segunda-feira, 30 de agosto de 2010

SOB O SOL DE SATANÁS


Não, não me refiro ao livro de Georges Bernanos Sous le Soleil de Satan, nem ao filme (sobre o tema do livro) realizado por Maurice Pialat, com interpretação de Gérard Depardieu.

Mais prosaicamente, aludo ao sol impiedoso e ao calor sufocante que desde há semanas abrasa Lisboa e a maior parte de Portugal. Com temperaturas que excedem largamente a média que se verifica normalmente nesta época, e para além dos sucessivos incêndios naturais ou provocados, está o país transformado num verdadeiro inferno (também não me refiro ao político, económico ou social) térmico.

Culpa de Satanás? Não sei, nem sei se ele existe!

domingo, 29 de agosto de 2010

UM ASSUNTO DE FAMÍLIA

Publicado ontem em "Le Figaro"

Banier, le dandy photographe

François-Marie Banier pose devant l'un des portraits de Samuel Beckett, le 20 novembre 2009.
François-Marie Banier pose devant l'un des portraits de Samuel Beckett, le 20 novembre 2009. Crédits photo : ASSOCIATED PRESS


Après une enfance bourgeoise, l'homme, rebelle et charmeur, a su se faire une place auprès des gens les plus en vue du monde de l'art et du spectacle. Parmi eux : Aragon, Dali, Beckett et plusieurs grands mécènes. Portrait.


«Il a la voix de Cocteau, l'allure de Rimbaud et la chevelure de Saint-Saëns», disait de lui la mécène Marie-Laure de Noailles. François-Marie Banier, 63 ans, jugé pour abus de faiblesse sur la milliardaire Liliane Bettencourt, est un artiste touche à tout et une figure du Tout-Paris. Né en 1947 d'une mère franco-italienne et d'un père hongrois publicitaire, «FMB» - comme l'ont surnommé certains médias - a quitté tôt l'école et le domicile familial, situé dans le XVIe arrondissement de Paris, pour tenter sa chance auprès de l'intelligentsia de la capitale.


Adolescent frondeur, il a 15 ans lorsqu'il rencontre le peintre Salvador Dali, à qui il présente plusieurs de ses dessins. Au culot, le garçon est allé frapper à la porte de sa suite à l'hôtel Meurice. «Jeune homme, votre trait est trop épais, comme l'est peut-être aussi votre queue», lui aurait alors dit l'artiste. Les deux hommes se lient rapidement d'amitié. Quelques années plus tard, alors qu'il est le secrétaire particulier du couturier Cardin, François-Marie Banier fait également la connaissance d'Aragon. Rapidement, il intègre la bande du poète et adopte le rythme de vie qui va avec. L'argent coule à flots, les conquêtes sont belles et la vie s'offre à lui.

«Je suis grand et beau et je m'aime moi-même»
Banier au moment de la sortie de son premier roman, en 1969.
Banier au moment de la sortie de son premier roman, en 1969.

A 22 ans à peine, paraît son premier roman, «Les Résidences secondaires», publié chez Grasset. «C'est l'être le plus fou, le plus généreux, le plus drôle que l'on puisse rencontrer», écrit alors Aragon dans un article des «Lettres françaises». A 25 ans, le jeune séducteur publie son deuxième roman, «Le Passé composé». Les critiques sont dithyrambiques et osent un parallèle avec Cocteau. Aragon va même jusqu'à prédire qu'il sera un jour «le peintre le plus cruel et le plus gai du temps qui sera le sien». «Je suis grand et beau et je m'aime moi-même» clame alors le jeune premier à qui veut l'entendre.

Les années passent, et le cercle des connaissances de François-Marie Banier s'élargit. Séduisant et provocateur, François-Marie Banier joue volontiers de son physique d'éphèbe et de son bagout pour s'introduire en plus haut lieu. Plusieurs mécènes le prennent alors sous leur aile, dont Marie-Laure de Noailles, Pierre Cardin et Pierre Bergé. A partir des années 1970, le peintre-écrivain se met à la photographie. D'abord en tâtonnant, puis avec boulimie. Accédant au statut de «photographe des stars», il immortalise tour à tour Samuel Beckett, Isabelle Adjani, Sophie Marceau, Caroline de Monaco, François Mitterrand, Ray Charles ou encore Johnny Depp.

Pour autant, l'artiste - qui a exposé à Rome, Tokyo, Rio de Janeiro, Buenos Aires et Los Angeles - refuse aujourd'hui l'étiquette d'artiste mondain, lui préférant celle de «mondial». Et assure s'être détaché depuis plusieurs années de la jet-set parisienne. Actuellement, l'homme vit confortablement dans un hôtel particulier du VIe arrondissement de Paris avec son compagnon. Mais certaines amitiés ont toutefois perduré : notamment celle avec Liliane Bettencourt, rencontrée en 1969 avec son mari André au cours d'un dîner chez le journaliste Pierre Lazareff.

Il se défend d'être un courtisan

Selon le photographe et la milliardaire, cette complicité au long cours s'assoit sur une convergence de tempéraments. D'après la fille de la riche héritière, Françoise Bettencourt-Meyers, des intérêts financiers sont également en jeu. Contrats d'assurance-vie, chèques, tableaux de maîtres... Le photographe, selon elle, se serait ainsi fait remettre près d'un milliard d'euros de dons, dans les années 1990 et 2000, en profitant de la fragilité psychologique de l'octogénaire.

Une thèse fermement démentie par l'intéressé, qui assure que ces cadeaux lui ont été consentis par une «femme brillante et libre». «Je ne suis pas un courtisan», assurait-il dans une interview au Monde, le 9 décembre 2009. «Tout ce qu'elle m'a donné n'est rien par rapport à ce qu'elle m'a appris. Rien à côté du trésor d'optimisme, d'espérance et d'élégance dont j'ai bénéficié». Avant de conclure: «On verra qui était sous l'emprise de l'autre, elle ou moi !»

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A ECONOMIA DA METONÍMIA


Um livro de Panagiotis Roilos, professor de Estudos Gregos Modernos e de Literatura Comparada na Universidade de Harvard, que, debruçando-se sobre a obra de Cavafy, navega territórios novos na teoria crítica e propõe um estudo interdisciplinar da construção do desejo (homo)erótico na poesia em termos de discurso metonímico e modalidades libidinais anti-económicas.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

LAGOA HENRIQUES (EVOCAÇÃO ESTIVAL)


Desenho do Mestre no antigo Restaurante Estrela do Bom Sucesso, em 8 de Julho de 1989.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

FAUNO BARBERINI


O Fauno Barberini é a mais notável peça de escultura exposta na Glyptothek de Munique. Trata-se de um sátiro adormecido, esculpido em mármore de Pérgamo cerca de 220 AC e que terá pertencido a um santuário grego dedicado a Diónisos. Foi transportado da Grécia para Roma nos tempos do Império e viria a ser descoberto no séc. XVII, em escavações realizadas no Castel Sant'Angelo de Roma. Restaurada a obra por Bernini, foi depois levada para o Palazzo Barberini (donde a sua designação), e encontra-se hoje em Munique.

Goethe tinha a maior admiração por esta escultura, que considerava uma das mais belas obras da arte grega.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

OS CRISTÃOS DO ORIENTE

Catedral Copta de Alexandria

Tarefa difícil a de escrever sobre os Cristãos do Oriente, mormente em poucas linhas. Começou o Oriente, entenda-se aqui que falamos do Médio Oriente, por ser pagão, como é natural. Ainda antes da Era Comum (EC), surgiram dois episódios monoteístas: um efémero, o dos egípcios, que cerca de 1350 AC, por iniciativa de Amenófis IV, passaram a adorar Aton (o disco solar), em substituição do tradicional deus Amon; e outro que perdura até hoje, o dos judeus, que por iniciativa de Abraão e de Moisés (este cerca de 1300 AC) passaram a adorar um deus único. É conhecido o resto da história. Jesus Cristo, que terá nascido no ano 7 AC (o estabelecimento da EC sofreu percalços de cálculo aquando da fixação das datas que substituíram o calendário romano) fundou uma nova religião, o cristianismo, ainda que muitos sustentem que nunca se tendo referido o judeu Jesus a uma nova religião, o verdadeiro criador da nova religião teria sido São Paulo, que consumou a separação entre os antigos judeus e os judeus convertidos à nova doutrina. Não imaginava Paulo (que antes se chamara Saulo) as tragédias que essa cisão viria a provocar ao longo de vinte séculos. No século VII EC, Maomé (Muhammad) proclama outra religião de crença num deus único: o islamismo, largamente baseada no judaísmo e no cristianismo (já este havia integrado no seu cânone o Velho Testamento hebraico).

Papa Chenuda III, Patriarca Copta de Alexandria

O cristianismo original cindiu-se também em várias seitas, que dariam lugar à religião ortodoxa (séc. XI) - e também esta viria a dividir-se - e às outras confissões separadas. A religião ortodoxa (primeiro unida e depois dividida) foi a religião do Médio Oriente até ao advento do islão. Com a instauração do Califado, o islamismo ganhou adeptos na região e conseguiu converter quase todos os habitantes do seu território à nova fé, com excepção do Egipto, que permaneceu - e ainda permanece - com larga percentagem de cristãos (hoje à volta de 15%), os coptas. Os coptas são ortodoxos, mas ortodoxos separados da Sé de Constantinopla, são verdadeiramente os "cristãos egípcios", já que copta  (gupto) quer dizer egípcio em linguagem copta. Esta linguagem constitui a evolução final do antigo egípcio que, passada a fase do hieroglífico e do hierático, desembocou no demótico, ou seja numa língua e numa escrita usadas pelo povo. O copta é a língua demótica a que se acrescentaram algumas letras e palavras gregas e latinas.

Catedral Maronita de Beirute

Voltemos por instantes ao Primeiro Concílio Ecuménico (do cristianismo), realizado em Niceia em 325. Aí é estabelecido, entre outras coisas, que a Igreja teria cinco cabeças principais (a Pentarquia), que seriam os bispos de Jerusalém, Alexandria, Antioquia, Roma e Constantinopla, com o título de Patriarcas. O bispo de Roma, por causa de São Pedro seria considerado primus ou, como outros sustentam, primus inter pares. A questão das precedências, mais ainda do que a doutrina, viria a revelar-se causa de sucessivos afrontamentos e discórdias. Em breve Constantinopla reclamou a primazia sobre Roma. Constantino havia transferido a sua residência e o Senado de Roma para Constantinopla em 330.  E em 395 consumar-se-ia a divisão do Império Romano em duas partes: do Ocidente, com a capital em Roma; e do Oriente (ou Bizantino), com a capital em Constantinopla. Assim, no século XI, Constantinopla, ciosa da sua posição,  assumiria autonomia em relação a Roma.

Cardeal Pierre Nasrallah Sfeir, Patriarca Maronita do Líbano

Mas também dentro da Igreja Ortodoxa se verificariam divisões ao longo do tempo. As querelas teológicas ou protocolares no seio da Igreja de Cristo não teriam limites. É por isso que há hoje, por exemplo, três patriarcas em Alexandria: o patriarca copta ortodoxo (que também usa o título de papa) que é o chefe da Igreja Cristã Egípcia, o patriarca grego ortodoxo (em comunhão com Constantinopla) e o patriarca latino (em comunhão com Roma). Os dois últimos com reduzido número de fiéis.

Cardeal Mar Emmanuel III Delly, Patriarca de Babilónia dos Caldeus

Quanto aos Protestantes, que vieram mais tarde (séc. XVI), é melhor não falar.

Mar Giwargis Sliwa, Arcebispo Assírio de Bagdad

Feita esta sumaríssima introdução, passemos à matéria que hoje nos interessa. Difundido o islamismo no Médio Oriente, passaram os cristãos que não se converteram à nova religião à condição de dhimmys, isto é, gente que se sujeitava a um contrato com os muçulmanos, que lhes permitia viver em terras do Islão e sob a protecção deste e a exercer certas actividades, mediante um determinado pagamento; ficavam assim como cidadãos de segunda. Este contrato abrangia os Povos do Livro (Cristãos e Judeus) embora mais tarde fosse alargado aos crentes de outras religiões. Porque é matéria do maior interesse, recomenda-se, sobre esta temática, o livro La Condition des "Dhimmys" ou les Non-Musulmans dans la Civilisation Musulmane , de Hassen El-Memmi (Beyrouth, Dar Al-Gharb Al-Islami, 2000).

Patriarcado Latino de Jerusalém - Igreja do Santo Sepulcro


Continuou, assim, a haver cristãos no Egipto, na Palestina, na Síria, no Líbano, no Iraque, na Turquia, no Irão. À excepção do Egipto, onde constituirão hoje cerca de 15% da população (os coptas são mais de dez milhões) e do Líbano, com cerca de 35% da população (os maronitas, em comunhão com Roma)  são francamente minoritários nos outros países, e divididos pelas antigas confissões secessionistas. Mencionaremos os melquitas (em comunhão uns com Roma, outros com Constantinopla), na Síria; os assírios (herdeiros dos nestorianos e autónomos), no Iraque; os caldeus (em comunhão com Roma), também no Iraque; os siríacos católicos e os siríacos ortodoxos (herdeiros dos jacobitas), na Síria, no Líbano e no Iraque; os arménios, na Síria, no Iraque, na Turquia e no Irão; católicos latinos e cristãos ortodoxos (ligados a Constantinopla), um pouco por todos os países; e todas as confissões ou quase, na Palestina. Esta lista não é exaustiva, mas ficarei por aqui.

Fuad Twal, Patriarca Latino de Jerusalém

Tudo isto a propósito das perseguições aos Cristãos do Oriente.

Convento de São Sérgio e São Baco - Maalula


No Egipto, a convivência entre muçulmanos e cristãos tem sido pacífica em geral, embora se tenham registado alguns incidentes nos últimos anos, nomeadamente em 1984, 2006 e 2007. A Constituição egípcia estipula que os princípios da sharî'a são a fonte principal da legislação e os não muçulmanos estão excluídos de muitas funções oficiais, nomeadamente dos mais altos cargos da governação, das forças armadas e do ensino universitário.

Igreja de Santa Tecla - Maalula


No Iraque havia liberdade religiosa e de culto no tempo de Saddam Hussein, mas a invasão anglo-americana de 2003 destruiu o frágil equilíbrio convivencial entre as várias facções cristãs, os muçulmanos sunitas e xiitas e os muçulmanos curdos. Apesar das tropas invasoras terem começado a retirar, não se vislumbra o restabelecimento de uma pacificação, antes o regresso à divisão administrativa do país vigente no tempo do Império Otomano, isto é, os vilâyet de Baghdad, Basra (Bassorá) e Mosul. Os cristãos têm sido frequentemente atacados por milícias a soldo de inconfessáveis interesses (como se dizia antigamente) e a maioria abandonou já o Iraque, onde até um bispo foi assassinado.

Gregório III Laham, Patriarca Greco-Melquita de Antioquia e de Todo o Oriente

Na Síria e no Líbano, existe grande liberdade religiosa e de culto. Estão representadas 17 confissões e em Maalula, perto de Damasco, existe o convento de São Sérgio e São Baco, o mosteiro de Santa Tecla, e fala-se o aramaico, a língua do tempo de Cristo. Além de mesquitas sunitas e xiitas, há igrejas católicas latinas, gregas-ortodoxas, maronitas e melkitas, arménias, protestantes, etc.

Patriarcado de Constantinopla


Na Palestina, convivem todas as confissões religiosas, mas devido à situação de divisão do território, parte do qual está ocupado pelo Estado de Israel, o acesso ao culto é difícil e perigoso.

Sua Santidade Bartolomeu I, Patriarca Ecuménico de Constantinopla

Na Turquia, que é um estado laico, todas as religiões são permitidas, embora a islâmica, a que pertence a maioria esmagadora da população, esteja representada por inumeráveis mesquitas.

Bab Kisan, nas muralhas da cidade velha de Damasco, a Capela de S. Paulo, donde o apóstolo fugiu

As perturbações políticas e as aventuras militares das últimas décadas levaram ao êxodo de milhares de cristãos para o Ocidente. Em declarações ao jornal "An-Nahar", de Beirute, de 29 de Janeiro de 2002, afirmou o príncipe Talal Ibn Abdel Aziz, da Arábia Saudita: «No decurso dos séculos XIX e XX, os cristãos árabes foram particularmente activos no renascimento do arabismo dando-lhe uma dimensão civilizacional e abrindo-o às outras civilizações que se desenvolveram no período do declínio árabe. Insuflaram assim a modernidade no arabismo. Os árabes cristãos, dada a sua pluralidade cultural, foram, e continuam a ser, um desafio permanente à cultura e ao pensamento. A sua partida do mundo árabe desferiu um rude golpe a essa diversidade.»

Sua Beatitude Inácio IV, Patriarca Grego-Ortodoxo de Antioquia, residente em Damasco


É um facto que os cristãos, suspeitos ontem de ocidentalismo, se tornaram hoje as vítimas exemplares. No prolongamento de uma velha política de protecção dos cristãos pelas nações europeias, insistia-se demasiado quer sobre os seus contributos decisivos para a civilização árabo-islâmica, quer sobre as perseguições que haviam sofrido ao longo dos séculos. Em ambos os casos o islão ficava diminuído. Com o fracasso do projecto de sociedade de progresso que as elites árabes, todas as confissões confundidas, defendiam logo após as independências, ficou o campo livre para as paixões religiosas, étnicas e clânicas. Os laços comunitários e as identidades confessionais tornaram-se assim os últimos recursos do indivíduo face a uma máquina estatal muitas vezes açambarcada por clãs e redes. Terá sido a adesão total e sincera dos cristãos à ideia de uma Nação árabe, pura e eterna, que os convenceu a dissolverem-se no corpo social. Disso é prova a tentação recorrente entre os intelectuais modernistas de se converterem ao islão. O grande sonho da refundação cultural e histórica de uma nação herdeira simultaneamente do Oriente e do Ocidente, e de que os cristãos teriam sido o vector principal, estilhaçou-se frente aos desejos mal disfarçados das confissões e das tribos. E esses homens que tinham "saído" do círculo comunitário, preferiram o exílio ao regresso ao redil.  O último sobressalto igualitário, com as roupagens do universalismo socialista e marxista árabe, não durou mais do que uma estação.

Estátua da Virgem, dominando a vila de Maalula, nos arredores de Damasco


Na luta contra o domínio britânico no Egipto, muçulmanos e coptas ergueram estandartes com a cruz e com o crescente e desfilaram em procissões conjuntas. Os sheikhs pregaram nas igrejas e os padres nas mesquitas. Naguib Mahfuz dá-nos uma perfeita visão desses tempos na sua famosa Trilogia do Cairo. Tal não seria hoje possível. Até pela "política desenvolvida pelo papa Chenuda III, patriarca copta de Alexandria, que aconselhou os coptas a votarem em Hosni Mubarak para um quinto mandato nas presidenciais de 2005, sabendo-se que o presidente é detestado pela maioria dos egípcios. Mas não há partido político copta no Egipto, ao contrário da Confraria dos Irmãos Muçulmanos, que funciona um pouco como partido, se bem que não legal. Já no Iraque, no meio do caos, partidos assírios, caldeus e siríacos apresentam-se, sabe-se lá como, às eleições, mas no país nada funciona e os cristãos do Iraque refugiaram-se na sua maior parte na Síria, na Jordânia e na Turquia.

Nerses Petrus XIX Tarmuni, Patriarca Católico Arménio da Cilícia, residente no Líbano

Tratando-se de matéria inesgotável, a dos Cristãos do Oriente, espero que este pequeno apontamento suscite a curiosidade e o interesse dos leitores para se abalançarem a mais largos voos.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

MINA NO CHILE


As equipas de salvamento chilenas conseguiram entrar em contacto com os 33 mineiros soterrados há 17 dias numa mina no norte do Chile. Fotografaram um dos homens e até receberam, através de um estreito orifício, uma mensagem escrita.

O director da empresa estatal de Minas declarou que serão necessários três a quatro meses para fazer uma perfuração e resgatar os mineiros que se encontram a 700 metros de profundidade. Não se compreende os sucessivos acidentes que se verificam em minas. Muitas vezes mortais. Há uma incúria, em todos os países, no que respeita a minas. E que dizer de quatro meses para atingir os soterrados, a quem será difícil fazer chegar alimentos e outros artigos de primeira necessidade?

O presidente do Chile, que visitou o local do acidente, revelou ter ordenado uma remodelação dos quadros da agência estatal mineira e despedido alguns dos seus responsáveis.

MIDAS E BACO


Outra das jóias da Alte Pinakothek de Munique é o quadro de Nicolas Poussin (1594-1665), Midas e Baco (1627), inspirado nas Metamorfoses, de Ovídio. Esta obra denota um certo parentesco com As Bacanais, do Tiziano, que se encontra no Museu do Prado. Acrescente-se que as colecções que hoje integram aquele museu da capital da Baviera, aquele e outros, foram iniciadas há séculos mas sofreram um particular incremento no tempo do rei Ludwig I [1786(1825-1848)1868], um apaixonado pela arte e profundo conhecedor de pintura e escultura.

domingo, 22 de agosto de 2010

A BATALHA DE ALEXANDRE


Uma das jóias da Alte Pinakothek de Munique é este quadro de Albrecht Altdorfer [1480(?)-1538], A Batalha de Alexandre (1529), que retrata a vitória de Alexandre o Grande sobre o rei dos Persas Dario III. Apoiando-se em vasta e detalhada documentação topográfica, o artista consegue obter uma visão cósmica impressionante. O quadro faz parte da série das histórias dos altos feitos da Antiguidade, encomendada por Wilhelm IV da Baviera para uma sala da Residenz em Munique.

sábado, 21 de agosto de 2010

JOÃO VILLARET



Foram recentemente editados em CD (e há também um CD+DVD) os recitais de João Villaret (1913-1961) no Teatro São Luiz, e também outras suas dicções poéticas, em estúdio ou em palco. Além de ser um actor extraordinário, João Villaret foi um diseur ímpar, cujas interpretações poéticas marcaram gerações de portugueses. Deu também a conhecer ao "grande público" alguns dos mais notáveis poemas portugueses e os seus respectivos autores, o que naturalmente estimulou o gosto pela poesia. 

Infelizmente, devido a uma estúpida doença (todas as doenças são estúpidas) morreu cedo. Tive o privilégio de assistir à estreia da última peça que representou, Patate, de Marcel Achard, no "falecido" Teatro Avenida, na Avenida da Liberdade (para quem já não se recorde), em 1959. Um inesquecível momento de teatro, apesar de na altura já se encontrar doente. 

Homem de bom gosto, Villaret tinha o condão de imprimir uma marca muito pessoal em tudo o que fazia. Alguns discordam das suas interpretações poéticas. Claro que existem outras maneiras de dizer poesia. Mas a de Villaret era inconfundível, e é a preferível para mim.

Comprem-se os CD's e DVD e oiçam-se e veja-se. Ainda os não adquiri, mas conservo religiosamente em minha casa as gravações em LP.

Eram outros tempos. Havia gente viva.

UMA TEIA (DE ARANHA)



A grande produção de Otello na Staatsoper Berlin, em 2001, com a Staatskapelle Berlin dirigida por Daniel Barenboim e encenação de Jürgen Flimm. No vídeo, Christian Franz, em Otello, Valeri Alexejev, em Jago e Stephan Rügamer, em Cassio.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

OBAMA E OS AMERICANOS


Acentua-se o ódio da direita americana a Barack Obama. O Partido Republicano, com Sarah Palin à cabeça, considera Obama "elitista", "maoista" e mesmo "nazi". Apelidam-no de "racista" e de "muçulmano". Acusam-no de "não ser americano". Em Mason City aparecem cartazes com Hitler, Obama (o democrata-socialista) e Lenine. A cadeia de televisão Fox News, animada por Glenn Beck, uma personagem sinistra, lança as mais torpes invectivas sobre o presidente. O pastor protestante Steven Anderson exclamou no fim de um sermão: "Quando me for deitar, esta noite, rezarei para que Barack Obama morra e que vá para o inferno. " Lutero ou Calvino não diriam melhor! 

Os cartazes "Impeach Obama" estão por toda a parte e circula online, recolhendo assinaturas, uma petição dirigida ao Congresso a pedir o "impeachment". É sabido que, à excepção de uma pequena minoria, o povo americano é dos mais estúpidos e ignorantes do mundo. Por isso, esta campanha contra o presidente democraticamente eleito encontra apoio e compreensão em milhões de americanos, com excepção dos negros, por razões óbvias. Receia-se mesmo seriamente um atentado contra Obama.

Têm os americanos apenas dois séculos de controversa e acidentada história, em que progressivamente se envolveram em todos os assuntos do mundo, sempre com resultados catastróficos para os outros. Herdaram dos ingleses, seus antepassados, o muito que havia de mau, e não absorveram o pouco que havia de bom. Uma tragédia planetária, a partir do momento em que entenderam que lhes cabia o lugar de super-potência mundial.

Quando se fala da direita americana e do Partido Republicano, estamos de facto a referir-nos à extrema-direita, já que de direita (em termos europeus) é também o Partido Democrata. E ambos são culpados de imensos crimes contra a humanidade como, para citar só um, o lançamento das bombas atómicas em Hiroxima e Nagasáqui. Mas poderíamos recordar também, mais recentemente, as guerras loucas do Afeganistão e do Iraque, depois da tragédia do Vietname.

Num país que confunde Deus com o dinheiro, veja-se a divisa da nota de um dólar "In God We Trust", ou talvez "In Gold We Trust", e percebe-se melhor a génese dos Estados Unidos. A aprovação dos cuidados de saúde para toda da população contribuiu para o aumento do ódio do grande capital contra Obama. Ele é "um presidente diferente, o primeiro presidente pós-americano", como disse John Bolton, a besta do ex-embaixador de George W. Bush na ONU. De facto, o conservadorismo norte-americano, que se inquieta com o aumento proporcional da população negra ou latino-americana, em detrimento dos WASP, os brancos, anglo-saxões e protestantes, não hesitará em utilizar todas as armas contra Barack Obama.

Supôs-se que, depois do pesadelo Bush, os americanos, ao elegerem Obama, tivessem aprendido alguma coisa. Mas esta campanha faz recear o pior. Assusta-se a chamada comunidade internacional com o facto do Irão vir a possuir a bomba nuclear. O verdadeiro perigo reside na circunstância de os Estados Unidos, que já a utilizaram (foram os únicos), serem os proprietários do maior arsenal nuclear do mundo.


Sobre esta matéria, simultaneamente estimulante e perigosa, leia-se Over the Cliff: How Obama's Election Drove the American Right Insane, de John Amato e David Neiwert (PoliPointPress, 2010). E aguarde-se a publicação, para o princípio de 2011, de The Obama Haters: Behind the Right-Wing Campaign of Lies, Innuendo & Racism, de John Wright (Potomac Books).

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

MINA


Este post tem um destinatário particular.

Trata-se do retrato de Mina Gedon, jovem esposa do arquitecto de Munique, Lorenz Gedon, que posou para o pintor Wilhelm Leibl (Colónia 1844-1900 Würzburg) quando se encontrava grávida. Leibl obteve grande sucesso com os seus retratos nas exposições de Munique e de Paris em 1869 e 1870. Este quadro suscitou o entusiasmo de numerosos artistas, entre os quais Gustave Corbet.

A tela (119,5 x 95,7), executada em 1868/9, encontra-se exposta na Neue Pinakothek de Munique.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

QUE DESPERDÍCIO


Publicado no "Correio da Manhã" de hoje:

Sai de discoteca e acaba abusado

Jovem de 18 anos enfiado num carro à saída da Number One e levado por três homens para uma casa. Teve de fazer sexo oral a um deles sob ameaça.

'Rui’, jovem de 18 anos, diz ter sido sequestrado por três homens, na madrugada de anteontem, quando saía da discoteca Number One, na rua do Salgueiral, no centro do Porto. Transportado à força para a casa de um dos sequestradores, no bairro do Lagarteiro, na mesma cidade, terá sido obrigado por um dos três homens a fazer-lhe sexo oral, enquanto os outros dois observavam e se masturbavam. A GNR da Areosa tomou conta da ocorrência, mas o caso foi entregue à Polícia Judiciária, que já ouviu o jovem e investiga as circunstâncias do crime.

Tudo terá acontecido por volta das 05h00, quando ‘Rui’ abandonou o espaço de diversão nocturna, depois de uma noite de convívio com amigos. Já no exterior da discoteca o jovem terá sido abordado por três homens, descritos como tendo idades entre os 20 e os 22 anos, que, após uma troca de palavras, o colocaram à força dentro de um carro. E durante a viagem, que durou cerca de 15 minutos, segundo a vítima, ‘Rui’ terá ido deitado no colo dos sequestradores, sem se conseguir movimentar.

Quando o carro chegou ao bairro do Lagarteiro, na zona da Campanhã, a vítima foi levada em braços por dois dos homens – a residência seria mesmo de um dos sequestradores. Preso numa das divisões da casa, foi obrigado por um dos sequestradores, sempre sob ameaça de coacção física, a fazer-lhe sexo oral até à ejaculação. Enquanto isso, os outros dois jovens masturbavam-se ao observar a cena, ponderando passarem ao sexo anal.

Após satisfazer os três homens, que entretanto terão adormecido, ‘Rui’ conseguiu escapar daquele local e fugir para o bairro do Cerco, ali próximo, onde terá pedido auxílio. Mas sem êxito. Chegou a casa dos pais, na Areosa, em pranto.

O caso foi denunciado à GNR da Areosa e o jovem de 18 anos foi posteriormente transportado para o Hospital de S. João, no Porto, onde lhe foram realizados alguns exames médico- periciais de forma a recolher vestígios do acto sexual.  

NÃO DÁ PARA ENTENDER

A CULTURA GLOBAL


Foi publicado há três meses em França um livro do investigador e jornalista francês Frédéric Martel, com o título MAINSTREAM: Enquête sur cette culture qui plaît a tout le monde. Trata-se de uma obra de grande importância e que deve ser lida com urgência por todos quantos se interessam por globalização cultural no sentido político mais amplo. E a ela se refere o director do "Magazine Littéraire", Joseph Macé-Scaron, no editorial do último número da revista (Nº 499 -Julho/Agosto 2010). Neste livro, Martel descreve a guerra feroz travada pelas grandes potências no terreno da cultura. De Hollywood a Bollywood, do Japão à África sub-sahariana, do quartel-general de Al-Jazira no Qatar à sede do gigante Televisa no México, o autor disseca, em jeito de reportagem, a estratégia e o poder financeiro dos diferentes actores - ou o que fazer para agradar a toda a gente em todo o mundo.

De particular interesse o capítulo dedicado à Al-Jazira, que se tornou a cadeia mainstream do mundo árabe. Tudo começou num sábado, em Julho de 1997, às 16 horas. Estavam as famílias sauditas assistindo a um programa para crianças no Canal France International (CFI), cuja retransmissão era assegurada pelo satélite Arab Sat, lançado em 1985 por 21 países árabes, e cujo sinal principal é emitido a partir de Riyadh, na Arábia Saudita. Subitamente, por um erro de manipulação das retransmissões satélites pela Télédiffusion de France, apareceu no ar em substituição do CFI a cadeia  pagável Canal+. O incidente não teria tido consequências se nesse momento o programa do Canal+ não fosse um filme pornográfico intitulado Club privé au Portugal.

A difusão do "porno" durou cerca de trinta minutos, até que os técnicos se dessem conta do engano. Segundo os dados da época, o filme terá sido visto em vinte países árabes com um público potencial de 33 milhões de pessoas. Foi o escândalo e a indignação. Os representantes do CFI na Arábia Saudita tentaram suspender o programa imediatamente mas ninguém os atendeu.

A versão oficial de Paris é diferente: este incidente, ainda que real, foi um pretexto para afastar os franceses do satélite Arab Sat. Até porque existem na Arábia Saudita filmes pornográficos por assinatura. É claro que são codificados mas muitos os descodificam ilegalmente. Encenação ou pretexto, o facto é que o caso do filme porno do Canal+ determinou a saída do CFI do Arab Sat, apesar das pressões diplomáticas da França. 

O canal assim libertado foi atribuído a uma jovem cadeia que desde há muito tempo procurava  aumentar a sua audiência nos países árabes, através da difusão pelo Arab Sat e que aspirava a tornar-se mainstream: Al-Jazira.

Voltaremos a falar de Al-Jazira num dos próximos posts.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

GHAZI AL-GOSAIBI


Morreu e foi sepultado no passado domingo em Riyadh o escritor e poeta saudita Ghazi Abdul-Rahman Al-Gosaibi, que exerceu também funções políticas e diplomáticas, como ministro da Indústria e Electricidade, da Saúde e (actualmente) do Trabalho e embaixador em vários países, entre os quais o Reino Unido. 

Nascido em Al-Ihsa', a leste do país, em 1940, foi inicialmente educado no Bahrain. Fez depois um bacharelato em Direito na Universidade do Cairo, em 1961, e em 1964 efectuou um mestrado em Relações Internacionais na University of Southern California. Finalmente, em 1970, obteve o grau de doutor em Ciência Política na Universidade de Londres.

A sua obra abrange a poesia, o romance e o ensaio e publicou dezenas de livros ao longo da sua vida, alguns dos quais se encontram traduzidos em línguas estrangeiras. Muitos dos seus poemas (era considerado o maior poeta saudita vivo) figuram em várias antologias poéticas editadas em francês e inglês. Sendo um homem simples e de ideias relativamente liberais, mas estando integrado na nomenclatura saudita (pertencia a uma das mais influentes famílias do Reino), pôde exercer cargos da mais alta responsabilidade nos governos dos Guardiães das Duas Mesquitas Sagradas. Por ironia do destino, alguns dos seus livros foram proibidos na Arábia Saudita pelos próprios governos a que pertenceu, o que demonstra as contradições da época e  dos países em que vivemos.

Duas semanas antes da sua morte, vítima de doença prolongada, o ministro saudita da Cultura e Informação, Abdul Aziz Khoja, anunciou o fim da proibição dos seus livros que ainda estavam interditos, declarando ser insustentável que eles não pudessem figurar nas bibliotecas do Reino.

Sendo um homem de cultura, que procurava fazer a ponte entre o rigorismo clerical wahhbita e as correntes de ideias mais modernas e arejadas que já começam a exprimir-se na Arábia Saudita (era confidente do rei Abdullah), o seu desaparecimento constitui indubitavelmente uma perda para todos quantos anseiam pela evolução da mentalidade no país.

domingo, 15 de agosto de 2010

O ESCRITOR FANTASMA



Está em exibição nos cinemas de Lisboa, há várias semanas, o filme The Ghost Writer (O Escritor-Fantasma), de Roman Polanski. Trata-se de uma película corajosa, baseada no romance de Robert Harris The Ghost (2007), e cujo tema são as relações perigosas de um ex-primeiro-ministro britânico com a administração norte-americana e a CIA. No caso concreto, trata-se evidentemente de Tony Blair, que aparece no filme com o nome de Adam Lang e do seu envolvimento nos crimes de guerra praticados por americanos e ingleses no Médio Oriente. Consiste a tese do filme em demonstrar que Blair, cujo casamento lhe proporcionou uma carreira política "brilhante" até à chefia do governo, sendo embora um líder de plástico, como alguns lhe chamaram, foi sempre um instrumento político da mulher, desde os tempos da universidade. Cherie, que no filme aparece com o nome de Ruth, além de lhe ser infiel, é membro da CIA, de que também são agentes prestigiados professores universitários ingleses hoje a residir nos Estados Unidos, todos aliados à indústria de armamento. É esta quadrilha que desencadeia a guerra no Afeganistão e principalmente no Iraque, contra a qual - e isto agora já não é ficcção mas verdade - a maioria do povo britânico se opôs e cuja vontade Blair, sempre ao serviço da América, ignorou. As democracias têm muitas vezes problemas desta natureza. A denúncia dos crimes de guerra de Blair é feita por um seu antigo ex-ministro, na película Richard Rycart, mas que pretende incarnar Robin Cook, o ministro dos Estrangeiros de Blair que se demitiu por causa da invasão do Iraque e que morreu subitamente pouco tempo depois. O Tribunal Internacional da Haia inicia um processo contra Blair que acaba por ser assassinado quando o seu avião particular aterra no aeroporto perto da villa secreta que agora habita nos Estados Unidos. O escritor-fantasma é um nègre, como lhe chamam os franceses, encarregado de prosseguir a redacção das memórias de Blair, em substituição do primeiro "fantasma" que foi assassinado. Este segundo escritor-fantasma será também assassinado no fim do filme, porque descobre a trama sanguinária, o que evidencia que os detentores do poder financeiro norte-americano não se importam de matar qualquer pessoa ou de destruir qualquer país desde que tal seja necessário aos seus interesses.

Este filme, para além de uma notável realização (é do melhor Polanski), tem o mérito de denunciar o que grande parte das pessoas já sabe. Os interesses financeiros norte-americanos (neste caso as indústrias de armamento) não olham a meios para atingir os seus fins. E de mostrar também que George W. Bush e Tony Blair são, até ao momento, os dois grandes criminosos de guerra do século XXI.

sábado, 14 de agosto de 2010

SALIM KECHIOUCHE


Publicou ontem Eduardo Pitta, no seu blogue "Da Literatura", um post com o título "Até vós, ó magrebinos!", sobre um filme estreado em França há cerca de três meses (e também na Alemanha e nos Estados Unidos). Trata-se de Le Fil (The String, na designação inglesa), realizado pelo tunisino Mehdi Ben Attia, em 2009, rodado na Tunísia e que tem a particularidade de abordar um tema gay. O filme é interpretado pelo francês de origem indiana Antonin Stahly-Vishwanadan, pelo francês de origem marroquina Salim Kechiouche e por Claudia Cardinale, a grande estrela do cinema italiano, que se notabilizou em filmes famosos como Rocco e os seus Irmãos e O Leopardo. Presumo que a admiração de Eduardo Pitta provenha do facto da película ter sido realizada por um tunisino, passada na Tunísia e de um dos actores, Salim, francês filho de marroquinos, ser um ícone gay beur em França. Mas é um facto que não se trata do primeiro filme de temática homossexual realizado por um tunisino e passado na Tunísia. Este país, embora muçulmano, sempre foi de grande abertura em questões de sexo, e só muito recentemente, com o incremento do islamismo no mundo árabe, se tornou mais reticente nessas matérias.


Acontece que Salim Kechiouche, natural da banlieue de Lyon, que hoje tem 30 anos, começou aos 15 a participar em filmes e depois também em peças de teatro e em séries televisivas e a dedicar-se igualmente ao boxe, que foi uma das suas paixões. Distinguiu-se no teatro em 2003 na peça Vie et Mort de Pier Paolo Pasolini (existe gravação em dvd) e fazendo parte dos conhecimentos do meu amigo Christian Giudicelli, autor de vasta e premiada obra, aceitou interpretar em Paris a sua peça Karamel (já representada em Portugal), projecto só não concretizado pela desistência do produtor inicialmente previsto.

A edição de Le Fil em dvd está prevista para Outubro.


Adenda - Ver novo post sobre Salim Kechiouche em 09/12/2010

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

HITLER E A BAVIERA


No nosso post de 26 de Julho procurámos estabelecer um certo paralelismo entre duas figuras que se distinguiram na Baviera: Ludwig II e Adolf Hitler. No post de ontem discorremos sobre o rei; hoje, faremos algumas considerações sobre a ligação de Adolf Hitler à Baviera.

Nasceu Hitler em 20 de Abril de 1889, em Braunau am Inn, cidade austríaca situada na fronteira com o Reino da Baviera, então integrado no Império Alemão (Segundo Reich). Esta cidade, inicialmente bávara, passara várias vezes ao longo da história para a posse do Império Austro-Húngaro, regressando depois à soberania da Baviera. Em 1889 pertencia à Áustria. Quando Adolf tinha três anos a família Hitler mudou-se para Passau, na Baviera, onde a criança passou a falar o dialecto bávaro, em vez do austríaco tradicional. Em 1894, a família voltou a mudar-se, regressando à Áustria, primeiro a Linz e depois a Lambach. A partir de 1905, Hitler está em Viena; e em 1913, chega a Munique.

É na capital da Baviera - depois das desilusões com a Academia de Belas Artes de Viena, que por duas vezes recusou o seu ingresso - que Hitler começa a desenvolver a sua actividade política. É neste reino - nessa data a Baviera ainda era uma monarquia - que Hitler se sente acarinhado e "compreendido". Quando a Alemanha entra na Primeira Guerra Mundial, em 1914, Hitler pede ao rei Ludwig III para ingressar no exército alemão, requerimento que é aceite. Serve na França e na Bélgica e termina a guerra como cabo. Por actos de bravura, recebe a Cruz de Ferro de segunda classe em 1914 e a Cruz de Ferro de primeira classe em 1918.

Não se pretende traçar aqui, como é óbvio, uma biografia de Hitler, sobre quem têm sido escritas milhares, senão mesmo milhões, de páginas. Mas tão só assinalar a sua relação afectiva à Baviera e em especial a Munique, e alguns aspectos da sua vida que, em contexto diferente, fazem lembrar a de Ludwig II.

Admirador fervoroso da Alemanha, de que só em 1932 se torna cidadão, inconformado com a capitulação de 1918 e com as condições impostas pelo Tratado de Versailles, Hitler sente-se investido da missão divina de "salvar a Alemanha", convicção que teria adquirido durante um período de cegueira temporária em Outubro de 1918, em consequência de um ataque de gás mostarda.  Regressado a Munique, ingressa em 1919 no Partido dos Trabalhadores Alemães (DAP), a convite de Anton Drexler, seu fundador. O Partido, em oposição à chamada República de Weimar, advoga um governo forte, nacionalista, anti-semita, anti-capitalista e anti-marxista. Hitler conhece nesta altura Dietrich Eckart, outro dos fundadores do DAP e membro da Sociedade Thule, uma organização ocultista sediada em Munique cujos membros crêem na vinda de um Messias Germânico que redimirá a Alemanha da sua derrota. Eckart torna-se o mentor espiritual de Hitler e o Partido passa a denominar-se Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei - NSDAP).


Hitler, a quem são reconhecidos especiais dotes oratórios, começa a realizar comícios em Munique, a que assistem milhares de pessoas. Munique é assim o berço do nacionalismo alemão. No regresso de uma visita a Berlim para expandir o Partido e difundir as suas ideias, Hitler é confrontado com uma revolta interna da liderança do NSDAP, que o considera arrogante, e apresenta por isso a sua demissão. Há um momento de hesitação dos militantes, pois a perda de Hitler significaria o fim do Partido; contudo, este só aceita regressar com plenos poderes e substituindo na chefia o próprio Drexler.  Uma votação dos membros do Partido satisfaz-lhe a vontade por unanimidade (apenas um voto contra) e em 29 de Julho de 1921 é apresentado como Führer do NSDAP. É a primeira vez que é designado com este título.

Munique é terreno fecundo para as ideias de Hitler. Desde muito cedo se juntam a ele Rudolf Hess, o antigo piloto Hermann Göring e o capitão do exército Ernst Röhm, que se tornará o chefe da organização paramilitar Sturmabteilung (SA), as tropas de assalto, destinada a proteger os comícios do Partido e a atacar os opositores. A propaganda hitleriana começa a interessar os meios económicos e financeiros da Baviera e permitem a Hitler associar-se a uma figura preponderante do exército alemão, o general Erich Ludendorff que viria a ser candidato do Partido à presidência da República em 1925, contra o marechal Paul von Hindenburg, que ganharia a eleição.

Hofbräuhaus (Vista actual)
Hofbräuhaus (Vista actual)
Hofbräuhaus (Vista actual)
Hofbräuhaus (Vista actual)

Muitos dos comícios do Partido Nazi em Munique efectuaram-se inicialmente em cervejarias, especialmente na Hofbräuhaus, onde Hitler proclamou em 24 de Fevereiro de 1920 as 25 teses do NSDAP que substituíra o DAP. Encorajado pelos apoios recebidos, incluindo o exército, a polícia e, clandestinamente, o próprio ex-primeiro ministro da Baviera Gustav von Kahr, e tentando imitar a Marcha sobre Roma, de Mussolini, Hitler tenta um golpe de estado, que ficou conhecido por Putsch da Cervejaria ou Putsch de Munique. Em 8 de Novembro de 1923, interrompe um comício de Kahr na Bürgerbräukeller, uma grande cervejaria demolida nos anos 70 que ficava situada na Roseinheimerstrasse, por trás do actual Centro Cultural Gasteig e anuncia ter formado um novo governo com o general Ludendorf. Exige o apoio de apoio de Kahr para iniciar a marcha sobre Berlim mas este retira-se da intentona. 

Bürgerbräukeller (Foto da época)

Apesar disso, no dia seguinte, Hitler, acompanhado de 2.000 pessoas inicia uma marcha da cervejaria para o Ministério da Guerra da Baviera, mas o cortejo é detido pela polícia no exterior do Feldherrnhalle. Quatro polícias e 16 membros do NSDAP são abatidos. Hitler foge mas acaba por ser preso. Alfred Rosenberg torna-se líder temporário do Partido. Durante o julgamento, Hitler utiliza o tempo concedido para a defesa para expor as suas ideias, transformando numa figura nacional o que era até então uma figura política de Munique. 

Feldherrnhalle (Vista actual)
Feldherrnhalle (Vista actual)
Condenado em 1 de Abril de 1924 a cinco anos de prisão, recolhe à Cadeia de Landsberg, onde recebe um tratamento de favor. É perdoado e libertado em 20 de Dezembro de 1924 por ordem do Supremo Tribunal da Baviera, estando assim detido apenas um ano e alguns dias. Durante o tempo de prisão dita ao seu lugar-tenente Rudolf Hess a maior parte do primeiro volume de Mein Kampf (A Minha Luta), livro autobiográfico e doutrinário que é publicado em dois volumes em 1925 e 1926


Outras cervejarias se notabilizaram em Munique como locais de reunião de militantes nazis. É o caso da Torbräu, situada na Im Tal, 21, junto à Isartor. Aqui, em Maio de 1923, 22 homens juraram obediência ao seu chefe até à morte. Foi o nascimento das Strosstrupp Hitler, que viriam a dar origem às SS. chefiadas por Himmler. 

Torbräu (Vista actual)

Depois da sua libertação, Hitler convence o primeiro-ministro da Baviera Heinrich Held a levantar a interdição que caíra sobre o NSDAP depois do falhado putsch de Munique, garantindo-lhe que o Partido daí em diante só utilizaria meios legais para alcançar o poder. Essa autorização foi concedida em 16 de Fevereiro de 1925. Reorganizado o Partido e vencidas algumas vicissitudes, Hitler passou a utilizar os mecanismos da República de Weimar para destruí-la. A oportunidade chegou com a Grande Depressão de 1930 e o desmembramento da Grande Coligação que governava o país. O Partido Nazi obtém em 1930, 18,3 % dos votos para o Reichstag; em Março de 1933 obterá 43,9 %. Hitler havia sido nomeado Chanceler em 30 de Janeiro e em 27 de Fevereiro ardera o Reichstag, o que deu pretexto para o Governo proibir o Partido Comunista e suspender os direitos fundamentais. Em 14 de Julho o Partido Nazi foi declarado o único partido legal na Alemanha. Entre 30 de Junho e 2 de Julho de 1934, ocorre a grande purga nas SA, os camisas castanhas de Ernst Röhm, cuja ambição de independência começava a incomodar Hitler, e que ficou conhecida por Noite das Facas Longas. As SA, pelas arruaças que provocavam, também incomodavam as Forças Armadas, formadas no espírito da velha Prússia. Além disso, sendo Röhm um notório homossexual e estando as SA recheadas de homens e rapazes que não escondiam as suas preferências sexuais, tais comportamentos contrariavam os princípios defendidos pelos nazis. O próprio Röhm foi preso num hotel dos arredores de Munique e, tendo recusado suicidar-se "com honra", foi morto por elementos das SS. Esta purga, em que foram assassinadas centenas de pessoas por membros das SS e da Gestapo, está bem ilustrada no filme de Visconti La caduta degli dei (1969), também conhecido por The Damned ou Os Malditos.





Em 2 de Agosto de 1934 morreu o marechal Hindenburg. Ignorando a Constituição, o governo de Hitler declarou vaga a presidência e transferiu para o chanceler os poderes de chefe do Estado. Hitler tornou-se assim Führer e Reichkanzler e, por extensão, comandante supremo das Forças Armadas. Estava removido o último obstáculo para que Hitler obtivesse o poder absoluto na Alemanha.

Foram três as casas que Hitler habitou em Munique e que ainda hoje existem.  A primeira na Schleissheimerstrasse, 34 - 3º andar, quando chegou a Munique, e que partilhou com o alfaiate Joseph Popp. Aí permaneceu de 26 de Maio de 1913 até ingressar como voluntário no exército em Agosto de 1914. Quando regressou a Munique, depois da Primeira Guerra Mundial, habitou na Thierschstrasse, 41 - 1º andar, de 1 de Maio de 1920 a 5 de Outubro de 1929. Mudou-se depois para a Prinzregentenplatz, 16 - 2º andar, um luxuoso apartamento onde se suicidou a sua sobrinha Geli Raubal, e que foi a residência privada de Hitler em Munique até à sua morte. O edifício é hoje um departamento da Polícia.

Schleissheimerstrasse, 34 (Foto da época)
Thierschstrasse, 41 (Foto da época)
Prinzregentenplatz, 16 (Vista actual)
Prinzregentenplatz, 16 (Vista actual)
Prinzregentenplatz, 16 (Vista actual)

São conhecidos os desenvolvimentos do Terceiro Reich: a doutrina do Lebensraum (Espaço vital), a invasão da Checoslováquia e da Polónia, a Segunda Guerra Mundial, as perseguições a judeus, ciganos, homossexuais, opositores políticos, artistas e escritores não conformes com a ideologia nazi, etc. Estima-se que morreram neste período 16 milhões de civis. A Alemanha seria derrotada e parcialmente destruída e a nomenclatura nazi julgada, e condenada, em Nuremberga. Hitler, segundo a maioria dos testemunhos, suicidou-se, no bunker de Berlim, em 30 de Abril de 1945.


A espantosa ascensão de Hitler ao poder, que Brecht glosou na sua peça Der aufhaltsame Aufstieg des Arturo Ui (1941), em português A Resístivel Ascensão de Arturo Ui, constitui ainda hoje um enigma, apesar das muitas tentativas de explicação para o fascínio que o nazismo exerceu não só na Alemanha mas em muitos outros países, incluindo a própria França durante a Ocupação. Notáveis intelectuais e artistas apoiaram o nazismo, ideologia que ainda hoje, mais de meio século decorrido sobre a queda do Terceiro Reich, congrega adeptos um pouco por todo o mundo. Teria o nazismo triunfado na Alemanha sem Hitler, apenas pelo poder das ideias, ou foi necessário que um homem com a personalidade de Hitler o encarnasse?  Deve-se esse triunfo ao magnetismo pessoal de que Hitler era dotado ou à ocorrência de um conjunto extraordinário de circunstâncias verificado na Alemanha pós-Primeira Guerra Mundial?  Um cineasta alemão que também se debruçou sobre Ludwig II, Hans- Jürgen Syberberg, realizou em 1978 um filme de quase oito horas de duração, Hitler, Ein Film aus Deutschland (Hitler, um Filme da Alemanha), em que procura senão uma resposta, pelo menos uma interpretação para a recepção do nazismo na Alemanha. O filme foi projectado no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian em 15 de Março de 1980.




Programa autografado por Syberberg

É um facto que Hitler alcançou democraticamente o poder através de eleições livres, embora depois se tivesse apoderado, sem resistência aparente, de todos os poderes do Estado. E também é verdade que gozou, praticamente até à Queda Final, do apoio dos seus compatriotas, não só dos bávaros que tinham contribuído decisivamente para a sua ascensão mas da maioria dos alemães. As tentativas para o derrubar ou matar foram actos mais ou menos isolados e nunca houve um movimento generalizado de contestação à sua figura e à sua política em todo o Reich, para o que terá concorrido, é certo, a existência de duas organizações poderosas e omnipresentes, as SS (Schutzstaffel), forças do esquadrão de protecção, dirigidas por Heinrich Himmler e a Gestapo (Geheime Staatspolizei), a polícia secreta dirigida primeiro por Hermann Göring e depois por Heinrich Himmler. A adesão a Hitler dos alemães (ou dos austríacos, que o receberam de braços abertos aquando do Anschluss, a anexação da Áustria ao Reich em 1938) é um mistério que permanece realmente por explicar, atendendo a que o povo germânico é considerado justamente um dos mais cultos e instruídos da Europa, tendo fornecido ao mundo uma plêiade de homens como Dürer, Grünewald, Goethe, Bach, Mozart, Beethoven, Freud, Thomas Mann, Einstein, e não continuamos porque a lista é infindável. Convém referir, para evitar simplificações, que Hitler não era propriamente um tonto, como por vezes alguns filmes deixam entrever, ao caricaturarem a sua figura. No entanto, na fase final da vida, as suas faculdades afiguram-se realmente diminuídas, tendo em conta as decisões que tomou. Sob o seu governo a Alemanha conheceu um progressivo desenvolvimento económico e social (os grandes industriais apoiaram-no), que só declinou a partir do início das aventuras militares. O mesmo não se poderá dizer da cultura, cujo entendimento para os nazis a limitava às obras e aos autores que se inseriam no cânone nacional-socialista. A questão racial e a consideração de povos inferiores (os untermenschen), pilares em que assentava a ideologia nacional-socialista, foram causas do triunfo do Terceiro Reich e também da sua destruição.

Kehlsteinhaus

A Alemanha de hoje é, naturalmente, muito diferente da Alemanha nazi, mas na Baviera um olfacto apurado detecta um perfume nostálgico de tempos passados, em que Munique foi a capital de Ludwig II e onde Adolf Hitler iniciou o seu caminho para o poder. Aliás, a Baviera sempre acarinhou o Führer. Ainda hoje, as excursões proporcionadas pelos operadores turísticos de Munique têm dois destinos principais: os castelos de Ludwig, obviamente, e os locais do Terceiro Reich e da Resistência (na prática os locais onde se desenvolveu o Nazismo) e também Berchtesgaden (em cuja montanha, o Berghof, se situava a residência que Martin Bormann ofereceu a Hitler em nome do Partido Nazi em 1939, aquando do 50º aniversário deste, a Kehlsteinhaus, também chamada o Ninho da Águia e que era uma extensão do complexo nazi de Obersalzberg). Outros locais da Baviera favoritos de Hitler foram Nuremberga, cidade de grande importância no Santo Império Romano-Germânico e que os nazis escolheram para a realização dos seus congressos, e Bayreuth, onde Ludwig mandara edificar o Festspielhaus para a representação das óperas de Wagner e que Hitler frequentava assiduamente, como admirador incondicional do compositor.





Praça das Vítimas do Nacional-Socialismo

Recorde-se que a grande cineasta Leni Riefenstahl filmou em 1934 o congresso do Partido em Nuremberga, obra conhecida como Triumph des Willens (O Triunfo da Vontade) e que é considerada como o mais notável filme de propaganda realizado até hoje. Em Bayreuth, além de assistir aos espectáculos, Hitler visitava frequentemente a família Wagner, nomeadamente a viúva Cosima, o filho Siegfried e a nora Winifred.



Retomando as semelhanças já enunciadas no post de 26 de Julho, podemos concluir que tanto Ludwig II como Adolfo Hitler apreciavam a Baviera e eram apreciados pelos bávaros, que ambos sonhavam com o poder absoluto (que só um deles conquistou), que ambos tinham pretensões artísticas (Ludwig desenhava castelos, Hitler pintava e planeava cidades e monumentos), que ambos eram apaixonados pelas óperas de Wagner, que consideravam o expoente máximo da música, que ambos eram homossexuais (Ludwig, sem dúvida, Hitler presumivelmente, de acordo com o documentadíssimo livro de Lothar Machtan já referido, apesar do inconsequente episódio Eva Braun), que ambos evidenciaram sinais de demência com o passar dos anos, que ambos se suicidaram (ou foram assassinados), o que nunca se chegará indiscutivelmente a provar.


Como curiosidade, e para finalizar, note-se que Hitler, que era vegetariano, exigia normalmente que as suas saladas contivessem rúcula. Sendo também abstémio, e embora na sua juventude tivesse bebido cerveja como todos os bávaros, nas raras vezes em que, adulto, infringia as suas próprias regras era para beber vinho branco Riesling.


(Clique nas fotos para ver melhor)