quarta-feira, 28 de maio de 2014

A CRISE NO PARTIDO SOCIALISTA




Não me surpreende a crise no Partido Socialista. Ou melhor, surpreende-me que só agora tenha ocorrido. Ao longo dos três anos de liderança de António José Seguro, o PS esteve longe de protagonizar a oposição que a política criminosa do actual Governo requeria. O discurso socialista tem-se limitado a enunciar propostas vagas com nenhum efeito na vida nacional e o partido nem mesmo apoiou o Manifesto dos 70, esse sim um documento fundamental, assinado por pessoas de todos os quadrantes políticos, e em que se pedia a reestruturação da dívida.

A pouca expressiva votação no Partido Socialista, nas eleições europeias de domingo passado, deveu-se ao facto do PS actual não ser considerado uma alternativa à governação da coligação PSD/CDS. Daí muitos potenciais eleitores socialistas terem optado por votar branco/nulo, por se abster ou por votar noutras forças, como no Partido da Terra ou mesmo no Partido Comunista.

Como secretário-geral do PS, António José Seguro tem demonstrado não ter as qualidades mínimas para a liderança do partido, e o resultado obtido nas últimas eleições demonstra amplamente que não convenceu os eleitores. Por isso, muitos saúdam a disponibilidade de António Costa para concorrer à sucessão, como, aliás, já fora previsto o ano passado.

Não sei se António Costa é a figura ideal para "reabilitar" o Partido Socialista. Confesso que a sua gestão do Município de Lisboa deixa, na minha opinião, muito a desejar. Mas presumo que não faça pior do que Seguro.

A verdadeira questão não é, fundamentalmente, de pessoas mas de políticas. Sabemos todos, ou sabem, pelo menos, as pessoas minimamente informadas, que a crise portuguesa (e europeia) não tem solução no quadro das normas institucionais vigentes. Tudo quanto se faça para mascarar a indisfarçável realidade de uma União Europeia bloqueada é pura fantasia. A demonstrá-lo, os inequívocos resultados obtidos por partidos de extrema-direita e extrema-esquerda nas recentes eleições.

Uma das razões do fracasso dos partidos socialistas europeus nas eleições europeias explica-se pela sua adesão progressiva à ideologia neoliberal que se instala na Europa. A votação no Partido Socialista Francês (graças a Hollande) foi humilhante. Já o mesmo acontecera, anteriormente, quando os partidos comunistas europeus se distanciaram do Partido Comunista da União Soviética: desapareceram. O PCP, porque resistiu, subsistiu. Pode-se criticá-lo pela sua ortodoxia, mas esta foi a sua salvação. E a sua expressão tenderá a aumentar se os outros partidos de esquerda desistirem perante o que julgam ser a irresistível ascensão da direita neoliberal, que já nem é bem uma direita, mas um conjunto de interesses meramente especulativos que se apoderou do poder político europeu.

Assim, mais do que saber se António Costa sucede ou não a António José Seguro, importa conhecer as propostas do primeiro, já que quanto ao segundo estamos conversados.


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