sexta-feira, 22 de junho de 2018

A TERRA E OS MORTOS





Foi publicado recentemente o texto do discurso de Maurice Barrès à Ligue de la Patrie française, em 10 de Março de 1899, com o título La Terre et les Morts, que evoca a palavra de ordem do escritor: "Les morts d'abord!"

Membro da Academia Francesa, Maurice Barrès (1862-1923), escritor e político, é considerado o pai do nacionalismo francês. Autor prolífico, devem-se-lhe nomeadamente três trilogias: Le culte du moi, uma exaltação do individualismo; Le Roman de l'énergie nationale e Les Bastions de l'Est. Em Les Déracinés, 1º volume do Roman de l'énergie nationale, disserta sobre as raízes, o amor à terra, a odisseia da sua Lorena natal e ataca a Alemanha imperial.

A sua trajectória ideológica evoluiu ao longo do tempo. Próximo de Charles Maurras, o fundador da Action française, mas republicano e não monárquico, colaborador de Gabriele d'Annunzio, anti-dreyfusard (contra Zola, que acusou de ser veneziano), mas penetrado por ideias socialistas, manteve-se sempre fiel às tradições, à família, ao exército, à terra e aos mortos. Depois da Primeira Guerra Mundial, mostrou-se favorável a uma reconciliação com a Alemanha. Naturalmente controverso, há que distinguir entre a obra literária e a acção política. Inspirador de várias gerações de escritores, como Henry de Montherlant, André Malraux, François Mauriac, Louis Aragon, ele foi uma referência nos meios tradicionalistas franceses, ao lado de Paul Bourget, René Bazin e Henry Bordeaux. Os protagonistas da nova escola monárquica, Jacques Bainville, Léon Daudet, Henri Massis, Jacques Maritain, Georges Bernanos, devem-lhe a inspiração.

Em 1928, foi inaugurado o monumento Barrès na colina de Sion (Moselle), que inspirou o seu romance La Colline inspirée, com a presença do presidente do Conselho, Raymond Poincaré e do marechal Lyautey.

A defesa da identidade nacional, sempre proclamada por Barrès, foi mesmo evocada em Metz, durante a campanha presidencial de 2007, pelo candidato Nicolas Sarkozy,

Quando morreu, em 4 de Dezembro de 1923, teve funerais nacionais em Notre-Dame de Paris, com a presença do presidente da República Alexandre Millerand, do presidente do Conselho, Raymond Poincaré e do marechal Foch.

O nome de Barrès foi ostracizado em França (e no mundo) nas últimas décadas, devido às suas posições ideológicas e políticas, consideradas de extrema-direita segundo a vulgata politicamente correcta. Analisando a sua vida e obra podemos constatar que tal preconceito se deve à ignorância. O seu percurso não encaixa realmente naquilo que se convencionou chamar de extrema-direita. As vidas não são lineares e o homem é sempre ele e a sua circunstância. Existe a obrigação de contextualizar antes e emitir os vereditos depois!


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