na continuação da "Golden Dawn". Em 1911, foi recebido na "Ordo Templi Orientis" ("OTO"), sendo designado Grão-Mestre Nacional e Geral para a Grã-Bretanha e Irlanda da Mysteria Mystica Maxima, enquanto da "OTO". «Através da "OTO", Crowley é posto em contacto com as fontes da magia sexual que estuda com intensidade e põe em prática, consagrando a esta um jornal intitulado "Rex de arte regia". Nesta óptica, ele reescreve os rituais da "OTO" e a missa da Igreja Gnóstica Católica integrando neles práticas e ensinamentos com conotação fortemente sexual.» Passou a escrever "magia" com a grafia inglesa arcaica "magick", para indicar que o que propunha não era a magia como habitualmente é entendida mas, para os que sabem ler para além das letras, uma das particularidades da sua prática: o uso do sexo para fins místicos. 

Vejamos os graus da "OTO": Oº - Minerval; Iº - Iniciação (Homem ou Irmão); IIº - Consagração (Mágico); IIIº - Devoção (Mestre Mágico ou de Devoção); IVº - Perfeição ou elevação (Companheiro do Arco Real de Enoch ou Mágico Perfeito); Vº - Perfeito Iniciado (Soberano Príncipe da Rosa Cruz de Heredom); VIº - Ilustre Cavaleiro Templário da Ordem de Kadosh e dos Companheiros do Santo Graal; VIIº - Grande Comendador Inquisidor e Príncipe do Real Segredo; VIIIº - Muito Ilustre Soberano Grande Inspector Geral; IXº - Iniciado do Santuário da Gnose; Xº - Rex Summus Sanctissimus. Este grau é apenas atribuído aos Grão-Mestres das Ordens Nacionais. A pessoa da "Cabeça Externa da Ordem" domina o conjunto. Deve notar-se que existe um XIº de que nada se conhece mas sendo inverso do IXº, onde se pratica a magia heterossexual, seria um grau de magia homossexual...

Saltando um sem número de factos, acrescentarei apenas que é grande a influência de Crowley sobre a cultura moderna, especialmente no meio artístico, e principalmente nas individualidades ligadas ao rock'n roll. Os Beatles publicaram a foto de Crowley na capa do célebre disco "Sergent Pepper's Lonely Hearts Club Band", em 1967. David Bowie cantou «estou próximo da "Golden Dawn", mergulhado no mundo imaginário de Crowley», em "Quick Sand" (1971). E também foi citado por Andy Summers e Sting, dos Police. No fim dos anos sessenta, Mick Jagger e certos membros dos Rolling Stones relacionaram-se com a magia crowleyana. Saiu o álbum "His Satanic Majestic Requests" e o trecho "Simpathy for the Devil" de "Beggar's Banquet". Também Jymmy Page, dos Led Zeppelin se interessou por Crowley.

A influência de Crowley sobre uma franja da psicoterapia moderna efectuou-se por intermédio de Israël Regardie, secretário de Crowley (e talvez mais alguma coisa...) nos anos vinte e que se tornou um psicoterapeuta reichiano de renome, mas sobretudo devido a Thimothy Leary, investigador na Universidade de Harvard e que efectuou trabalhos sobre o LSD e descobriu que o seu consumo conduzia ao misticismo e ao êxtase.

Não pretendo alongar-me, ainda que o tema me seduza.

 NOTA: Na capa do disco, a fotografia de Aleister Crowley é, na fila de cima, a segunda a contar da esquerda. 

 

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