domingo, 15 de agosto de 2010

O ESCRITOR FANTASMA



Está em exibição nos cinemas de Lisboa, há várias semanas, o filme The Ghost Writer (O Escritor-Fantasma), de Roman Polanski. Trata-se de uma película corajosa, baseada no romance de Robert Harris The Ghost (2007), e cujo tema são as relações perigosas de um ex-primeiro-ministro britânico com a administração norte-americana e a CIA. No caso concreto, trata-se evidentemente de Tony Blair, que aparece no filme com o nome de Adam Lang e do seu envolvimento nos crimes de guerra praticados por americanos e ingleses no Médio Oriente. Consiste a tese do filme em demonstrar que Blair, cujo casamento lhe proporcionou uma carreira política "brilhante" até à chefia do governo, sendo embora um líder de plástico, como alguns lhe chamaram, foi sempre um instrumento político da mulher, desde os tempos da universidade. Cherie, que no filme aparece com o nome de Ruth, além de lhe ser infiel, é membro da CIA, de que também são agentes prestigiados professores universitários ingleses hoje a residir nos Estados Unidos, todos aliados à indústria de armamento. É esta quadrilha que desencadeia a guerra no Afeganistão e principalmente no Iraque, contra a qual - e isto agora já não é ficcção mas verdade - a maioria do povo britânico se opôs e cuja vontade Blair, sempre ao serviço da América, ignorou. As democracias têm muitas vezes problemas desta natureza. A denúncia dos crimes de guerra de Blair é feita por um seu antigo ex-ministro, na película Richard Rycart, mas que pretende incarnar Robin Cook, o ministro dos Estrangeiros de Blair que se demitiu por causa da invasão do Iraque e que morreu subitamente pouco tempo depois. O Tribunal Internacional da Haia inicia um processo contra Blair que acaba por ser assassinado quando o seu avião particular aterra no aeroporto perto da villa secreta que agora habita nos Estados Unidos. O escritor-fantasma é um nègre, como lhe chamam os franceses, encarregado de prosseguir a redacção das memórias de Blair, em substituição do primeiro "fantasma" que foi assassinado. Este segundo escritor-fantasma será também assassinado no fim do filme, porque descobre a trama sanguinária, o que evidencia que os detentores do poder financeiro norte-americano não se importam de matar qualquer pessoa ou de destruir qualquer país desde que tal seja necessário aos seus interesses.

Este filme, para além de uma notável realização (é do melhor Polanski), tem o mérito de denunciar o que grande parte das pessoas já sabe. Os interesses financeiros norte-americanos (neste caso as indústrias de armamento) não olham a meios para atingir os seus fins. E de mostrar também que George W. Bush e Tony Blair são, até ao momento, os dois grandes criminosos de guerra do século XXI.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bush e Blair foram um susto para a humanidade. Agora que já não estão nos seus cargos, podem ainda continuar a ameaçar-nos através dos seus interesses privados. CUIDADO COM ELES.

Anónimo disse...

Trata-se de um bom filme,não do nivel do "Pianista",do "Rosemary's Baby",do "Chinatown",entre os que vi do autor,mas de um filme bem construido,apesar de algumas incongruências. O final parece-me algo absurdo,pois só uma incompreensivel ingenuidade poderia fazer o heroi revelar o segredo a quem certamente o desejaria eliminar,em vez de o conservar para futura difusão.Tambem só alguem de total ignorância da vida política internacional ignoraria a colaboração anglo-americana na luta contra o terrorismo internacional,que poderia assumir alguns aspectos menos "ortodoxos" e discutiveis,mas que o eram menos para quem sofrera ataques "sujos" como o das Torres Gémeas ou do metro de Londres,com milhares de mortos inocentes. Duvido aliás que,para alem dos romances de cavalaria,a guerra,todas as guerras,não tenham sempre tido o seu lado "sujo". Passemos. É assim difícil de compreender a surpresa do Ghost. Finalizo, só achando curiosa a tonitruante indignação do autor do blogue quanto a qualquer iniciativa anglo-americana,em contraste com a suavidade com que trata autênticos responsáveis pela destruição de civilizações e etnias,como foi o caso de um longo post recente sobre uma criatura cujo nome prefiro nem mencionar.