Assisti hoje, no Centro Cultural de Belém, à peça "Praça dos Heróis" ("Heldenplatz"), do célebre e controverso dramaturgo austríaco Thomas Bernhard (1931-1989), cuja estreia, no Burgtheater de Viena, em 4 de Novembro de 1988, provocou um verdadeiro tumulto. O espectáculo assinalava o centenário do famoso teatro, e também o cinquentenário da anexação da Áustria pela Alemanha (Anschluss), na sequência da qual Adolf Hitler (ele próprio natural da Áustria), proferiu nessa mesma Heldenplatz, em 15 de Março de 1938, um famoso discurso e foi entusiasticamente aclamado por muitos milhares de austríacos em verdadeiro delírio nazi.
Na peça, que já lera mas vejo pela primeira vez, o autor procede a uma implacável denúncia dos seus compatriotas, atacando de uma maneira geral os austríacos, o Burgtheater (o Teatro Municipal, aliás o verdadeiro Teatro Nacional), os governos, os políticos, os partidos, a Igreja Católica, o socialismo e o nacional-socialismo, os sindicalistas, as universidades, os jornais, a burguesia, no fundo, a profunda hipocrisia da sociedade austríaca e da sua II República.
O espectáculo, longo de três horas e sem intervalo (covid oblige), é por vezes um pouco cansativo e a dicção dos actores nem sempre é a melhor, mas quero salientar o intérprete da personagem do Doutor Robert Schuster, julgo que Paulo Pinto, já que não havendo programa nem sequer folha de sala, não conhecemos as fichas artística e técnica do espectáculo. Existe à entrada um daqueles selos de código QR que se pode descarregar para o telemóvel com a dita folha, mas como me esquecera do meu em casa, nem uma folhinha de papel me deram. Um problema a merecer a atenção do meu amigo Elisio Costa Santos Summavielle, que não é o directo responsável mas que, como presidente do CCB, convém que tenha conhecimento.
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